Como a Rota da Seda pode devastar o lago Baikal

Independência energética da Rússia é uma das metas da Mongólia com barragens na bacia do Baikal

Independência energética da Rússia é uma das metas da Mongólia com barragens na bacia do Baikal

Tass
Projeto de hidrelétrica para fomentar parceria China-Mongólia pode ser desastroso para o lago. Investimento faz parte de iniciativas da nova ‘Rota da Seda’ da China, que visa à integração de Pequim com todos os seus vizinhos.

Todo chinês conhece pelo menos um lugar na Sibéria – o lago Baikal. E não é necessariamente famoso por sua biodiversidade única ou por ser o lago mais profundo do mundo. É que no inverno as rádios locais começaram a alertar os ouvintes chineses sobre as “massas de ar frio que estão se chegando a partir do lago Baikal”.

Os chineses estão começando a valorizar o lago Baikal e há cada vez mais turistas para vê-lo. Alguns chineses estão até investindo nos arriscados negócios de turismo ao redor do lago. Recentemente, uma empresa chinesa propôs também engarrafar água do Baikal para comercializá-la na China.

Mas essa relação saudável do ponto de vista ambiental pode estar sob severo risco depois que o banco de fomento à importação e exportação da China (China Exim Bank) prometeu um empréstimo em condições favoráveis para a Mongólia, que pretende desenvolver um projeto capaz de causar desequilíbrio ecológico no antigo lago.

Em novembro de 2015, a Mongólia e a China emitiram uma declaração conjunta sobre o desenvolvimento de grandes projetos industriais, incluindo hidrelétrica. O empréstimo de US$ 1 bilhão do China Exim Bank à Mongólia já tem destino certo: a construção do projeto de hidrelétrica Egin Gol.

O projeto da hidrelétrica está situado no rio Eg, perto de seu encontro com o rio Selenge, que é a principal fonte do lago Baikal. Os US$ 100 milhões para estradas e pontes de acesso atribuídos à China Gezhouba Int. Co. permitiram com que essas primeiras obras começassem durante o rigoroso inverno.

Os estudos de viabilidade das barragens da hidrelétrica foram concluídos há 10 anos, sob os auspícios do Banco de Desenvolvimento Asiático, em uma tentativa mal direcionada de ajudar a Mongólia utilizar a energia renovável. Embora seja óbvio que o potencial de geração de eletricidade dos rios temporários da Mongólia é 3.000 vezes menor do que o seu potencial eólico ou solar, o Banco Mundial seguiu ao script chinês. Patrocinou o projeto MINIS, que hoje realiza estudos de viabilidade para duas outras grandes barragens na bacia do Baikal, uma deles no próprio rio Selenge.

As agências governamentais da Mongólia estão planejando mais dez barragens para a hidrelétrica na bacia do Baikal sob a justificativa de “descarbonizar” o setor de energia e alcançar a independência energética da Rússia.

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, os efeitos combinados dos projetos no lago não são totalmente conhecidos e poderiam danificar seriamente o seu valor como Patrimônio Mundial. O Comitê do Patrimônio Mundial discutiu sobre a criação dessas barragens em uma reunião em Bonn, na Alemanha.

O comitê estabeleceu os princípios para a avaliação do impacto de Egin Gol e de dois outros projetos, bem como a avaliação de impactos cumulativos de todas as três barragens. A comissão solicitou à Mongólia (e, por tabela, à China) que não aprove qualquer um dos projetos até que todas as avaliações para as barragens sejam concluídas e revisadas ​​pelo Centro do Patrimônio Mundial.

A pergunta que fica é: como a China, que está priorizando medidas para o meio ambiente em seu próprio território e está como promovendo o “desenvolvimento verde” como um líder do G20, pretende cometer um erro tão nocivo com Egin Gol?

Esta é uma consequência das lacunas ainda presentes na concepção da nova ‘Rota da Seda’ da China, que visa à integração do país com todos os seus vizinhos. O investimento no setor energético da Mongólia é um dos projetos-piloto nesse contexto.

No entanto, embora capaz de impulsionar novas cooperações econômicas, a Rota da Seda ainda carece de regulamentos ambientais claras e diretrizes específicas para preservar o ambiente. Os planos ambiciosos para criar os “novos corredores econômicos” não são submetidos a avaliações ambientais estratégicas para evitar armadilhas e selecionar as melhores alternativas do ponto de vista econômico.

Além disso, não há nenhum mecanismo de consulta com as partes interessadas que vivem ao longo da Rota da Seda. Sem isso, os investidores chineses não têm à disposição dados sobre os verdadeiros riscos ambientais e sociais. Ou têm que correr para obtê-los, como quando a Gezhouba Co. teve de parar a construção recentemente por ordem de órgãos fiscalizadores.

Eugene Simonov é coordenador da Coalizão Rios sem Fronteiras.

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