Russos seguem menos ideologia, mas ainda querem ‘grande potência’

Número de russos que consideram país em crise caiu quase 10%

Número de russos que consideram país em crise caiu quase 10%

Reuters
Maior parte dos cidadãos do país acredita que a Rússia pode se tornar grande potência no futuro e está pronta para aceitar políticas duras em prol da ordem no país, segunda uma pesquisa recente. No entanto, a maioria das pessoas demonstra mais preocupação com problemas pessoais do com os do Estado.

O Instituto de Sociologia da Academia Russa de Ciências publicou um relatório no último dia 21 de novembro no qual apresentou os resultados de uma extensa pesquisa sobre o comportamento dos russos em meio às condições de crise.

“O estudo observou não apenas as reações a eventos específicos, mas também mudanças fundamentais no sistema de valores da população”, explica o diretor do Instituto, Mikhail Gorchkov.

O levantamento, iniciado ainda em outubro de 2014, envolveu cerca de 4.000 pessoas de diferentes regiões da Rússia.

Ideologia zero

Vladímir Petukhov, chefe do Centro de Pesquisa Social Complexa, sugere um total “desideologização” da sociedade nos últimos anos, isto é, a maioria da população já não reconhece mais doutrinas ideológicas, como comunismo e liberalismo.

“No total, as ideologias têm importância para, no máximo, 30% da população”, diz Petukhov, acrescentando que a sociedade não perdeu seu conjunto geral de valores, “eles simplesmente não estão mais relacionados com as políticas internas”.

Fatores externos e a posição atual e futura da Rússia no mundo desempenham hoje um papel fundamental.

Trinta e cinto por cento dos entrevistados considera a Rússia moderna como “uma grande potência, à altura dos Estados Unidos e da China”. Além disso, 28% incluem o país entre os economicamente desenvolvidos, ao lado de Alemanha, França e Japão.

Paralelamente, 20% dos russos estão convencidos de que o país “não é um dos Estados mais influentes do mundo”, e 17% disseram não poder avaliar a posição da Rússia em uma escala internacional.

Quanto ao futuro, 51% dos entrevistados querem que a Rússia figure entre os países “economicamente mais desenvolvidos e politicamente influentes”. No entanto, uma superpotência nos moldes soviéticos atrai apenas 28% da população – e, por superpotência, os entrevistados se referiram a “competitividade, não expansionismo”.

Pessoal vs coletivo

Também de acordo com a pesquisa, dois terços dos russos preferem políticas conservadoras. No total, 66% dos entrevistados acredita que a Rússia precisa de “mão firme para impor ordem no país”.

“Mas isso não significa que uma ‘revolução conservadora’ tenha ocorrido no país”, destaca Petukhov. “Os conceitos de grande potência e mão firme são, em grande parte, declarativos e não passam de formalidade”.

Exemplo disso, segundo o sociólogo, é que 60% dos entrevistados dizem que seus “interesses pessoais são mais importantes que os do Estado”.

A pesquisa mostra ainda que 34% dos russos defendem que “as liberdades políticas não devem ser abandonadas sob circunstância alguma”.

Os números indicam que a quantidade de cidadãos considerados autossuficientes, isto é, centrados no sucesso pessoal e tentando se distanciar do governo, aumentou. “Não são apenas pessoas ricas, também há funcionários públicos”, diz Petukhov.

Crise sem crise

A proporção de russos que consideram o país em crise caiu para 56% em outubro, em comparação com os 65% em março. Já o número de pessoas que se referem à situação como “calma e normal” subiu de 18% para 29%.

Porém, o consumo com comida, roupas, feriados e educação têm registrado queda. Enquanto 52% da população continuará cortando nas despesas, 48% revela o desejo de buscar fontes adicionais de renda. Entre as opções, 20% dos entrevistados querem usar seus jardins para cultivar os próprios alimentos, contra 10% há dois anos.

Apesar da sensação de crise, apenas 39% dos entrevistados reconhecem a necessidade de mudanças profundas no país; 42% se opõem à ideia de mudanças pois temem que possam levar a consequências imprevisíveis, e apenas 19% não veem necessidade de mudar porque “estão contentes com o atual curso da política de Pútin”.

Com o jornal Kommersant

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