Mostra em Moscou expõe inclusão como processo artístico

Réplica de escultura pode ser tocada por visitantes

Réplica de escultura pode ser tocada por visitantes

Divulgação
Deficientes trabalham com curadoria do Museu de Arte Contemporânea para compor conteúdo sensorial. Movimento vem ganhando espaço entre museus na capital.

O homem de bronze nu criado pelo famoso escultor Antony Gormley desafia a gravidade de pé sobre a parede do museu, pendendo 45 graus na direção do espectador. Perto dali, uma plataforma exibe uma réplica em gesso da escultura, que é dez vezes menor e pode ser tocada. Há também fones de ouvido e um pedaço de papel com pontinhos – isto é, um texto sobre a exposição em Braille.

Trata-se da exposição “Copensadores”, que ocupa o Museu de Arte Contemporânea Garage, em Moscou, e pretende, pela primeira vez, rever o conceito de inclusão como parte do processo artístico, e não uma questão de infraestrutura.

Para compor a mostra, os curadores contaram com quatro visitantes do museu que apresentam alguma deficiência: o cadeirante Evguêni Liapin; Elizaveta Morozova, portadora da síndrome de Asperger; Polina Sineva, que é surda desde a infância, e Elena Fedoseeva, cega desde os 13 anos de idade. Em colaboração com os curadores do museu, eles selecionaram obras de arte e conceberam a estrutura e o conteúdo da exposição usando suas sensações e experiências de percepção visual.

Aspecto sensorial guiou curadores na concepção de mostra Foto: DivulgaçãoAspecto sensorial guiou curadores na concepção de mostra Foto: Divulgação

 

“Selecionei obras emocionalmente compostas, que podem ser interpretadas de várias maneiras. Quanto mais conflituosa a arte, melhor. Pois deixar a zona de conforto sempre leva ao desenvolvimento”, explica Evguêni Liapin, acrescentando que a essência de arte em si já pode ser considerada como uma manifestação de inclusão.

As salas do museu foram adaptadas a pessoas com vários tipos deficiências, e as obras vêm acompanhadas por um módulo interativo que inclui materiais táteis, descrições de áudio, e vídeos com comentários dos curadores e dos colaboradores.

“A ideia dos módulos que unem maneiras diferentes de perceber a arte é uma prática completamente nova. Seu sucesso será percebido logo”, ressalta Elena Fedoseeva.

Espaços inclusivos

Em termos de acessibilidade, Fedoseeva acredita que a inclusão ainda não é um conceito aplicado de forma sistemática pelos museus de Moscou. “Normalmente, há programas para os deficientes, mas eles não adaptam todo o espaço, apenas seus elementos separados ou são concebidos como eventos especiais”, diz.

No entanto, há exemplos de sucesso, como o Museu Darvinovski, que foi o primeiro no país a tornar seu espaço totalmente acessível a todas os visitantes com a implantação de rampas e descrições de exposições também em Braille, além de programas e itinerários especiais.

Reprodução em gesso de tela exposta no Garage Foto: DivulgaçãoReprodução em gesso de tela exposta no Garage Foto: Divulgação

 

Outros casos bem-sucedidos são o do Planetário de Moscou, que possui módulos interativos e dispõe de vários recursos com mobilidade reduzida, e do Museu-Reserva Tsaritsino, cujas instalações foram completamente adaptadas a visitantes cegos.

Segundo a coordenadora do programa de inclusão do Garage, Maria Saritcheva, os museus vêm mudando junto com a sociedade e, aos poucos, se adequam para receber os visitantes que eram antes “invisíveis”.

“Inclusão é a não separação de pessoas de acordo com alguma deficiência. O fato de duas pessoas andarem de cadeiras de rodas não as torna amigas. As pessoas se unem por interesses comuns, eventos culturais, gostos. O museu é um ponto de contato para os amantes da arte, independentemente de dificuldades físicas”, diz Saritcheva.\

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