A queda do avião MH17: o que pensa o cidadão russo sobre a tragédia?

"Eu tenho a impressão de que nem Pútin e nem a União Europeia são capazes de controlar o que está acontecendo" Foto: RIA Nóvosti

"Eu tenho a impressão de que nem Pútin e nem a União Europeia são capazes de controlar o que está acontecendo" Foto: RIA Nóvosti

Opiniões vão de crença em acidente a revolta contra os governos da Rússia, Europa e EUA.

A Gazeta Russa perguntou a opinião de russos de diferentes idades e perfis, que vivem tanto na Rússia quanto no exterior, a respeito do desastre ocorrido com o avião MH17, incluindo quem eles acreditam ser o responsável pela explosão e como a tragédia está sendo retratada na mídia. Confira abaixo os depoimentos.  

Mikhail, 80 – engenheiro aposentado, Kuznetsk (região de Penza)

Eu lamento muito pelos inocentes mortos. Minhas mais profundas condolências aos amigos e familiares. Quem quer que sejam os autores dessa provocação hedionda, deveriam ser severamente punidos. Não havendo informações precisas sobre o ocorrido, é difícil dizer quem deveria ser responsabilizado, mas os que deram a ordem para que o míssil fosse lançado são os maiores culpados. Eu acho, embora eu não esteja 100% certo disso, que foram os comandantes da milícia.

Em um contexto mais abrangente, os políticos da Ucrânia (Ianukovitch, Iatseniuk, Turtchinov, Porochenko), da Rússia e dos Estados Unidos deveriam ser responsabilizados. A culpa é da Ucrânia porque sua política levou a uma guerra civil. É da Rússia porque contribuiu enviando cossacos, tchetchenos e outros para essa guerra. A culpa é também dos Estados Unidos porque provocam divisões em outros países. Lembremos da Iugoslávia e da Tchecoslováquia. Zbigniev Brzezinski [político polonês-americano que foi conselheiro de segurança nacional dos EUA entre 1977 e 1981] afirmou abertamente que um dos objetivos dos Estados Unidos era o colapso da URSS e, por consequência, da Rússia. 

Iúlia, 43 – contadora, São Petersburgo 

Para mim é difícil dizer, eu não tenho conhecimento total da conjuntura. Eu não assisto TV, não leio jornais, eu absolutamente não utilizo os meios de comunicação de massa – nem russos nem de qualquer outro lugar. A primeira vez que eu ouvi a respeito disso foi pela TV na datcha [espécie de chalé, geralmente localizado no campo] dos meus pais, quando o avião desapareceu dos radares. Minha primeira reação foi pensar que as milícias (afinal de contas, eles são separatistas) haviam derrubado o avião por burrice, por engano, devido ao amadorismo. Meu pai disse que você precisa de armamento pesado para derrubar um avião àquela altura. Mas a Rússia está ajudando os separatistas com armas, não é isso?

Essa foi minha primeira impressão. Depois daquilo, eu sinceramente não me interei a respeito da situação. Eu sinto muito pelos que morreram... E é horrível pensar que em tempos de paz as pessoas saem de férias e mesmo assim pode acontecer isso.

Vadim, 28 – soldado, Cáucaso do Norte

Um avião comercial voa a uma altura de 10 km, apenas o BUK tem um alcance desses, mas os milicianos não possuem esse armamento! Além disso, em sua defesa, eu posso dizer que, se eles tivessem esse equipamento, eles derrubariam aeronaves inimigas com maior frequência. Eu não vejo razão para eles terem feito isso, agora todos querem matá-los. Mas os Estados Unidos têm um débito global, eles precisam de guerra!

Iliá, 27 – historiador, Sevastopol

Na complexa situação que ocorre atualmente no leste da Ucrânia, o interesse de Kiev e das milícias é desacreditar o lado oposto aos olhos da comunidade internacional. É impossível dizer com 100% de certeza que as milícias não estão envolvidas, embora seja improvável que eles tenham meios para destruir um avião na altura em que o Boeing estava voando.

Por outro lado, Kiev também teria motivos para destruir o avião e os meios para fazê-lo. Seria de grande proveito para Kiev derrubar o avião para depois acusar os militantes do sudeste e a Rússia. Mas será que as lideranças ucranianas realmente teriam sangue frio para derrubar deliberadamente um avião de passageiros e depois acusar o outro lado? Eu acho que tudo é possível, mas isso é improvável.

A meu ver, tudo é muito mais simples. Não importa se o avião foi abatido a partir do solo ou do ar, provavelmente foi um erro trágico por parte do exército ucraniano que levou a essa tragédia.

O pior disso tudo é que as partes envolvidas no conflito e a comunidade internacional estão tentando especular em prol de seus interesses, acusando uns aos outros e à Rússia. 

Natália, 25 – geóloga, Kaliningrado

O Boeing foi abatido por essa gente assustadora para quem o único caminho possível para a autorrealização e o sucesso é a guerra, saques e terrorismo. Agora eles estão empenhados no território ucraniano, ontem mesmo essas pessoas não eram nada e agora elas controlam equipamentos militares, comandam forças e, uma vez que não agem por ideais, mas meramente por uma questão de lucro, elas certamente podem ter "confundido" um Boeing comercial holandês com um avião de carga ucraniano.

Eu tenho a impressão de que nem Pútin e nem a União Europeia são capazes de controlar o que está acontecendo. Consequentemente, os culpados são aqueles que causaram essa bagunça. Pútin, porque provoca e fomenta essa situação, os EUA e a Europa, porque eles não tomam nenhuma atitude além de emitir declarações.

Sófia, 28 – pesquisadora, Marburg, Alemanha (nascida em Moscou)

Como eu acompanho tanto o noticiário russo quanto o alemão, para mim é difícil dizer o que sinto. Eu acho que é difícil saber a verdade sobre esse desastre. O que aconteceu é obviamente horrível, mas eu não acho que isso tenha sido planejado e que esse avião fosse um alvo; pelo menos é nisso que quero crer. Na Alemanha, eu sinto que eles têm certeza da culpa de Pútin e de Moscou e que, para eles, Pútin poderia fazer as milícias pararem de lutar... E eu sofro pelas pessoas mortas, é terrível imaginar o que elas e suas famílias passaram.

 

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