Moscovitas reagem a assassinato de criança por babá

Russos se dividem entre tristeza e indignação por crime bárbaro

Russos se dividem entre tristeza e indignação por crime bárbaro

EPA
Silêncio dos canais de TV sobre a tragédia é criticado pela população. Enquanto Kremlin nega interferência, observadores avaliam tentativa de evitar sentimentos anti-islâmicos.

Um grande número de pessoas vem se aglomerando junto à saída da estação de metrô Oktiabrskoie Pole, no noroeste de Moscou, onde a Polícia deteve a babá uzbeque Gultchekhra Bobokúlova, de 39 anos, após ter degolado uma menina e incendiado o apartamento da família.

No memorial erguido pela própria população, flores e brinquedos estão sendo depositados para honrar a memória da criança assassinada.

“Isso me horrorizou, também tenho uma criança”, diz a moscovita Olga, com os olhos cheios de lágrima. “Não consigo imaginar o que levou essa mulher a fazer uma coisa dessas.”

Enquanto os moradores locais reagem intensamente à tragédia, parte da população se mostra indignada com o fato de os canais de TV federais russos não terem feito qualquer cobertura do incidente.

“Proibiram divulgar! Não mostraram nada na televisão!”, critica um senhor presente no local.

O porta-voz do Kremlin, Dmítri Peskov, se limitou a declarar, porém, que as autoridades não emitiram recomendações aos canais de televisão, embora apoiem a decisão.

Bobokúlova, que se encontra sob custódia, confessou o crime e foi submetida a uma série de exames investigativos.

A woman brings flowers to commemorate the recently murdered child outside a residential building, where the child together with family members lived, in Moscow, Russia, March 1, 2016. Russian police wrestled to the ground a woman in a hijab brandishing the severed head of a child outside a Moscow metro station on Monday and charged her with murder, in an incident that stirred fears of an Islamist terrorist attack. Foto: ReutersFlores e presentes se acumulam em frente à estação de metrô Foto: Reuters

Segundo o chefe do Serviço Federal de Controle de Drogas da Rússia, Viktor Ivanov, acredita-se que a babá poderia estar sob efeito de drogas.

Questão islâmica

A especialista em estudos islâmicos Raissa Suleimánova acredita que as tentativas de atribuir o crime ao consumo de drogas ou à instabilidade psicológica de Bobokúlova tenha por intenção evitar sentimentos anti-islâmicos na sociedade, mas “produzirá um efeito contrário”.

“O desejo de ocultar uma conotação religiosa e ideológica apenas irá convencer os russos da existência dela”, explica Suleimánova, ao criticar a não cobertura por canais de TV federais.

“Foram justamente os radicais islâmicos que passaram a praticar a decapitação das pessoas com o intuito de aterrorizar. Cortar a cabeça tornou-se um símbolo para os partidários do Estado Islâmico, diante do qual os inimigos tremem”, acrescenta.

Para o vice-presidente da Administração Espiritual dos Muçulmanos da Rússia, Damir Mukhetdinov, no entanto, o crime recente não pode ser analisado sob a ótica do Islã.

“Mesmo que ela compartilhe das opiniões de extremistas, não se deve estabelecer relação com a cultura islâmica. Em qualquer livro sobre direito muçulmano está escrito que a guerra não deve ser travada contra crianças, mulheres e idosos”, diz Mukhetdinov.

Babás estrangeiras

Em relatos à imprensa russa, os pais da menina decapitada garantiram que não restavam queixas em relação ao trabalho de Gultchekhra. Segundo eles, a babá já cuidava da criança havia mais três anos e se tornara praticamente membro da família.

Bobokúlova, porém, trabalhava em Moscou sem a licença formal obtida por meio da análise nos bancos de dados dos órgãos de segurança, exames toxicológicos e avaliação de um psiquiatra.

Após o ocorrido, o primeiro vice-presidente do Comitê da Indústria da Duma do Estado (câmara dos deputados na Rússia), Vladímir Gutenev, solicitou ao Serviço Federal de Migração que verifique o cumprimento das leis referentes ao emprego de imigrantes por parte das agências de recrutamento de babás.

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