Loucos pela Rússia (sem nunca ter pisado lá!)

Políticos estão entre motivos de atração para fãs do país. Foto: Marina Darmaros/Gazeta Russa

Políticos estão entre motivos de atração para fãs do país. Foto: Marina Darmaros/Gazeta Russa

Brad Pitt, New Kids On The Block, Spice Girls, Pamela Anderson. Todo mundo já teve um amor platônico. Mas como amar um país inteiro sem conhecê-lo?

Brad Pitt, New Kids On The Block, Spice Girls, Pamela Anderson. Aleksandr Popov, t.A.T.u. Mas como amar um país inteiro sem conhecê-lo? A Gazeta Russa escolheu três exemplares desse espécime e tentou entender como é possível ser tão doido pela Rússia sem conhecê-la de pertinho. Confira:

 

"Nunca pisei na Rússia, mas não foi por minha culpa"

Caetano Vilela, diretor cênico


Em sua formação teatral, Caetano fugiu da mesmice e saltou de Stanisláviski para seu mentor, Meierhold, quando sequer existiam traduções desse no Brasil Foto: Zhe Gomes

Para o diretor cênico Caetano Vilela, 46, tudo começou aos 19 anos. "Foi quando descobri a importância de Meierhold para o teatro mundial. A obra dele não havia sido traduzida no Brasil, mas nossa companhia de teatro tinha xerox de textos dele em espanhol", disse à Gazeta Russa.

Já em 2006, a ópera "casou", definitivamente, o artista com a cultura russa. "Porque em 2007 eu dirigi a ópera de Shostakovitch: Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk para o Festival Amazonas de Ópera, e então comecei a estudar o idioma com a professora Aurora Bernardini, da USP", conta.

"Lady Macbeth" estreou em 2007 e ele parou os estudos do idioma, mas continuou a pesquisar sobre autores e compositores que gostaria de ter em seu repertório para o futuro: Mussorgsky, Prokofiev, Stravinski etc.

Daí, partiu para o cinema, a literatura e demais gênios das artes do país.

"Eisenstein, por exemplo, para mim é o maior cineasta de todos os tempos. A literatura então, nem se fala! Em meados dos anos 1990 começamos a ter os livros traduzidos direto do russo de forma brilhante, o que fez com que vários artistas adaptassem literatura russa para o palco."

Representante do Brasil na Quadrienal de Praga em 2015 pela direção e iluminação de Licht+Licht, agraciado com o prêmio Shell de Iluminação em 2011 pelo espetáculo "Dueto para Um" e com o prêmio Carlos Gomes de Música Erudita pela iluminação das óperas Ca Ira e Ariadne auf Naxos, entre outros, Vilela pretende ir no segundo semestre deste ano ao país que tanto admira.

"Nunca pisei na Rússia, mas não foi por minha culpa. Identifico-me muito com a cultura russa e isso me guiou nos meus estudos no teatro."

 

"Nem todo russo é bêbado"

Caique Jr., criador da página "Amigos da Rússia"


O amor de Caique pelo país nasceu quando ele adicionou um russo por engano no Skype Foto: Arquivo pessoal

Em 2012, trabalhando pela internet, o sergipano Caique Jr., 29, foi adicionar um colega no Skype e, por um erro de digitação, acabou convidando um russo para ser seu amigo no aplicativo. Foi assim que se iniciou a improvável história de amor desse ex-estudante de publicidade pela Rússia.

"Ele escrevia em russo e eu pensava: 'Puxa, um alemão!' Até que coloquei no Google e descobri que era russo", conta.

Naquele dia, Caique entrou na webcam com seu novo amigo, bateu papo em inglês tocou violão, conheceu seu irmão, os amigos, ouviu a língua russa e se apaixonou pelo povo do país.

Depois disso, ele começou a estudar a língua, criou a página "Amigos da Rússia" e conheceu uma centena de russos pela internet.Mas, até hoje, ele nunca viu um russo em carne e osso.

Filho de um bailarino, com uma família totalmente dedicada às artes, porém, ele sempre sentiu certo preconceito quanto ao país em casa e nos círculos que frequenta.

Para explicar o fenômeno, ele usa a influência norte-americana sobre a terra natal. "Até no filme novo dos X-Men eles dizem: 'Nossa ameaça antigamente era a Rússia e a China; hoje, nossos inimigos são os mutantes'."

Para quebrar os estereótipos, ele criou a página "Amigos da Rússia"."A Rússia não é mais comunista, nem todo russo é bêbado", explica.

Em setembro, ele pretende fazer sua primeira visita ao país. "Quero ir para a Sibéria, não para Moscou. Para Tomsk ou Novossibirsk."

 

"O muso Vladislav Surkov me fisgou"

Moara Juliana, diagramadora


Moara aponta para Surkov em calendário de "groupie política" que recebeu da amiga russa Foto: Marina Darmaros/Gazeta Russa

Quem não conhece pessoalmente a devoradora - e espalhadora - de memes Moara Juliana, 30, pode pensar que ela é cientista política ou blogueira profissional nas horas vagas - quando não está fazendo uma mistura dos dois ao criar posts cheios de humor no Twitter e no Facebook.

Mas o veio político dessa diagramadora em atividade começou com seu interesse pela cena norte-americana, que a levou a conhecer uma "turminha" no Tumblr mais ligada à realidade russa em 2012.

"Comecei a ler alguns artigos e livros e perceber que TUDO da Rússia era interessante", conta.

"A política nos EUA é mais fácil de entender e de acompanhar. Na Rússia, você acaba dependendo do ponto de vista de quem relata, então a gente aprende que tem jornalista e blogueiro que é meio russófobo, tem os super pró-Pútin, tem o pessoal mais lúcido e imparcial... É legal entender as várias formas com que o Ocidente percebe a Rússia", diz.

Fã declarada - ou debochada? - do político Vladislav Surkov, ela diz que, de tanto assistir aos discursos dele e do premiê Dmítri Medvedev, aprendeu a amar o idioma, e começou a estudá-lo em um curso no centro de São Paulo.

"O 'muso' Surkov me fisgou... (Risos). Além dos motivos óbvios e fúteis de que ele é bonitão, me atraiu muito o papel dessa pessoa no cenário político russo de hoje... Ele é autodeclarado um dos criadores do que se chama de putinismo hoje... E além de tudo é uma figura: no escritório dele, mantinha uma foto de Obama e Tupac, estudou artes quando jovem, nasceu numa vilazinha bem pobre na Tchetchênia...", explica.

"Que fique claro aqui que não sou pró-Pútin!", ressalta.

Apesar de ter desejo de conhecer o país, ela não tem planos concretos para visitá-lo. "Quero ir, mas é bem caro", diz.

 

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