Segundas intenções no 'Quarteto da Normandia'

Presidente russo confirmou presença só na véspera da reunião.

Presidente russo confirmou presença só na véspera da reunião.

Reuters
Presença de Pútin em reunião do 'Quarteto da Normandia' na quarta-feira foi desculpa para encontro com líderes europeus, de acordo com especialistas, e não em busca de uma resolução com Kiev.

O encontro entre chefes de Estado da Rússia, Ucrânia, Alemanha e França, ocorrido em Berlim na última quarta-feira (19), não resultou em grandes êxitos. Rússia e Ucrânia continuam acusando-se mutuamente de não cumprirem os acordos de Minsk e o presidente russo tem demonstrado desconfiança quanto a sua produtividade, confirmando a participação russa apenas um dia antes do encontro.

Kiev também se mostra cética, e o vice-chefe da administração presidencial, Konstantin Eliseev, declarou, às vésperas do encontro, que era pouco provável haver algum progresso.

"Não se deve pensar que algum milagre acontecerá", disse Elissev.

Tampouco se viu alguma solução para o beco sem saída em que se transformou Donbass nas cinco horas em que durou o encontro - e das quais não saiu a assinatura de nenhum documento.

Ao final da reunião, os líderes apenas anunciaram ter desenhado uma nova "rota" para a resolução da situação em Donbass.

Segundas intenções

Apesar das declarações positivas dadas posteriormente por Pútin e Porochenko, analistas acreditam que a contradição entre Moscou e Kiev se mantenha.

"A Rússia mantém as relações tensas com a Ucrânia, e se fosse só sobre o diálogo com Kiev, Moscou provavelmente rejeitaria o encontro", diz o decano da faculdade de política da Escola Superior de Economia de Moscou, Serguêi Karaganov.

Para ele, Poroshenko não pode e não quer cumprir com a parte dos acordos de Minsk que dizem respeito à realização de eleições em Donbass e à anistia para os separatistas.

O diretor de programação do clube "Valdai", Timofêi Bordatchov concorda que a Ucrânia não queira diálogo.

"A parte ucraniana declara abertamente que espera a chegada do novo presidente à Casa Branca e que acredita que esse será a candidata Hillary Clinton, o que permititá novamente chegar a um cenário de confrontação", disse Bosdatchov à Gazeta Russa.

Apoio a Merkel, reconciliação com Hollande

Comentaristas acreditam que os motivos da ida de Pútin a Berlim passam ao largo do encontro com Poroshenko.

"O encontro não era sobre Poroshenko, mas sobre a conversa com os europeus, e sobre uma ampla gama de questões que tangem não só a Ucrânia, mas as relações da Rússia com a Europa e a Síria", diz o cientista político Serguêi Mikheev.

Já o comentarista da rádio Kommersant, Mikhail Pogrebínski, disse que um dos objetivos da visita russa estava no apoio à chanceler alemã, que organizou o encontro.

"Ele decidiu não deixar a Merkel fazer papel de boba como uma organizadora que não conseguiu nada. É visível que ele precisa de algo [dela]", disse Pogrebínski.

Segundo ele, também era importante para Pútin conversar com François Hollande, a quem presidente russo deixou de visitar na semana passada.

"O encontro do 'quarteto da Normandia' é um bom motivo para Pútin e Hollande se encontrarem, esclarecerem os mau-entendidos que tenham surgido entre eles", diz Mikheev.

Questão síria

Após o encontro, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês François Hollande discutiram novamente os bombardeios a Aleppo realizados pelas aviações russa e síria, e consideraram a introdução de novas sanções contra Moscou.

Essa, por sua vez, anunciou o prolongamento da pausa humanitária em Aleppo e pediu a distinção entre terroristas e oposição.

"A França e a Alemanha não têm uma influência real sobre a situação na Síria, onde o papel principal, da parte ocidental, está nas mão dos EUA. Mas é preciso discutir a situação e não deixar de lado a chance de diálogo", diz Karaganov.

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