Fábrica ‘secreta’ produzirá combustível para foguete

Combustível para Soyuz ТМА-14 também vem sendo substituído por produção interna

Combustível para Soyuz ТМА-14 também vem sendo substituído por produção interna

Ramil Sitdikov/RIA Nôvosti
Embargo serviu de estímulo para produção interna de hidrazina, combustível antes fornecido por parceiros estrangeiros. Inclusão no rol de sanções se deve a uso de substância em programas militares.

A Rússia irá retomar a produção de hidrazina, um combustível para foguetes e naves espaciais, em uma nova unidade de produção na região de Nijni Novgorod, a 400 km a leste de Moscou. A construção foi mantida em segredo até sua conclusão, no final de fevereiro, por uma subsidiária da agência espacial russa Roscosmos.

Os fornecimentos de hidrazina para Rússia estão sujeitos ao embargo da União Europeia, já que esse tipo de combustível é também usado para fins militares.

Embora de fácil produção, esse combustível é altamente tóxico e pertence à categoria das substâncias mais perigosas. Sua neutralização é cara, e a produção de alta eficiência deve obedecer normas muito rigorosas.

“Por isso, era mais barato e mais fácil importar a hidrazina”, diz Ivan Moiseiev, chefe de pesquisa do Instituto de Política Espacial.

A capacidade estimada da nova instalação é de 15 toneladas por ano, segundo a assessoria de imprensa da empresa. O investimento total e a localização precisa das instalações não foram divulgados.

O maquinário está passando por testes finais, e espera-se que a fábrica esteja em pleno funcionamento até o final do ano.

Outra instalação está sendo construída na República da Bachkíria, a mais de 1000 km de Moscou, onde está localizada a fábrica Gazprom Neftekhim Salavat.

Sanção sem volta

Antes de 1993, a hidrazina era produzida internamente na região siberiana de Novosibirsk. Desde então, o país passou a comprar o combustível de fornecedores estrangeiros, sobretudo empresa Kaiser Threde, da Alemanha.

Com a intensificação das tensões internacionais em 2014, em torno do conflito ucraniano, os fornecimentos de hidrazina europeus à Rússia foram interrompidos.

A Roscosmos chegou a anunciar que a medida poderia afetar os lançamentos dos foguetes Proton-M e do novo míssil balístico intercontinental Sarmat.

O embargo, porém, não durou muito tempo. Em outubro passado, a União Europeia permitiu o fornecimento de hidrazina e seus derivados à Rússia, desde que o combustível fosse usado para abastecer naves espaciais europeias e em programas conjuntos com a Agência Espacial Europeia, como o ExoMars.

O que é a hidrazina?

“A hidrazina é uma substância orgânica muito simples constituída por duas moléculas de nitrogênio e quatro moléculas de hidrogênio”, explica Moiseiev.

“O que é usado na indústria de foguete é um derivado seu, em que uma molécula de hidrogênio é substituída por um composto mais complexo. Isso permite obter mais hidrogênio, e o combustível torna-se mais eficiente”, diz o pesquisador.

A hidrazina é usada por foguetes de estágio superior. Os veículos modernos são primeiramente levados para uma órbita baixa, após a qual recebem um reforço para levá-los a uma órbita alvo mais elevada.

“Quanto mais pesado o combustível, mais caro é o voo. Ao melhorar a eficiência de combustível, como é o caso dos derivados de hidrazina, é possível alcançar una redução substancial de custos”, acrescenta Moiseiev.

Boom para produtores domésticos

A Rússia pretende retomar a produção de outros tipos de combustíveis que também foram afetados por sanções.

A fábrica de produtos químicos Salavat planeja reiniciar até 2018 a produção de naftaleno, que, entre outros fins, é usado como combustível para aviões de combate T-4.

Segundo relatório anual da empresa, a demanda por naftaleno na indústria nacional de espaço e foguetes deverá subir para 5.000 toneladas por ano até 2020.

No final do ano passado, a empresa Sintez, também na região de Nijni Novgorod, lançou a produção de outro combustível, peróxido de hidrogênio, cuja compra também está proibida pela Roscosmos devido às sanções. Essa substância é usada em foguetes transportadores Soyuz e pela indústria da defesa.

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