Tribunal Europeu define lei antigay russa como “discriminatória”

Manifestações da comunidade LGBT na Rússia vem sendo marcadas por detenções

Manifestações da comunidade LGBT na Rússia vem sendo marcadas por detenções

ITAR-TASS
A decisão da Rússia de proibir a promoção da homossexualidade entre os menores viola o artigo 10 (liberdade de expressão) da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, concluiu o tribunal. Segundo porta-voz do Kremlin, decisão será avaliada.

O Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) anunciou nesta terça-feira (20) o veredito no caso Baiev e Outros vs. Rússia, que analisou uma queixa contra a legislação russa que proíbe a promoção da homossexualidade entre menores de idade.

O tribunal destacou que a decisão de Moscou de proibir a promoção da homossexualidade entre menores de idade constitui uma violação dos artigos 10 (liberdade de expressão) e 14 (proibição de discriminação) da Convenção Europeia dos Direitos Humanos.

A decisão foi tomada por seis votos contra um.

“O tribunal considerou, em particular, que, embora as leis em questão visassem sobretudo à proteção de menores de idade, os limites dessas leis não foram claramente definidos, e sua aplicação tem sido arbitrária. Além disso, o próprio objetivo das leis e a forma como foram concebidas e aplicadas aos envolvidos no caso foi discriminatória e, em geral, não serve ao interesse público legítimo. Na verdade, ao adotar tais leis, as autoridades reforçaram o estigma e o preconceito e incentivaram a homofobia, incompatível com os valores de uma sociedade democrática”, lê-se em um comunicado divulgado pela assessoria de imprensa do TEDH.

Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmítri Peskov, Moscou irá considerar a decisão tomada pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos.

“É claro que esta decisão será considerada”, disse Peskov a jornalistas nesta terça. “Ainda não vi o texto [do veredito], então, não posso comentar sobre o assunto”, acrescentou o porta-voz da presidência russa.

Paralelamente, Peskov ressaltou que a lei em questão visa a proibir apenas a promoção da homossexualidade entre menores de idade.

Interferência

Para o presidente da comissão de Legislação Constitucional do Conselho da Federação (Senado russo), Andrêi Klichas, ​​a decisão pode ser vista como uma tentativa de interferir nos assuntos internos da Rússia.

“A legislação atual corresponde à moral pública que se desenvolveu na sociedade russa. Enquanto a solução legislativa para o apelo público é da autoridade legislativa nacional, os órgãos institucionais europeus deveriam se abster de interferir nos assuntos internos do país”, disse o senador a repórteres nesta terça-feira.

Klichas ressaltou que a implementação da decisão do tribunal europeu pode levar à violação do artigo 29 da Constituição Russa, que proíbe propaganda que incite o ódio ou inimizade social, racial, nacional ou religioso. “Além disso, contradiz o artigo 17, segundo o qual a execução dos direitos e liberdades de um cidadão não pode violar os direitos e liberdades de outras pessoas”, acrescentou o senador.

A primeira vice-presidente da comissão de Legislação Constitucional do Senado russo, Elena Mizulina, também declarou não estar surpresa com a decisão do TEDH, “levando em conta a atitude da Europa em relação a essa questão e o desejo de irritar a Rússia de qualquer maneira”.

Segundo a senadora, não há elemento discriminatório na lei que proíbe a propaganda homossexual. “Pelo contrário, protege as crianças de informações que não estão prontas para receber de forma independente.”

Recurso

O Ministério da Justiça russo tem um período de três para recorrer da decisão do Tribunal Europeu que reconhece como discriminatória a chamada “lei antigay” russa. A sentençã também estipula uma indenização de 49.100 euros aos cidadãos russos Nikolai Baiev, Aleksêi Kiseliov e Nikolai Alekseiev (fundadores do projeto GayRussia.ru).

“Dentro de três meses, o Ministério da Justiça, juntamente com outros órgãos do poder competentes, providenciará a formulação da posição jurídica da Rússia para apelar da decisão em questão no TEDH”, declararam representantes da pasta.

O ministério negou as violações alegadas e declarou que “a série de leis regionais que proíbem a propaganda LGBT entre menores não contradiz as práticas internacionais e visa exclusivamente a proteger a moral e a saúde das crianças”.

“Os atos jurídicos correspondentes não estabeleceram medidas destinadas a proibir a homossexualidade ou a sua condenação oficial, não contém vestígios de discriminação e não permitem ações excessivas por órgãos do poder público”, acrescentou o órgão, rejeitando a acusação de ferir a liberdade de expressão.

“A Constituição russa garante a igualdade de direitos e liberdades dos indivíduos independentemente das várias circunstâncias e proíbe quaisquer restrições aos direitos dos cidadãos em razão de classe social, raça, nacionalidade, idioma ou religião.”

Quer receber as principais notícias sobre a Rússia em seu e-mail?
Clique aqui para assinar nossa newsletter.

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies