Exercícios militares na Crimeia geram especulação

Soldado russo durante exercícios no centro de treinamento de Opuk, na Crimeia

Soldado russo durante exercícios no centro de treinamento de Opuk, na Crimeia

Ígor Rudenko/RIA Nôvosti
Um grupo das Tropas Aerotransportadas russas chegou à península crimeana para participar de exercícios militares. Segundo especialistas, a escala da atual manobra sugere que seu objetivo é repelir uma possível invasão que só poderia ser conduzida pelas forças da Otan com a participação de uma potência regional como a Turquia.

Na última terça-feira (21), a força-tarefa da Divisão de Montanha de Novorossisk – equipada com armas e equipamento militar – chegou à área de treinamento de Opuk, na Crimeia, como parte de um exercício das Tropas Aerotransportadas da Rússia.

A informação foi revelada aos jornalistas pelo comandante-chefe das tropas, coronel-general Andrêi Serdiukov, que é responsável pela supervisão das manobras.

No total, 350 paraquedistas e 9 veículos de combate de infantaria aérea BMD-2KU participam do chamado “ensaio prático para operações de combate”. Segundo Serdiukov, nas próximas etapas do exercício, os envolvidos irão simular uma ofensiva durante aterrissagem nas margens e no interior da península.

Ainda durante as operações, as tropas farão uma simulação de combate contra terroristas e forças regulares de um “inimigo imaginário”.

Quem é o “inimigo imaginário”?

De acordo com o tenente-general Valéri Zaparenko, ex-vice-chefe da Diretoria de Operações do Estado-Maior General da Rússia, a ideia dos exercícios é se preparar para uma operação anfíbia ou combinada contra um suposto inimigo.

Na primeira operação é previsto o emprego de, no mínimo, uma divisão de fuzileiros navais (caso contrário, não pode ser classificada como uma operação), e, na segunda, haverá fuzileiros e uma divisão aerotransportada (ataque aéreo) do inimigo hipotético.

Manobras incluem de simulação de combate contra terroristas e “inimigo imaginário” (Foto: Ígor Rudenko/RIA Nôvosti)Manobras incluem de simulação de combate contra terroristas e “inimigo imaginário” (Foto: Ígor Rudenko/RIA Nôvosti)

Para o almirante Víktor Kravtchenko, ex-chefe do Estado Maior da Marinha russa, uma operação dessa escala está aquém das capacidades das Forças Armadas de Kiev pelos próximos 15 a 20 anos. “Os ucranianos não têm atualmente uma Marinha pronta para o combate nem as forças de ataque necessárias”, diz.

“A Geórgia também teria dificuldade de introduzir um pelotão reforçado a partir do mar, e nem todos os navios e veículos militares da Romênia e Bulgária juntos seriam suficientes para desembarcar na região um batalhão de infantaria naval”, completa.

Na opinião de Kravtchenko, apenas as forças armadas conjuntas da Otan no sul da Europa seriam capazes de realizar uma operação de aterrissagem anfíbia na Crimeia.

A Turquia é motivo de preocupação nesse aspecto, uma vez que Ancara não reconhece a reintegração da Crimeia à Rússia, sugere o militar.

A real intenção dos exercícios é motivo de especulação entre os especialistas. No entanto, se as unidades e as forças aerotransportadas estão sendo enviadas para a zona de exercício em resposta a um alerta de combate, bem como desembarcadas via área e por paraquedas, é possível que o suposto inimigo tenha organizado uma operação anfíbia surpresa e possa já ter desembarcado nas margens da Crimeia.

“O exercício pode ainda ser apenas um ensaio das ações planejadas pelas tropas para repelir um ataque inimigo a partir do mar”, acrescenta.

As operações em curso são os primeiros exercícios de grande escala para testar as defesas da Crimeia contra desembarque aéreo desde a URSS.

Reação da Ucrânia e da Otan

“Estamos acompanhando os exercícios e os departamentos autorizados a conduzir esse tipo de atividade. Fazemos isso porque as manobras estão ocorrendo em um território temporariamente ocupado pela Federação Russa, e um grande número de efetivos das Tropas Aerotransportadas das Forças Armadas russas estão sendo envolvidos”, disse Vladislav Selezniov, um oficial do departamento de relações públicas do Estado-Maior General ucraniano, ao site Krym.Realii.

Segundo Selezniov, a Ucrânia estaria pronta para retaliar no caso de uma eventual agressão em qualquer ponto da fronteira russo-ucraniana.

A Otan também reagiu negativamente aos exercícios.

A porta-voz oficial da Aliança, Oana Lungescu, disse ao jornal “Kommersant” que “quaisquer exercícios militares russos na Crimeia ocupada são ilegais perante o direito internacional, uma vez que não há consentimento do governo ucraniano”.

“Desde 2014, a atividade militar russa na região do mar Negro aumentou de forma significativa. A ampla mobilização russa na Crimeia representa um desafio para a estabilidade regional e para a segurança internacional”, acrescentou Lungescu.

Ainda segundo a porta-voz, as autoridades russas não informaram a Otan sobre os exercícios. No entanto, o Ministério da Defesa russo destacou que, de acordo com a Convenção de Viena de 2011, as partes só devem ser notificadas quando as manobras envolverem mais de 13 mil pessoas.

Publicado originalmente pelo jornal on-line Gazeta.ru

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