Terroristas por engano

Treinamento antiterrorrismo nos arredores de Moscou

Treinamento antiterrorrismo nos arredores de Moscou

Kirill Kallinikov/RIA Nôvosti
Durante treinamento de combate ao terrorismo, a polícia de Iujno-Sakhalinsk, no Extremo Oriente russo, divulgou fotos de três pessoas comuns como sendo guerrilheiras.

Vadim Kaziev é natural da República do Daguestão, mas desde 1999 vive na cidade de Iujno-Sakhalinsk (a mais de 6,6 km a leste de Moscou), na ilha Sacalina. A opção de viver no Extremo Oriente surgiu depois de ter servido Exército ali. Porém, no último dia 22, uma desagradável surpresa esperava por ele: a polícia municipal divulgou o anúncio de terroristas procurados que continha a fotografia de Kaziev, porém com nome diferente.

Kaziev não tinha nada a ver com terroristas, assim como os outros dois moradores locais, também oriundos do Daguestão, cujas fotos apareceram em anúncios semelhantes – Kiamran Bairamov, que vive Iujno-Sakhalinsk desde a infância, e Ignat Alikhanov, habitante da cidade há 7 anos. Em todos os casos, a polícia afirmava que o trio de militantes teria chegado do Daguestão para perpetrar atentados terroristas.

Alarme falso

Os materiais divulgados apresentavam nomes de guerrilheiros reais e que já haviam sido liquidados no Daguestão pelos serviços secretos. Os anúncios, no entanto, se espalharam rapidamente pelas redes sociais, não só em Sacalina, como por todo o país.

Kaziev ficou sabendo que havia sido tachado de terrorista por meio de conhecidos que começaram a telefonar para ele. Alguns perguntavam em tom de brincadeira se fazia muito tempo que ele havia virado guerrilheiro, outros manifestavam preocupação.

Kaziev (à esq.) e sua foto divulgada pela polícia Foto: astv.ruKaziev (à esq.) e sua foto divulgada pela polícia Foto: astv.ru

“Essa fotografia se disseminou por toda a Rússia”, disse Kaziev, em tom de indignação, ao falar para o canal regional ASTV. “Isso se transformou em ameaça à minha vida! Imagine se eu estiver andando pela cidade, e alguns ativistas se aproximarem por trás e derem um golpe em minha cabeça - quem vai responder por isso?”, continuou.

Para verificar o que estava acontecendo, um amigo ligou a seu pedido para a polícia local dizendo que sabia onde se encontrava o militante procurado. “Não precisamos dessas pessoas, estamos apenas realizando um treinamento de alerta”, responderam os policiais.

Compensação por danos morais

Por razões ainda desconhecidas, o departamento do Ministério do Interior da cidade teria resolvido usar fotos de pessoas reais durante a realização de um treinamento para rastrear indivíduos envolvidos em atividades ilegais.

As vítimas apresentaram uma denúncia ao Ministério Público da região e exigiram que as agências de aplicação da lei negassem oficialmente os anúncios divulgados.  

Por dois dias, a polícia absteve-se de comentar, mas, no início desta semana, foi obrigada a apresentar um pedido de desculpas a Kaziev, Bairamov e Alikhanov.

“Pedimos desculpas aos cidadãos cujas imagens foram usadas para a realização dos treinamentos, bem como aos moradores que vivem no território da ilha pelos transtornos a que foram submetidos”, lê-se em um comunicado divulgado pela assessoria de imprensa do Ministério do Interior regional.

Segundo a defesa dos envolvidos, as vítimas têm o direito de exigir do órgão uma compensação por danos morais.

“O fato de ser sido incluído no grupo de terroristas leva qualquer pessoa a sofrer um dano moral”, disse o advogado Gueôrgui Ter-Akopov, citado pelo Vesti.ru.

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