Caos político e econômico produz impasse em Kiev

Porochenko ainda precisa encontrar diálogo com leste do país.

Porochenko ainda precisa encontrar diálogo com leste do país.

Getty Images
Analistas russos e ucranianos são céticos quanto a resolução de conflitos no país, onde cresce a insatisfação popular.

Após a morte de três guardas nacionais em confrontos com separatistas no leste ucraniano, em 31 de agosto, o presidente Petrô Porochenko assumiu uma postura de teoria da conspiração no país.

“Parte da elite política ucraniana acredita que os riscos externos já não sejam relevantes e que agora é o momento certo para incitar conflitos internos”, afirmou.

Após os eventos, a coalizão governista passou por uma reestruturação, com a retirada do Partido Radical, de Oleh Liachko. Mas analistas são céticos quanto a capacidade de o presidente alcançar a paz e a estabilidade política ucraniana.

O diretor do Centro de Pesquisas Políticas da Academia Russa de Ciências, Boris Chmeliov, por exemplo, acredita que a crise política está escalando no país.

“A luta pela influência política e pelo acesso ao capital estatal cresce entre os oligarcas ucranianos, e o impasse político dentro da coalizão governista e entre os partidos políticos se agrava. A insatisfação da população quanto a sua situação econômica também cresce”, afirma.

Instabilidade ao cubo

O diretor do Instituto de Globalização e Movimentos Sociais, Boris Kagarlítski, também acredita que o conflito na Ucrânia esteja crescendo. “De agora em diante, uma regra de ouro para a Ucrânia será a multiplicação crônica e constante da instabilidade”, diz.

Segundo Kagarlítski, a tarefa de apaziguar essa instabilidade está além dos poderes da classe política ucraniana, e os iniciadores da mudança só poderiam ser forças externas – militares ou players estrangeiros.

Já o ucraniano Andrii Iermolaiev, diretor do Instituto Nova Ucrânia para Estudos Estratégicos, diz que os acontecimentos no país estão diretamente relacionados com os efeitos dos últimos acordos de Minsk, assinados em fevereiro.

De acordo com os documentos, deve-se fomentar o diálogo interno ucraniano e encontrar uma solução política para o conflito entre forças governamentais e separatistas apoiados pela Rússia no leste do país.

Mas Iermolaiev não acredita que Porochenko possa pacificar as partes. “Porochenko tornou-se refém da situação, tem medo de perder votos. Ele pode ter entendido a necessidade de diálogo, mas é um refém da guerra”, diz.

Novo projeto político

A necessidade de um novo projeto político no leste ucraniano é óbvia, diz Iermolaiev, que compara a situação da região com a da Abecásia, região georgiana separatista que atualmente tem laços estreitos com Moscou.

“Após as eleições parlamentares, em outubro, a crise no governo deve se aprofundar, e surgirão condições para eleições antecipadas em 2016”, acrescenta.

Além disso, as perspectivas de estabilização econômica do país também continuam distantes.

O empréstimo de emergência de 1,8 bilhão de euros da União Europeia, acordado na cúpula de Riga em maio de 2015, pouco significa perto dos 2,7 bilhões de euros que a Ucrânia deve à Rússia de um empréstimo concedido em dezembro de 2013.

Analistas afirmam que a benevolência de Moscou na época pode ter sido uma tentativa de apoiar o governo do então presidente Víktor Ianukovitch, agora deposto.

Um recente acordo de reestruturação de crédito externo de 16 bilhões de euros também não parece ter impressionado a Rússia, que afirmou, no final de setembro, que não perdoará a dívida ucraniana. O prazo para quitação vence em dezembro.

 

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