Goleiro siberiano persegue sonho em Santa Catarina

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‘Russo’ chegou sem contrato, no meio da temporada, e foi recebido pelo São Lourenço, onde recebe alojamento e desconto na lanchonete. Ele teve que vender as próprias roupas para prolongar estadia no Brasil.

O time catarinense São Lourenço Futsal tem um reforço incomum nesta temporada: um siberiano da cidadezinha de Ujur, quase 4.000 quilômetros a leste de Moscou.

"O Catata, do Gazprom, que ajudou a me colocar no São Lourenço, porque ele é de lá" , conta "Russo" à Gazeta Russa.

O goleiro Evguêni Dorofeev, 26, joga pelo time quase de graça: em troca, ganha apenas o alojamento e um desconto na lanchonete do clube.

Mas nem sempre foi assim. "Russo" passou sete anos de sua vida em uma escola militar na Sibéria, onde nasceu. Lá, acordava cedo, estudava, tocava barítono e trombone na banda militar e praticava a luta russa "sambo".

Tinha tudo para se tornar um oficial do Exército, como aconteceu com a maioria de seus amigos. Mas sua paixão era outra: o futebol, que treinava três vezes por semana na escola militar, cujo time integrava.

Para não ficar longe da bola, quando se formou no colegial, em 2007, ingressou na faculdade de educação física, aconselhado pelo treinador do time do Exército, e assim pôde se livrar do serviço militar.

"Mais da metade dos meus amigos ingressaram nas forças armadas depois disso, porque já estavam preparados para aquilo. Mas escolhi outra coisa. Eu sempre gostei de jogar bola ", diz.

O ensino superior ele também acabou deixando de lado quando foi convidado para integrar um time russo. Assim, em 2009, depois de passar por inúmeros clubes amadores, "Russo" ingressou no terceiro time do clube Lokomotiv de Krasnoiarsk.

"Mas aí o time acabou e não recebemos nada. Eu não sabia o que fazer. Fui procurar emprego até como garçom, mas depois de 40 minutos de trabalho, larguei tudo. Eu precisava escolher, mais uma vez ", diz, já com sotaque catarinense, que reveza com o paulista e o nordestino perfeitos para entreter o interlocutor.

Conexão

Foi em Tiumen, cidade rica em petróleo no coração da Sibéria, que nasceram os laços mais fortes do jogador com o Brasil, a partir de 2010, quando fez parte do time principal e atuou com diversos jogadores brasileiros.

Em 2012, porém, quando seus contratos com o time acabaram, foi jogar em São Petersburgo, mas não se sentia satisfeito. Então resolveu entrar no Facebook e acionar todos seus conhecidos para ajudar na nova empreitada.

"Foi a jogadora Rafa Pato, que integrava o time feminino do Tiumen, que mais ajudou na minha primeira vinda ao Brasil. Ela é de Guarapuava, e conversou com a família para me receber e com o pai para me ajudar a entrar no time local. Aí eu pedi demissão do Politekh, onde estava, e em março de 2013 aterrissei pela primeira vez em Guarulhos."

Ele passou quatro meses no Brasil, mas retornou à Rússia, onde foi convidado a jogar em um dos maiores times locais, o Gazprom.

"É um time top. Joguei com Neto, Marcinho, Catata, tinha contrato, salário, mandava dinheiro para minha mãe. Mas depois de um mês já estava com saudades do Brasil, dos treinos, da comida... Comecei a guardar dinheiro para comprar uma passagem e voltar."

Depois de completar o contrato de um ano, "Russo" conseguiu voltar ao Brasil para jogar pelo Xaxinense, em Santa Catarina. Mas passou apenas seis meses por lá, devido a um problema com o visto, e foi obrigado a retornar para a Rússia, onde fechou novo contrato com o Tiumen.

Quando o contrato venceu, porém, em junho deste ano, não pensou duas vezes: visitou a mãe por alguns dias e retornou ao Brasil, no meio da temporada, mesmo sem assinar com ninguém.

"Não está fácil. Fiz 26 anos no mês passado e não pude nem comprar um bolo. As coisas que trouxe comigo, não queria vendê-las, mas tive que me desfazer para poder comer. Meu sonho é mais caro que uma jaqueta ou óculos", diz, em um misto de melancolia e agradecimento.

 
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