Sob Trump, China pode substituir Rússia como ‘principal ameaça’

Comércio bilateral EUA-China chegou a US$ 560 bilhões em 2015

Comércio bilateral EUA-China chegou a US$ 560 bilhões em 2015

Reuters
Espinha dorsal da campanha do futuro presidente dos EUA, Donaldo Trump, protecionismo econômico poderá atravancar relações com Pequim. Paralelamente, declarações positivas em relação ao governo Pútin dão nova esperança a Moscou.

A eleição de Donald Trump como o próximo presidente dos Estados Unidos trará mudanças nas relações internacionais do país, e o deslocamento do confronto global para a esfera econômica tornará novos atritos entre Washington e Pequim inevitáveis.

Trump, que vê proteção do mercado americano como um dos pilares para defender os interesses nacionais, pretende introduzir medidas protecionistas contra a China, o que pode causar um sério golpe à economia do país e conferir à Rússia não só uma nova chance de suspender as sanções, mas também restaurar as relações com o Ocidente.

Embora ainda faltem dois meses até que Trump assuma o mandato, os mercados de capitais do mundo inteiro já começaram a se preparar para a chegada do novo líder americano.

O presidente russo, Vladímir Pútin, foi um dos primeiros líderes mundiais a felicitar Trump por sua vitória, e diversos oficiais em Moscou expressaram sua satisfação com a iminente mudança de poder em Washington.

Trump pós-campanha

Ao contrário do entusiasmo em Moscou, Pequim apresentou uma reação muito mais reservada. O porta-voz oficial do Ministério das Relações Exteriores chinês, Lu Kang, expressou a esperança de que a nova liderança norte-americana “tenha uma visão objetiva das relações comerciais e econômicas” entre os dois países.

A declaração de Kang foi dada, porém, a pedido de jornalistas que questionavam a posição de Pequim sobre algumas das declarações linha-dura de Trump durante sua campanha.

Acredita-se, na China, que os principais dividendos do comércio bilateral recairão sobre Pequim, em vez de Washington, já que o presidente recém-eleito dos EUA afirmou repetidas vezes que, caso fosse eleito, iria mudar o estado das relações para proteger ativamente os interesses das empresas norte-americanas.

“Se não fosse para o benefício de ambas as nações, teria sido impossível chegar ao nível atual de comércio. É por isso que a cooperação comercial e econômica entre a China e os EUA é mutuamente benéfica”, reiterou Kang, antes de acrescentar que, em 2015, o comércio bilateral havia atingido a marca dos US$ 560 bilhões.

Segundo o diplomata chinês, de sua parte, Pequim espera que Trump defina uma posição clara sobre alguns dos assuntos mais delicados nas relações bilaterais que dizem respeito à segurança, incluindo a implantação do sistema de defesa antimísseis THAAD na Coreia do Sul e as disputas territoriais no mar do Sul da China.

Pragmatismo acima de ideologia

Especialistas acreditam que a eleição de Trump abra uma perspectiva para a Rússia de não ser mais percebida nos Estados Unidos como seu principal inimigo em potencial.

“Na China, há preocupação de que, sob o governo de Donald Trump, as relações entre Washington e Pequim se deteriorarem, e essas preocupações são justificadas, embora tal cenário ainda não possa ser considerado definitivo”, sugere Aleksandr Lomanov, pesquisador-chefe do Instituto do Extremo Oriente da Academia Russa de Ciências.

Lomanov ressalta também que muitas contradições políticas se acumularam nas relações entre os dois países durante a presidência de Barack Obama, entre elas a situação no mar do Sul da China, a defesa de aliados asiáticos da “ameaça chinesa” e as crescentes tensões em torno de Hong Kong.

Segundo Maksim Sutchkov, do Conselho Russo de Relações Exteriores, Moscou tem expectativa de ver, sob a futura administração norte-americana, “um novo sistema de prioridades de segurança nacional em que a principal ameaça não será a Rússia”.

Opinião semelhante é ecoada por Vladímir Sôtnikov, que dirige o Centro Rússia-Oriente-Ocidente para Estudos Estratégicos e Análise.

“Vocês se lembram quem Barack Obama citou como os principais inimigos dos EUA? Rússia, Estado Islâmico e ebola”, diz Sôtnikov, acrescentando ser “improvável” que adira à mesma abordagem em relação ao Kremlin.

“Ele [Trump] se guia mais por pragmatismo do que ideologia; ele percebe que a Rússia não representa nenhuma ameaça aos interesses vitais dos Estados Unidos. Esses interesses vitais não residem no território da ex-União Soviética, na Ucrânia, mas em regiões completamente diferentes”, defende Sôtnikov.

“Isso significa que está se abrindo um caminho para estabelecer um diálogo com Moscou e para possíveis negociações geopolíticas com as quais o governo democrata na Casa Branca nunca teria concordado.”

Com o jornal russo Kommersant

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