Histórias de quem ganha a vida dirigindo pelas ruas de Moscou

"É verdade que às vezes ficamos cansados da estrada. Mas as vantagens são maiores: contato com as pessoas e poder sempre apreciar a cidade a partir do nosso local de trabalho" Foto: Shutterstock

"É verdade que às vezes ficamos cansados da estrada. Mas as vantagens são maiores: contato com as pessoas e poder sempre apreciar a cidade a partir do nosso local de trabalho" Foto: Shutterstock

Quem está ao volante do bonde, do táxi, da limusine ou do ecotáxi? Como é que estas pessoas veem Moscou e qual é para elas o principal problema nas vias da capital? O jornal “Ogoniók” foi para as ruas para tentar descobrir.

Osman Tentiev, motorista de kombi de carreira [as “Marchrutkas”, como são conhecidas, são uma espécie de miniônibus que segue sempre por um trajeto pré-definido], 53 anos.

"Eu dirigia táxi desde os anos 1980 até me mudar para Moscou há apenas alguns anos. Vim de Bishkek: o dinheiro deixou de chegar e a minha esposa me mandou vir trabalhar em Moscou. Na minha cidade eu também trabalhava como motorista e às vezes fazia uns bicos como vendedor de frutas para ganhar um extra", diz Osman

Ele diz ter certeza de que os imigrantes são os que menos provocam acidentes de trânsito. "Na nossa empresa somos seriamente multados por cada infração na estrada e ninguém quer perder metade do salário. Por outro lado, a tensão é terrível, por vezes chegamos a ter que fazer até 15 horas por turno. Nem mesmo temos tempo para almoçar. Eu trago sempre comigo lavash (tipo de pão da Ásia Central) e como atrás do volante. Embora os donos da nossa empresa sejam russos, os motoristas são todos de fora: do Quirguistão, Tadjiquistão ou Moldávia. Praticamente não conheço motoristas russos de kombis, afinal, quem quer trabalhar nestas condições?"

O motorista está preocupado com a nova lei que obrigará estrangeiros a fazer de novo exame para receber a carteira russa de motorista. Ele tem a certeza de que depois que a lei entrar em vigor ele terá que regressar para casa.

Aleksêi Klimov, motorista de limusine, 40 anos

"Eu trabalho com isso desde 2001, quando andar de limusine em Moscou era muito exótico. Se em 1990 havia apenas uma ou duas limusines em toda a cidade, hoje, pelos meus cálculos, há em torno de 2.000 ou 2.500", diz Aleksêi. Foi precisamente o exotismo que o atraiu para esta profissão.

Segundo Klimov, para diminuir os engarrafamentos em Moscou, a solução é fazer os usuários de carro particular passarem para o transporte público. "Só tem uma saída: fazer todo o possível para que metade das pessoas que se deslocam de carro próprio opte pelo transporte público, como o ônibus. E também tirar os escritórios do centro da cidade. Por que as pessoas têm, todas as manhãs, que ir para o outro lado da cidade se podem trabalhar perto de casa?", pergunta ele.

 Antón Mordassov, condutor de ecotáxi, 35 anos

"Trabalho nisso desde maio deste ano. Para ser honesto, eu não sou muito bom com o manuseio da bicicleta, tenho má coordenação, mas para este trabalho ela não faz particularmente falta porque isso é um híbrido entre a bicicleta com uma máquina elétrica. Agora nós apenas pedalamos na marginal do centro, mas no verão andamos por toda a cidade, como um táxi normal", conta Mordassov. Ele diz que costumam acontecer acidentes na estrada, muitas vezes devido aos motoristas de fora.

Antón assegura que em Moscou se dá muito pouca atenção aos ciclistas. "Precisamos de mais ciclovias, regularizar mais o sistema do táxi-bicicleta, que é uma forma de transporte muito popular. Um dia peguei uma turista de Nova York e ela me contou que lá o custo do ecotáxi é de cerca de um dólar por quilômetro, nós aqui cobramos quase 10 vezes mais”, diz ele. “O futuro está nos táxi-bicicletas. O motor alcança os 65 km/h, quase sem consumir gasolina, é amigo do ambiente. Somos utilizados não apenas por turistas, mas também por empresários atrasados para uma reunião de negócios. Temos o estatuto de ciclistas e isso nos permite subir nas calçadas –os engarrafamentos não nos assustam."

Vera Tichkina, motorista de bonde, 50 anos

"Trabalho como motorista de bonde n linha nº 39, que faz Universitet – Tchistye Prudy, há 29 anos. Quando eu era jovem sonhava ser policial, mas o curso para motorista de bonde oferecia residência e isso acabou determinando o meu destino. Antes, em Moscou, os bondes era os tchecos Tatra, amarelos e vermelhos, agora há seis modelos diferentes, todos eles russos", diz Tichkina.

Para ela, o principal problema das estradas de Moscou é a sincronização errada dos semáforos. "Para cruzar a Lenisnkiy Prospekt (avenida Lênin), por exemplo, os carros têm 3 minutos de luz verde, enquanto que os bondes têm apenas 15 segundos. Nesse intervalo nem dá tempo de atravessar a avenida. Se o sistema de bondes for bem regulado, eles passarão a voar que nem andorinhas, mais rápido do que o metrô", afirma Tichkina.

Iúri Aleksséiev, motorista de táxi, 57 anos

"Sou motorista de táxi e, como costuma se dizer, sou meu próprio patrão, trabalho por conta própria. Começou como um bico, para ganhar um dinheiro extra. Depois, aos poucos, foi virando o meu principal ganho e agora até já consigo ter algum tempo livre para mim. É verdade que às vezes ficamos cansados da estrada. Mas as vantagens são maiores: contato com as pessoas e poder sempre apreciar a cidade a partir do nosso local de trabalho", diz Iúri. Ele diz também ter certeza que os acidentes nas estradas são provocados por motoristas inexperientes. "Ultimamente apareceram nas estradas muitos estudantes. Dá para ver quando os pais acabaram de comprar um carro novo para o filho e ele ainda não está muito familiarizado com a cultura das estradas.”

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