Indignação, inveja e traição: o que os russos pensam sobre a Ucrânia

Protesto em frente à embaixada russa em Kiev pela libertação de piloto ucraniana

Protesto em frente à embaixada russa em Kiev pela libertação de piloto ucraniana

Reuters
Pesquisas mostram que governo teve mais apoio da população em campanha na Síria.

Em entrevista à publicação “Russia Direct”, o diretor de pesquisa do instituto independente Centro Levada, Aleksêi Levinson, explicou a percepção dos russos sobre os conflitos na Ucrânia e na Síria.

RD: Parece que os russos começaram a prestar mais atenção à Síria desde o início da campanha militar no país. Você concorda com essa percepção?

AL: Não, as nossas pesquisas não mostraram um crescimento do interesse dos russos pela Síria por conta do envolvimento da Rússia no conflito do país. A campanha militar na Síria atraiu menos interesse do que os acontecimentos na Ucrânia. Os eventos no Donbass foram muito mais importantes para os russos por várias razões.

Em primeiro lugar, a Ucrânia é um país vizinho com uma história comum e com o qual a Rússia e seus cidadãos têm muitas ligações. Segundo, as tentativas de Kiev de se juntar à União Europeia e se distanciar da Rússia provocaram uma resposta muito controversa por parte dos russos: foi uma mistura de indignação, raiva e traição.

Terceiro, a ideia de integração com o Ocidente e com a União Europeia não é nova para a sociedade russa, que já seguiu esse caminho nos anos 1990.

A situação na Síria é completamente diferente. Os russos não têm nenhuma razão para prestar muita atenção aos acontecimentos nesse país árabe. Todas as tentativas de encontrar laços históricos, como, por exemplo, o fato de que a Síria é o berço do cristianismo ortodoxo ou de que esse país é um velho aliado da Rússia, falharam. Até a ideia de combater o terrorismo mundial na Síria não foi bastante convincente para os russos.

Aleksêi Levinson, head of Levada Center’s Analytical Department Foto: Russia DirectLevinson: "No caso da Ucrânia, os objetivos foram difíceis" Foto: Russia Direct

É justo afirmar que o Kremlin lançou a campanha militar na Síria para distrair a opinião pública sobre o conflito na Ucrânia?

Não posso negar que diversos políticos russos tentaram atingir esse objetivo e devo admitir que, de alguma forma, eles conseguiram distrair a atenção da população.

Afinal de contas, é uma questão de diversificação da cobertura dos canais de televisão russos: em vez de mostrar imagens dolorosas do leste da Ucrânia, as pessoas começaram a ver os caças russos que bombardeiam os terroristas na Síria. Essas imagens têm um grande potencial para atrair a atenção.

Por que 68% dos russos apoiaram a campanha militar do Kremlin na Síria?

tin é o líder nacional. Ele tomou a decisão e prometeu proteger o presidente sírio, Bashar al-Assad. Os russos apoiaram a campanha militar na Síria como um reflexo de seu grande respeito pelo presidente. No entanto, as razões ideológicas para o envolvimento da Rússia na guerra síria foram muito fracas.

Os russos apoiam não o discurso político sobre o futuro da Síria, mas o presidente russo. Quando Pútin decidiu retirar as tropas da Síria, 81% da população apoiou essa decisão, enquanto apenas 7% se manifestou contra. Isso mostra que a população apoia todas as decisões tomadas por Pútin. 

Há um outro exemplo disso. A deterioração abrupta das relações entre a Rússia e a Turquia se deve não à derrubada de um avião russo pelas Forças Aéreas da Turquia, mas à resposta de Pútin. Ele deu o sinal verde ao movimento antiturco na Rússia.

A campanha de informação sobre a Síria foi mais bem sucedido do que a campanha sobre a Ucrânia?

No caso da Ucrânia, os objetivos foram muito difíceis. O Kremlin teve que convencer as pessoas de que não havia tropas russas no leste da Ucrânia, o que não correspondia à verdade. Mudar a atitude dos cidadãos russos em relação à Ucrânia é extremamente difícil.

Neste contexto, a campanha de informação sobre a Síria foi muito mais fácil. Na verdade, conquistar a opinião pública russa não foi o objetivo principal da operação militar no país árabe. Pútin enviou Forças Aeroespaciais russas à Síria por motivos políticos. Foi um passo muito bem sucedido para fortalecer a posição da Rússia no cenário internacional.

As pesquisas de opinião pública mostram que os russos não entendem claramente o que é o Estado Islâmico. Os russos não têm medo das ameaças terroristas?

A maioria da população russa admite que o risco de atentados terroristas existe. Eles veem o Estado Islâmico e os terroristas do Cáucaso do Norte como as maiores fontes de ameaça, mas não há pânico ou medo excessivo.

Texto originalmente publicado pelo Russia Direct

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