Presidente sírio ignora pedidos de Moscou por esforços diplomáticos

Especialista compara líder sírio a "cachorro correndo atrás do próprio rabo"

Especialista compara líder sírio a "cachorro correndo atrás do próprio rabo"

Reuters
Assad anunciou que irá lutar "até a vitória" e rejeitou proposta de cessar-fogo de grandes potências acertada em Genebra com participação de Moscou.

Bashar al-Assad afirmou, na segunda-feira (15), que "faltam condições" para que o regime implemente o cessar-fogo proposto pelas grandes potências - entre elas a Rússia -, reunidas em Genebra.

"Eles dizem que querem iniciar o cessar-fogo em uma semana. Quem consegue realizar as condições e exigências necessárias para tanto? Ninguém", disse.

Assim, Assad sinalizou ser irreal a iniciativa do Grupo Internacional de Apoio à Síria (ver box abaixo). Os membros do grupo, entre eles, Moscou e Washington, se encontraram na semana passada em Munique para discutir a possibilidade de um cessar-fogo.

Em entrevista polêmica à agência AFP, porém, Assad afirmou que é preciso lutar até a vitória. Depois, em uma transmissão televisiva, convidou os espectadores a se guiarem pela atual Constituição da Síria, dando a entender que discorda de acordos que tragam alterações à mesma.  

Posições divergentes

Com as últimas declarações do presidente sírio, as posições de Moscou e Damasco passaram a apresentar visíveis divergências em questões-chaves para a resolução do conflito sírio.

Enquanto Moscou continua a clamar pela resolução política, no âmbito do processo de paz de Genebra, Damasco prefere manter o uso da força.

Segundo especialistas, a atitude de Assad pode não apenas impedir a conversão da vitória militar síria em uma vitória política, como também ameaça agravar ainda mais suas relações com o Ocidente e o mundo árabe.

"Pedindo, literalmente, um desmonte dos acordos de Genebra, Bashar al-Assad coloca a Rússia e o Irã em uma situação difícil. Chegou o momento da verdade na resolução síria, quando atores externos devem fazer pressão nos participantes locais do conflito", diz o diretor do Conselho Russo para Assuntos Internacionais, Andrêi Kortunov.

Segundo ele, as forças armadas sírias hoje não teriam capacidade nem de vencer a guerra, nem de manter as posições atuais.

"O presidente Assad passou a agir como um cachorro correndo atrás do próprio rabo. Ele tenta incutir em Moscou uma linha de pensamento segundo a qual nenhum possível sucessor seu poderá manter relações tão amigáveis com o país", diz o pesquisador do Centro Carnegie de Moscou, Aleksêi Malachenko.

Segundo ele, Assad considera que, enquanto estiver no poder, a Rússia manterá suas posições, situação que não poderá ser mantida sem ele.

De acordo com os especialistas, a situação é um exemplo de como, ao interferir em conflitos locais, as grandes potências tornam-se reféns de países menores.

"Como mostra a experiência soviética no Afeganistão e a americana no Vietnã, em tais operações é muito importante não perder de vista o processo político das relações. Não raro, acontece de as apostas das grandes potências serem tão altas que os países em jogo tentam especular", diz o pesquisador da Academia Russa de Ciências, Aleksêi Arbatov.

Grupo Internacional de Apoio à Síria

O Grupo Internacional de Apoio à Síria  (ISSG, na sigla em inglês) é composto por 21 membros, entre organizações e países: Liga Árabe, China, Egito, União Europeia, Francça, Alemanha, Irã, Iraque, Itália, Jordânia, Líbano, Organização de Cooperação Islâmica, Omã, Catar, Rússia, Arábia Saudita, Turquia, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Nações Unidas, Estados Unidos.

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