Na contramão dos EUA, Rússia cortará verba para defesa

Soldados norte-americanos em missão no Afeganistão, em 2011

Soldados norte-americanos em missão no Afeganistão, em 2011

Reuters
Enquanto Washington pretende aumentar seu orçamento de defesa em US$ 54 bilhões, Moscou hesita em entrar em uma nova corrida armamentista.

O presidente dos EUA, Donald Trump, planeja aumentar os gastos com defesa em US$ 54 bilhões para modernizar o arsenal militar norte-americano, sobretudo as frotas de navios e aviões, além de fortalecer as principais rotas marítimas internacionais.

Para alcançar esse objetivo, o governo dos Estados Unidos está disposto a reduzir outros gastos federais, incluindo o corte do orçamento do Departamento de Estado em um terço, o que eliminaria certos programas e levaria a uma reestruturação.

Mais cedo, Washington havia solicitado aos demais membros da Otan que “pagassem as contas” e contribuíssem com o orçamento da aliança conforme as regras definidas (2% do PIB nacional). Segundo o secretário de Defesa dos EUA, James Mattis, caso isso não seja cumprido, o país irá “moderará seu compromisso” com o grupo.

A Rússia, que em breve implementará um novo programa de armamento para o período entre 2018 e 2025, planeja, porém, reduzir seu orçamento militar. A ideia é que o país injete no setor 3% de seu PIB, em vez dos 4% previstos originalmente.

Especialistas acreditam que o comportamento da Rússia é resultado de uma avaliação cautelosa da situação econômica do país, bem como a ausência de uma ameaça real à sua segurança nacional por parte dos EUA.

Guerra Fria 2.0

Durante a campanha eleitoral, Trump, a exemplo de outros candidatos republicanos, falou em favor do aumento das despesas e potencial militar dos Estados Unidos.

Sua decisão de aumentar o orçamento de 2018 era, portanto, “completamente esperada”, diz Serguêi Rogov, diretor científico do Instituto para Estudos dos EUA e Canadá, um grupo de reflexão pertencente à Academia Russa de Ciências.

“Os detalhes do programa serão revelados no início de março, quando Washington enviará ao Congresso sua proposta orçamentária. Hoje ainda está sendo decidido qual deve ser o foco – o fortalecimento da prontidão de combate militar ou a compra de novas tecnologias”, acrescenta.

Recentemente, oficiais das Forças Armadas dos EUA relataram que grande parte dos aviões e helicópteros do país precisa de “reparos sérios”.

“Trump dará, provavelmente, ênfase a sistemas de defesa antimíssil em Nova York, no Alasca e na Califórnia”, afirma Rogov, acrescentando que a iniciativa poderá gerar uma nova corrida armamentista “com efeitos negativos para a Rússia”.

O valor extra proposto por Trump, de US$ 54 bilhões, equivale hoje ao orçamento anual do Ministério da Defesa russo em construção naval, modernização do arsenal nuclear e construção de sistemas de defesa.

Ameaça contida

Segundo especialistas, mesmo que o Congresso americano aprove o aumento do orçamento militar, os EUA não representarão uma ameaça à segurança russa.

A preocupação de Moscou só faria sentido caso o aumento resultasse na criação de novas bases da Otan ou instalação de sistemas de ataque perto das fronteiras russas.

“Atualmente, a Rússia não pode se dar ao luxo de uma nova corrida armamentista e não deve reagir ao aumento do orçamento militar dos Estados Unidos”, diz Aleksêi Arbatov, diretor do Centro de Segurança Internacional do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais.

“O dinheiro que destinamos à defesa ainda é suficiente, mas não planejamos implantar novas bases em nossas fronteiras e já damos conta das nossas necessidades militares, até mais do que o necessário.”

Para Arbatov, a atual política russa só seria alterada no caso de uma guerra iminente. “E, graças a Deus, ainda estamos longe dessa possibilidade”, conclui.

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