Lei americana sobre casamento gay esquenta debate na Rússia

"Povo é sensível a esse tipo de retórica e o nível de homofobia vai crescer ainda mais”, diz especialista. Foto: Piotr Kovalev / Interpress / TASS

"Povo é sensível a esse tipo de retórica e o nível de homofobia vai crescer ainda mais”, diz especialista. Foto: Piotr Kovalev / Interpress / TASS

Em 26 de junho, a Suprema Corte dos EUA legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo o país. A decisão gerou reação forte na Rússia, provocando um racha: condenada por políticos conservadores, e apoiada pelos liberais. Deputado chegou a pedir bloqueio do Facebook no país, já que ferramenta do arco-íris feriria sua lei contra a promoção da homossexualidade entre menores.

Na última sexta-feira (26), a Suprema Corte dos EUA legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todos os 50 Estados do país, incluindo os 13 que ainda proibiam a união legal entre LGBTs.

A decisão gerou reação não apenas nos Estados Unidos, e internautas de todo o mundo começaram a expressar seu posicionamento em relação à medida nas redes sociais. No Facebook, por exemplo, muitos usuários russos usaram a ferramenta do aplicativo para pintar com o arco-íris suas fotos do perfil, expressando seu apoio.

Vitáli Milonov, membro da Assembleia Legislativa de São Petersburgo e idealizador da chamada "lei antigay", declarou em entrevista à rádio Russian News Service, que pedirá ao Roskomnadzor (Serviço Federal de Supervisão de Telecomunicações, Tecnologia da Informação e Meios de Comunicação) que bloqueie o acesso ao Facebook em território russo.

De acordo com o legislador, a ferramenta que coloca um filtro de arco-íris sobre as fotos do perfil do Facebook violou a legislação russa, que proíbe a promoção da homossexualidade entre menores de idade.

A Igreja Ortodoxa Russa também criticou a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos. Em entrevista à agência de notícias Interfax, o porta-voz da Igreja, arcipreste Vsêvolod Tcháplin, declarou que os Estados Unidos estão tentando a "impor sua visão antinatural e pós-humana aos outros países".

Um ponto de vista diferente

Embora muitos russos tenham criticado a nova lei americana na redes, existem pontos de vista alternativos, e um grande número de internautas apoiou a decisão da Suprema Corte.

O político oposicionista Leonid Volkov, da Coalisão Democrática, escreveu no Facebook: "O amor é maravilhoso em todas suas manifestações, e o ódio é feio em todas as suas formas. Não compartilho do pessimismo daqueles que dizem que é impossível introduzir lei semelhante na Rússia. Os EUA, que são muito mais conservadores do que a Rússia, precisaram apenas de 20 anos para aprovar essa lei".

Entre os governistas, porém, também não houve unidade no posicionamento. O senador da região de Arkhangelsk, Konstantin Dobrínin, declarou à rádio Ekho Moskvi, que a Rússia diminuir a agressividade voltada a minorias sexuais.

“Antes de aprovar novas leis, é preciso criar um compromisso e considerar os interesses de todos os cidadãos do país, inclusive os representantes da comunidade LGBT e os conservadores”, disse.

Conservadorismo obrigatório

Para o professor da Mgimo (Instituto Estatal de Relações Internacionais, na sigla em russo), Valéri Solovei, a importância dada à questão é intensificada artificialmente.

"Não haveria nenhuma reação à lei, se os meios de comunicação parassem de falar sobre isso. Essa lei está se tornando motivo de debate só por causa do barulho que a imprensa russa gerou em torno disso. Com exceção de um pequeno grupo de pessoas interessados em política, que constituem de 5% a 7% da população russa, a lei não interessa a ninguém”, diz.

A socióloga Karina Pipia, autora de um relatório sobre a homofobia na Rússia, concorda com Solovei e afirma que a forte reação da sociedade, especialmente da camada conservadora, foi provocada pelas autoridades russas.

"Obviamente, a Rússia e os países ocidentais, incluindo os EUA, estão em confrontação política. E os políticos russos tentam opor seus 'objetivos conservadores' aos do Ocidente, acusando os países ocidentais de quebrar a moral tradicional. O público, em geral, é sensível a esse tipo de retórica e o nível de homofobia vai crescer ainda mais”, disse.

 

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