Uso de véu islâmico segue diferentes padrões pela Rússia

Líder tchetcheno Ramzan Kadirov (dir.) é um dos principais incentivadores do véu

Líder tchetcheno Ramzan Kadirov (dir.) é um dos principais incentivadores do véu

Said Tsarnaev/RIA Nôvosti
País é o único no mundo onde certos itens de vestuário para mulheres são, ao mesmo tempo, prescritos e proibidos, dependendo da região.

Enquanto as muçulmanas na França defendem seu direito de vestir burquíni, as iranianas lançaram uma campanha contra a obrigação de usar véus sob o slogan “Minha liberdade invisível”. Em ambos os casos, porém, as mulheres estão protestando: as primeiras, pelo direito a usarem o que bem entenderem, e as últimas, por deixarem de vestir algo que lhes é imposto pela legislação do país.

Já na Rússia, por mais paradoxal que possa parecer, ambas as campanhas poderiam se unir. Segundo um relatório produzido pelo grupo de reflexão norte-americano Pew Research Center, o país é o único do mundo que dispõe de um código de vestimenta religiosa para mulheres que, paralelamente, prescreve e proíbe certas peças.

Dress code para tchetchenas

A República da Tchetchênia é a única região russa onde as mulheres são fortemente encorajadas a usar o véu. Não existem leis locais que prescrevam o uso de lenços para cobrira a cabeça e, por isso, as tchetchenas podem vestir o que quiserem. No entanto, fato é que há muitos anos esta república predominantemente muçulmana no Cáucaso do Norte tem tentado impor um código de vestimenta para as mulheres.

Sem regras definidas, Moscou esbanja diversidade Iúri Machkov/TASSSem regras definidas, Moscou esbanja diversidade Iúri Machkov/TASS

“Ao longo da última década, a Tchetchênia vem aplicando ativamente normas conservadoras de comportamento e vestimenta. Essas iniciativas foram iniciadas pelas autoridades locais, mas gozam de amplo apoio público”, diz Vladímir Sevrinovski, especialista em Cáucaso e autor de um guia de viagem para a capital local Grózni.

O código de vestuário começou a ser aplicado ainda em 2006. Na época, o atual líder tchetcheno Ramzan Kadirov, que então ocupava o cargo de primeiro-ministro da república, declarou publicamente que as mulheres da região não deveriam ser vistas sem que o cabelo estivesse coberto com um lenço. Dois anos depois, o item já era obrigatório para funcionárias públicas e professoras. Além disso, as mulheres não são autorizadas a entrar nessas repartições se não estiver usando lenço na cabeça.

Em uma série de incidentes controversos, as tchetchenas cujas roupas violavam o código de vestimenta islâmico foram atingidas por balas de paintball em ataques conduzidos por militantes e com aprovação de altos funcionários do governo local.

Além disso, de tempos em tempos, são realizadas campanhas exortando as tchetchenas a cumprir as normas da sharia (lei islâmica). Exemplo disso foi uma ação, no início deste ano, em que a organização pública Iman distribuiu vestidos longos e lenços de cabeça às mulheres em Grózni.

Segundo Sevrinovski, no entanto, o dress code é somente enfatizado entre mulheres de meia-idade ou mais velhas.

“Hoje, as meninas são criados conforme a sharia desde o maternal, por isso, no futuro, o hijab completo, que implica não só o lenço, mas roupas modestas, vai se tornar uma coisa cada vez mais comum”, explica.

Proibição do véu em duas regiões

Uma situação oposta tem se desenvolvido em duas outras regiões da Rússia – Mordóvia e Stavropol. Em ambas, hijabs são proibidos em escolas e universidades.

“Em Stavropol, em 2013, e na Mordóvia, em 2014 e 2015, houve muita controvérsia em torno do uso de lenços de cabeça em estabelecimentos de ensino”, diz Rais Suleimanov, acadêmico islâmico baseado na Rússia.

“As administrações escolares locais exigiram que as meninas fossem a escola com a cabeça descoberta. Os pais das meninas e as comunidades muçulmanas protestaram, porém, as autoridades do Ministério da Educação e os tribunais locais defenderam que o código de vestuário na região deveria ser estritamente secular”, acrescenta.

Em meio à polêmica em Stavropol, o presidente russo Vladímir Pútin também chegou a apoiar publicamente a proibição de hijabs.

Muçulmana na saída de mesquita em Kazan Foto: Maksim Bogodvid/RIA NôvostiMuçulmana na saída de mesquita em Kazan Foto: Maksim Bogodvid/RIA Nôvosti

“Não há nada de bom nisso. Existem características étnicas em repúblicas baseadas em etnias. No entanto, esta não é uma característica étnica, mas a demonstração de uma postura religiosa. O nosso país, até mesmo nas regiões muçulmanas, nunca teve essa tradição”, declarou Pútin, em um programa exibido pela televisão.

No mesmo ano, Stavropol proibiu o uso de roupas religiosas. Já na Mordóvia, o caso foi parar na Suprema Corte da Rússia, que, em 2015, definiu que a população deveria seguir as exigências do governo local.

Tatarstão, a Liberal

Em outras localidades, como na predominantemente muçulmana República do Tartarstão, chegou-se a um meio termo que pode vir a se tornar exemplo para toda a Rússia ou até mesmo outros países com questões religiosas semelhantes.

No Tatarstão, não há um código de vestimenta religiosa definido para mulheres. Dependendo de suas visões religiosas, as locais são livres para circular em locais públicos seja com véus e saias longas ou com a cabeça descoberta e minissaias.

Além disso, os lenços são permitidos em fotos de documentos oficiais.

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