Terrorista por engano

Imagens de Nikitin nas câmeras de segurança foram divulgadas amplamente pela imprensa; ex-militar não tinha envolvimento com o ocorrido.

Imagens de Nikitin nas câmeras de segurança foram divulgadas amplamente pela imprensa; ex-militar não tinha envolvimento com o ocorrido.

Russian Archives/Global Look Press
Homem apontado erroneamente como suspeito de ataques em metrô russo é ex-militar e não tem ligação com o crime.

Um homem que foi apontado como suspeito dos ataques com explosivos no metrô de São Petersburgo na última segunda-feira (3) não tem qualquer ligação com o crime e é um ex-militar que se converteu ao Islã.

Após a suspeita levantada, ao que parece, apenas devido a sua aparência física e ao modo de se vestir, Andrêi Nikitin não está conseguindo voltar para casa, na região russa da Bachquíria e foi demitido. 

Nikitin é divorciado, nasceu em uma família de etnias russa e tatar, e ainda não conseguiu entrar em contato com os pais.

Horas após as explosões, a imprensa russa e internacional começou a divulgar uma foto de Nikitin apontando-o como o autor dos ataques.

Mas Nikitin, que cultiva uma longa barba e vestia uma “taquíah”, o  chapéu típico muçulmano, não tinha qualquer envolvimento com o ocorrido e se apresentou prontamente a polícia.

Dois dias após o incidente, porém, Nikitin continua a enfrentar problemas.

 Ex-capitão das tropas paraquedistas, Nikitin se converteu recentemente ao Islã e adotou o nome de Ilias. Ele é formado pela Academia Militar de Riazan, serviu na Tchetchenia e, até pouco tempo atrás, trabalhava como caminhoneiro.

Sua tarefa era transportar carga perigosa, principalmente combustível diesel, e ele trabalha em companhias estatais há quatro anos.

O primeiro representante da imprensa a divulgar que Nikitin não tinha envolvimento com o crime foi um dos mais populares blogueiros do país, o fotógrafo Iliá Varlamov.  

Sem chegar a lugar algum

Depois de liberado pela polícia, Nikitin pegou um avião da companhia UTair no aeroporto Púlkovo, em São Petersburgo, para Orenburg, na Rússia Central, com conexão em Moscou.

Mas no aeroporto Vnúkovo, na capital russa, passageiros assustados e desavisados da inocência de Nikitin foram denunciá-lo aos representantes da companhia na última terça-feira (4).

Antes de o avião decolar, agentes do FSB (serviço de segurança russo que substituiu a KGB) entraram na aeronave e escoltaram Nikitin na saída, quando ele foi levado a outro interrogatório, de acordo com reportagem do site de imprensa marrom “Life.Ru”.

Em entrevista ao site “Islam News”, Nikitin disse que a reação dos outros passageiros foi inesperada e, devido a isso, ele perdeu o voo a Orenburg.

Em entrevista ao jornal russo Komsomolskaia Pravda, Rassul Tavdiarkov, um amigo de Nikitin, disse que ele está “levando tudo com muita calma e paciência”.

Com auxílio dos agentes das forças de segurança, o ex-militar conseguiu um reembolso da companhia aérea.  

“Os repórteres, que anteriormente me chamaram de terrorista, agora estão procurando por mim, meus amigos e parentes. Por isso, eu não consigo nem pegar um voo. Eu peço que vocês não me persigam e me deixem viver”, disse Nikitin ao Islam News.

Nesta quarta-feira (5), o site também divulgou declarações de Nikitin afirmando ter sido demitido por seu empregador em Nijnevartovsk, que citou um pedido do comitê de investigações regional.

O ‘terrorista ideal’

De acordo com declaração à Gazeta Russa do pesquisador-chefe do Instituto de Pesquisas Sociais Complexas da Academia Russa de Ciências, Leonti Bizov, as imagens das câmeras de segurança não caíram simplesmente por acaso sobre Nikitin.

“Tudo foi feito com auxílio dos órgãos de segurança, mas o preconceito de que um ‘terrorista ideal’ deve se parecer justamente com ele existe tanto entre os agentes, como em toda a sociedade”, diz Bizov.

“Uma imagem dos terroristas se formou no subconsciente geral e é a de um homem islamista, com barba e ‘taquíah’. E isso acontece não só aqui, mas no Ocidente também”, acredita o pesquisador. 

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