Na contramão de sanções, startups buscam mercado externo

Reputação russa no setor de tecnologia se mantém apesar de tensões internacionais

Reputação russa no setor de tecnologia se mantém apesar de tensões internacionais

Shutterstock/Legion Media
Fundadores das principais startups russas falam sobre desafios do mercado e meios para crescer em meio a dificuldades internas e externas. Top 50 da Gazeta Russa elenca ainda empresas de tecnologia do país com maior potencial no exterior.

Enquanto a economia russa encolhe e o rublo bate recordes de desvalorização, as principais startups do país buscam acesso ao mercado internacional, tendo como alvo investidores e consumidores estrangeiros. No início de fevereiro, o RBTH, projeto internacional do qual a Gazeta Russa faz parte, publicou seu ranking anual (em inglês) com as empresas de tecnologia russas com maior potencial no mercado global.

Questão financeira

As empresas de tecnologia russas que pretendem ampliar os negócios no exterior têm maiores chances de assegurar o investimento, mesmo dentro do país, de acordo com Vassíli Belov, vice-presidente sênior para inovações da Fundação Skôlkovo.

“Os fundos de risco estão dispostos a trabalhar com startups russas que querem levar seus produtos e serviços para os mercados estrangeiros”, diz Belov. A Skôlkovo, que tem dado prioridade à transferência de tecnologia russa para o mercado internacional, possui diversos de seus residentes já reconhecidos no exterior e listados no Top 50 da RBTH, como 3D Bioprinting e Optogard Nanotech.

“O ranking da RBTH tem startups de vários níveis”, explica Dmítri Kataev, diretor de programas de aceleração no Fundo Russo de Iniciativas da Internet. “Há aqueles que já operam com sucesso no estrangeiro há vários anos, bem como as empresas que iniciaram a expansão internacional ainda este ano. O primeiro grupo já atraiu a atenção de clientes internacionais, agora eles têm que provar o seu potencial para os investidores estrangeiros”, acrescenta.

A empresa de tecnologia espacial Dauria Aerospace já atraiu US$ 70 milhões para desenvolver e lançar 10 satélites que vão monitorar a vida em algumas das maiores cidades do mundo. Já a Tesla Amazing, que desenvolveu o inovador bloco de notas Magnetic, arrecadou em 2015 quase US$ 250 mil por meio de crowdfunding (ou vaquinha on-line) e garantiu um acordo de distribuição exclusiva com uma das maiores lojas de material de escritório dos EUA.

De olho nos “amadores”

Afinal, quão difícil é para as startups de origem russa criarem raízes e crescerem no mercado internacional? Para Aleksêi Romanenko, CEO e fundador da 2for1, uma startup russo-ucraniana que reúne as melhores ofertas das lojas on-line mais visitadas nos EUA e na Europa, o importante é adequar a estratégia ao tamanho do mercado.

“Em um mercado menor, o ideal é se concentrar para englobá-lo por inteiro; já nos maiores, é preciso se diferenciar da concorrência”, disse Romanenko à Gazeta Russa. “A principal dificuldade para as startups russas que estão tentando obter sucesso no exterior é a falta de contatos que as startups locais acumulam por anos. Além disso, não temos o mesmo conhecimento das especificidades do mercado local. Em outras palavras, temos que construir tudo do zero.”

A competitividade acirrada é outro problema, segundo o especialista. “Compete-se com milhares de sites e aplicativos, de corporações multimilionárias, com orçamentos de mais de US$ 10 milhões por mês para marketing, a startups muito ativas que contam com equipes de alto nível e vontade de vencer”, disse Romanenko.

Para superar essas dificuldades, a 2for1, por exemplo, tem ampliado sua rede de negócios e buscado os chamados ‘amadores’, “que nos permitem a crescer mesmo com orçamento limitado”, explica. Segundo Romanenko, a empresa também foi atrás de consultores locais e experientes que ajudam os gestores enfrentar os desafios.

Sem impacto político

Apesar das dificuldades, uma série de startups de tecnologia russas conquistaram reconhecimento no exterior em 2015.

N-Tech.Lab, por exemplo, venceu o desafio global em algoritmos de reconhecimento de face organizado pela Universidade de Washington, superando outros 100 sistemas, incluindo um criado pelo Google. Enquanto isso, a Astro Digital, uma plataforma para acesso a dados de satélites, também ficou em segundo lugar no Slush, um dos maiores eventos para empresas de alta tecnologia na Europa.

“As tensões internacionais recentes não têm impactado na excelente reputação da Rússia para tecnologia, e os russos continuam ganhando concursos internacionais de programação e desenvolvendo produtos hi-tech que, às vezes, viram hits globais”, diz Adrien Henni, editor-chefe do East-West Digital News, um veículo internacional dedicado à indústria digital na Rússia.

Os fundadores das startups também garantem não enfrentar discriminação por razões políticas. “Nossa empresa está registrado nos EUA, e os nossos advogados e banco estão baseados lá”, conta Daniel Pavliutchkov, CEO e fundador da Mailburn, um novo serviço de tecnologia de e-mail.

“O fato de que a nossa equipe estar instalada na Rússia não incomoda ninguém, especialmente os usuários. Alguns investidores internacionais nos disseram que concederiam financiamento caso nos mudássemos, por exemplo, para a Grécia, mas temos encontrado outros fundos e empresários interessados em investir fora de seus países.”

O sistema de classificação do RBTH é baseado em critérios como interesse do público, originalidade e potencial comercial, entre fatores. As startups que entraram no ranking tiveram que satisfazer certos requisitos, entre eles o número de clientes internacionais interessados no serviço ou produto, o impacto sobre a sociedade e o meio ambiente, e publicações nos meios de comunicação internacionais.

 

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