Morte de tigre selvagem expõe caça ilegal no Extremo Oriente

Policial conversa com caçador detido durante operação no rio Irtich

Policial conversa com caçador detido durante operação no rio Irtich

Aleksêi Malgavko/Ria Nôvosti
Barreiras para concessão de licenças poderiam reduzir oferta de animais no mercado negro.

Há poucas semanas, a morte de um tigre-siberiano na região de Khabarovsk, no Extremo Oriente russo, foi parar nos noticiários e expôs o problema da caça ilegal na Rússia. Hoje há cerca de 3 milhões de caçadores registrados no país, mas nem todos praticam a atividade dentro da lei.

“Há duas classes de caçadores, a primeira que realiza a caça de subsistência, mas não se pode dar o luxo de comprar uma licença de caça e a segunda, que pratica a atividade por dinheiro”, explica Pável Fomenko, coordenador do WWF (Fundo Mundial da Natureza) na Rússia.

Cerdos, ursos, tigres e leopardos estão entre as espécies mais procuradas para a exportação a países vizinhos, onde as tradições ligadas à medicina oriental tradicional demandam diferentes partes dos animais, como patas, tendões e caudas.

Quanto mais raro o bicho, mais elevado é seu preço no mercado negro – assim como a gravidade da pena que se pode incorrer na Rússia. A multa pela caça de um javali, por exemplo, varia de 60 mil rublos (950 dólares americanos) a 150 mil (quase US$ 1.900).

“Hoje restam em estado selvagem entre 480 a 540 tigres-siberianos. Essas espécie está ameaçada de extinção, e sua caça é estritamente proibida. Incorrem em crime tanto quem caçou, quanto quem compra o corpo. A multa que pode chegar a 2 milhões de rublos (quase US$ 16.000), além de prisão até 7 anos”, diz o porta-voz do Centro Tigre de Amur, Andrêi Chorchin.

Há alguns anos, o Código Penal tipificou não somente a atividade de caça em si, mas outras ações complementares como transporte, armazenamento, circulação e revenda dos animais.

“Dessa forma, os caçadores nunca ficam com os animais. Ao contrário, deixam as armas em casa para evitar o flagrante, afirmando que estavam na floresta para colher cogumelos e inadvertidamente encontraram as carcaças”, conta o caçador profissional Aleksandr Barfolomeev, da Organização Inter-regional de Caçadores e Pescadores de Leningrado.

Antes de a nova lei entrar em vigor, foram encontradas 8 peles de tigre em uma residência no Extremo Oriente russo. O processo se arrasta desde então e dificilmente alguém será punido.

A não ser em caso flagrante, provar a culpa de um caçador ilegal é praticamente impossível, dizem os especialistas. Na maioria das vezes, as caças são organizadas por locais, que utilizam até mesmo câmeras escondidas.

Em 2014, os inspetores de caça da região de Amur conseguiram entregar à polícia 24 caçadores ilegais. No total, foram arrecadados quase 3 milhões de rublos (quase US$ 47 mil) em multas, e mais de 50 pessoas tiveram suas licenças de caça anuladas.

“Alguns temem as multas e as penas, mas há os insolentes. Oficiais relatam que, mesmo após serem pegos pelas autoridades, alguns continuam com a prática”, afirma Barfolomeev.

Pútin e o tabu

Os caçadores registrados no país chegam a quase 3 milhões, mas esse número cresce a cada dia, segundo Fomenko. “Uma vez que monitorar a todos é quase impossível, a medida mais eficaz de controle seria uma seleção mais cuidadosa para a concessão de licença”, alega.

“Para obter uma licença, basta escrever um requerimento a uma associação de caçadores”, diz o coordenador do WWF Rússia. Na Suécia, por exemplo, a licença só é concedida após seis meses de aulas.

“Antes havia [na Rússia] o sistema de indicação, em que duas pessoas atestavam a concessão, havia cotas para caçadores. Hoje qualquer um pode se tornar um caçador”, diz.

Por outro lado, a caça ilegal para ganho de troféus, geralmente realizada por caçadores contratados, já não é mais tão comum. “A medida repressiva mais eficaz veio de um discurso do presidente russo”, diz Fomenko.

“Após o Fórum de São Petersburgo, quando Vladímir Pútin afirmou amar tigres, os oligarcas tomaram isso como uma diretriz de comportamento, e logo a caça de tigres tornou-se tabu.”

 

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