Filme russo sobre desastre mira mercado mundial; veja trailer

Cartaz do filme  “Flight Crew”, lançado em abril na Rússia

Cartaz do filme “Flight Crew”, lançado em abril na Rússia

Kinopoisk.Ru
“Flight Crew”, de Nikolai Lebedev, tem lançamento internacional previsto após sucesso de bilheteria em casa. Ação inspirada em clássico soviético não tem data de estreia no Brasil.

O filme russo “Flight Crew” (“Tripulação”, em tradução livre) é um caso único na indústria do cinema nacional. E não é pelo fato de esbanjar sofisticação em termos técnicos. A surpresa foi que, com investimento de US$ 10,3 milhões, o filme de ação atraiu 5,5 milhões de pessoas ao cinema desde que estreou na Rússia, em 21 de abril.

A história gira em torno de um avião comercial cujos passageiros são evacuados de um aeroporto em chamas em uma ilha vulcânica. Os momentos de tensão se devem, em grande parte, à presença de personagens fortes.

Alguns críticos alegaram ser um remake do famoso filme da era soviética “Aeroporto: Voo Fatal” (1979), de Aleksandr Mitta, que vendeu 70 milhões de ingressos em seu lançamento inicial na União Soviética. Alguns elementos da trama são semelhantes, como o terremoto e os desafios enfrentados pelos passageiros, mas o diretor Nikolai Lebedev garante que a história é “completamente diferente”.

“Fazer um remake do filme soviético ‘Aeroporto: Voo Fatal’ é tão sem sentido quanto refazer ‘Amarcord’, de Fellini. Esses filmes são únicos. Além disso, não dá para transferir os problemas e as pessoas da década de 1970 para o cenário pós-soviético”, afirma.

“Nosso filme é sobre pessoas comuns que passam por uma experiência difícil. Eu sempre tive interesse em dramas humanos contra algo realmente espetacular, já que a coisa mais importante em um filme é ter uma história cativante. Claro, existem novas tecnologias, mas a base da história, desde os tempos de Aristóteles, não mudou: o principal é o desenvolvimento do drama, independentemente de usarmos papelão e lona como Georges Méliès ou computação gráfica moderna”, acrescenta.

Fonte: YouTube/CentralPartnership Films

Confira abaixo a íntegra da entrevista de Lebedev à Gazeta Russa.

Onde você filmou? Onde ficam as ilhas dos terremotos?

Nikolai Lebedev: O filme se passa supostamente em algum lugar perto das Ilhas Aleutas. É um lugar frio, sem habitantes. Mas há uma empresa internacional lá, e as pessoas trabalham em turnos em uma fábrica metalúrgica. Então um vulcão entra em erupção, e as pessoas ali se veem em uma situação difícil: russos, norte-americanos, franceses, alemães, chineses. O filme tem uma equipe internacional com atores de vários países. Irek Hartowicz, o diretor de fotografia, vive nos Estados Unidos. O grupo de produção é russo.

Quanto às filmagens, fizemos um acordo com o aeroporto Vnúkovo, em Moscou. Eles estavam interessados ​​na ideia e deixaram que filmássemos algumas cenas importantes lá. Para as cenas de perigo foi construído um miniaeroporto destrutível dentro do aeroporto de Zhukovsky, nos arredores de Moscou. Levamos aviões fora de uso e alguns que ainda estavam em funcionamento. Todos eles deveriam explodir, pegar fogo e ficar destruídos. Destruímos pisos e tetos.

Ao longo de toda a ação é possível sentir a sua paixão como diretor. Tive a sensação de que você estava jogando o seu jogo favorito, não preocupando muito se os eventos se desenrolam de forma realista ou não.

Sim, a paixão era enorme e, de certo modo, condicionada pelo “Aeroporto: Voo Fatal” de Mitta, que eu amava como um filho. Aquele foi o primeiro filme soviético de desastre. Eu fiquei tão impressionado com ele que toda a minha vida quis fazer algo similar. Eu literalmente sonhei em fazer um filme de desastre. Quando eu estava na escola, construí um set de filmagem, produzia fogo lá, fazia Deus sabe o quê e sonhava em filmar tudo isso um dia.

E então produzi o meu próprio “Flight Crew” e entendi que é algo bastante difícil de fazer. É difícil fazer um filme quando tudo ao seu redor está explodindo e queimando, há caos no aeroporto, milhares de pessoas se movendo e perigo real. Foram dois meses apenas de filmagens noturnas. Acredite em mim, este [tipo de trabalho] não é para quem tem coração fraco.

No que diz respeito a ser realista e crível, sempre pensei que, hoje em dia, o cinema está tentando buscar realidade onde não se deve ter. Cinema que apenas reproduz vida cotidiana puxa os espectadores para o chão, privando-os de voar.

Nikolai Lebedev. Source: Valery Matytsin / TASSLebedev: "Esse tipo de trabalho não é para quem tem coração fraco" Foto: Valéri Matitsin/TASS

De todas as passagens, qual foi a mais difícil, seja tecnicamente ou por uma perspectiva humana?

Foi difícil de filmar a catástrofe. Tanto do ponto de vista técnico e de diretor, esse é um enorme desafio. A passagem é enorme, dura mais de uma hora, mas deve ser percebida como uma única cena: você inspira, e depois só expira após a aterrissagem bem-sucedida do avião. Isto é difícil de criar e tecnicamente difícil de filmar. É complicado traçar mudanças na natureza dos personagens sem perder as nuances. Durante todo esse tempo, praticamente não dormi.

Filmar em cenário quando tudo pega fogo também foi difícil e perigoso. Nós construímos estruturas especiais que tinham que cair em um momento preciso e não antes, quando os protagonistas estavam sobre elas. Se tivessem caído quando os atores ainda estavam lá, teria sido uma tragédia.

Como diretor, foi difícil filmar a cena em que os passageiros trocam de avião em pleno voo. Quando um dos personagens menciona a ideia nas telonas, alguém na plateia normalmente ri e diz que é impossível. Mas, à medida que a cena se desenvolve, a graça acaba. Com a forma como a ação se desenrola, o espectador é obrigado a simpatizar com e acreditar no sucesso dessa tentativa maluca. Era importante para mim convencer o espectador da possibilidade do impossível, fazendo-o sentir a história.

Ao assistir a uma adaptação de “Hamlet”, de Shakespeare, sabemos que, na realidade, é duvidoso que um fantasma venha visitar o príncipe e comece a conversar com ele. Mas acreditamos na verdade emocional do momento. É a mesma coisa aqui. Era importante para mim justificar a situação emocionalmente. E quando vi a reação do público, percebi que tínhamos conseguido.

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