Grupo de mídia acusa Crimeia de discriminar tártaros

A ATR não foi o único veículo a não conseguir o registro Foto: TASS

A ATR não foi o único veículo a não conseguir o registro Foto: TASS

Holding tártara não conseguiu licenciamento russo e teve que encerrar operações na península. Tártaros são a terceira etnia mais populosa da Crimeia, após russos e ucranianos.

Em 1º de abril, terminou o período de transição para veículos de comunicação da Crimeia. Nessa data, a licença ucraniana deixou de valer e tornou-se obrigatória a apresentação da licença russa para operar.

Algumas empresas, porém, não conseguiram a nova documentação, como foi o caso da holding tártara ATR.

O Departamento de Estado dos EUA condenou "veementemente" o encerramento da ATR, assim como a União Europeia, que tratou o caso como violação da liberdade de expressão.

Já o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, expressou "profunda perplexidade" com as acusações da companhia de que o país tenha atentado contra a liberdade de expressão e os direitos de uma minoria étnica - os tártaros - de operarem um veículo de comunicação na península.

"Desde maio de 2014, houve tempo suficiente para todos os trâmites de documentos necessários de modo seguro e correto", lê-se em comunicado da pasta.

Embuste?

A ATR não foi o único veículo a não conseguir o registro. Mesmo assim, os tártaros declaram estar sofrendo discriminação.

"A ATR era o único canal tártaro na Crimeia. Os tártaros da Crimeia ainda têm meia hora de transmissão na televisão estatal, mas isso, de qualquer forma, não substitui a ATR, que transmitia 24 horas", disse em entrevista à Gazeta Russa o fundador da holding, Lenur Isliamov.

Segundo ele, o grupo apresentou quatro vezes os documentos necessários ao Roskomnadzor (Serviço Federal de Supervisão das Comunicações, Tecnologia da Informação e Meios de Comunicação). Mas esses teriam sido devolvidos intocados três vezes.

Minorias étnicas na Crimeia

Resultados preliminares do censo de 2015 da Crimeia revelam que na região vivem 1,5 milhão de russos, 344 mil ucranianos, 232 mil tártaros, 3.144 judeus, 2.877 gregos e 1.868 búlgaros. Os resultados finais deverão ser divulgados até 1° de maio.

À Gazeta Russa, o Roskomnadzor declarou que houve problemas na entrega da documentação. Segundo o porta-voz do departamento, Vadim Ampelonski, os papéis foram recebidos novamente em 27 de março e serão devidamente analisados.

Já o chefe da República da Crimeia, Serguêi Aksionov, afirma que o grupo falhou deliberadamente no processo de licenciamento para criar uma falsa aparência de opressão à população tártara da Crimeia. Muito em breve, surgirá na península uma empresa pública de radiodifusão para os tártaros sem "ditames ideológicos ou financeiros", lê-se em comunicado de Aksionov no site do governo.

Étnica x política

O caso não foi o primeiro escândalo com veículos de comunicação na Crimeira. No início de março de 2014, por exemplo, a assessoria de imprensa do Conselho de Ministros da Crimeia começou a falar em cortar os canais ucranianos para "parar o fluxo de mentiras". Poucos dias depois, foi desligada a transmissão analógica de todos os canais ucranianos.

Para o vice-presidente da União Russa de Editores de Periódicos, Vassíli Gatov, o conflito com o canal tártaro tem, sim, raízes na questão étnica.

"A elite da Crimeia tem seus próprios interesses na península e está lutando por eles. Além disso, o governo da Crimeia tem medo de abrigar uma imprensa local independente e entende que vem de Moscou uma ordem para esmagar a mídia", diz Gatov.

Na mesma linha segue o apresentador da ATR Lenur Iunusov, que diz ser improvável surgir problemas com outras minorias étnicas.

"Elas são muito pequenas e seus veículos de comunicação nunca tiveram grande influência social", afirma Iunusov.

A comunidade judaica, por exemplo, admite que seus meios de comunicação não abordam questões políticas.

"Na Crimeia, existem três jornais pertencentes a fundações beneficentes que escrevem exclusivamente sobre os assuntos da comunidade", disse o chefe da comunidade religiosa judaica de Ialta, Vladlen Liustin.

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