Estado Islâmico representa ameaça ao país

Operações antiterroristasno Cáucaso se encerraram,mas ainda há insurgências.

Operações antiterroristasno Cáucaso se encerraram,mas ainda há insurgências.

Aleksey Filippov / RIA Nóvosti
Com imams idosos, regiões muçulmanas da Rússia tornam-se alvo de líderes espirituais mais carismáticos e radicalizados.

Na véspera dos atentados em Paris no mês passado, o EI (Estado Islâmico) publicou um vídeo em russo dizendo que “em breve, muito em breve” haveria “um mar de sangue”. Segundo analistas de defesa, o grupo representa uma ameaça real à Rússia, principalmente após a derrubada, ainda em 31 de outubro, de um avião comercial russo que levava turistas de Sharm-el-Sheikh, no Egito, para São Petersburgo. O ataque custou as vidas de 224 pessoas.

Os primeiros indícios divulgados pelos serviços de segurança do Reino Unido sugeriam que o EI era o responsável, e posteriormente o grupo terrorista publicou fotografias de uma bomba em uma lata de refrigerante que teria sido usada para destruir o avião.

Em 20 de novembro, outros seis cidadãos russos morreram quando terroristas ligados ao grupo atacaram um hotel em Mali.

Ameaça interna

Embora o EI tenha feito vítimas russas somente no exterior por enquanto, o país tem uma história turbulenta nas regiões internas predominantemente muçulmanas do sul.

“A penetração do grupo em nosso território por essas áreas é muito possível”, diz o presidente da Associação Internacional dos Veteranos do esquadrão antiterrorista Alpha, Serguêi Gontcharov.

Os principais pontos fracos da Rússia estão no Cáucaso do Norte e nas fronteiras do sul com as ex-repúblicas soviéticas. Dentro do próprio país, há estimativas de que, dos 16,5 milhões de muçulmanos, o EI possa ter ganhado a simpatia de até meio milhão, de acordo com o pesquisador do Centro Carnegie de Moscou, Aleksêi Malachenko.

“Muitos desses se opõem ao uso do terrorismo pela organização, mas ainda a veem como uma espécie de democracia muçulmana que concede justiça social e igualdade”, explica Malachenko.

Tchetchênia na mira

As raízes da atual insatisfação no Cáucaso do Norte remontam ainda ao século 18, e os conflitos mais recentes chegaram a um pico com a Primeira Guerra da Tchetchênia (1994-1996), após a região declarar independência da Rússia em 1991. Um cessar-fogo durou até 1999, quando se iniciou a Segunda Guerra da Tchetchênia.

Em 2009, a Rússia encerrou oficialmente suas operações antiterroristas na região, embora certa insurgência tenha persistido, sobretudo nas repúblicas da Tchetchênia, da Inguchétia e do Daguestão.

Com diversos ataques terroristas realizados na Rússia a partir dos anos 2000 e atribuídos a radicais do Cáucaso do Norte, analistas passaram a relacioná-los, nesta nova fase extremista, com o EI.

“O grupo proclamou estar pronto a liderar um levante na Tchetchênia e ‘libertá-la’ da Rússia - e, portanto, de [seu presidente Ramzan] Kadirov. Eles ofereceram 5 milhões de dólares pela cabeça de Kadirov”, diz Malachenko.

Mesquitas dominadas

Na reunião do Comitê Nacional Antiterrorista em outubro deste ano, o diretor do FSB (Serviço Federal de Segurança), Aleksandr Bortnikov, afirmou que a inteligência evitou pelo menos 20 ataques terroristas em 2015.

Observadores acreditam que os esforços do órgão devam passar à localização de células terroristas e de centros de recrutamento, que se expandem para além do que se imaginava inicialmente.

“Os islamistas ‘salafitas’ ou ‘wahhabitas’ estão explorando cada vez mais as fraquezas do Islã comum na Rússia, onde 75% dos imams têm mais de 70 anos de idade e estão por fora do mundo moderno. Clérigos jovens mais radicais e carismáticos, muitos formados em universidades do Oriente Médio, estão agora manobrando para dominar essas mesquitas”, diz Malachenko.

Designer: Aliona RépkinaDesigner: Aliona Répkina

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