Rússia, Irã e Turquia consolidam cessar-fogo na Síria

Governo sírio, oposição e representantes internacionais reunidos em Astana na segunda-feira (23)

Governo sírio, oposição e representantes internacionais reunidos em Astana na segunda-feira (23)

ZUMA Press/Global Look Press
Autoridades de Damasco e opositores sentaram-se à mesa de negociações pela primeira vez desde o início do conflito sírio, que já se arrasta há quase cinco anos. Apesar do sucesso limitado das conversações, Moscou ganha peso como ‘árbitro’ entre as partes.

O encontro, encerrado na terça-feira (24) em Astana, capital do Cazaquistão, foi marcado por ânimos exaltados e conversas indiretas. Durante toda a reunião, os lados se comunicaram por meio de oficiais dos países mediadores – a troika formada por Rússia, Turquia e Irã.

Ao término do encontro, nem o governo sírio nem a oposição armada assinaram a declaração final sobre os resultados das conversações proposta pelos intermediários.

Bashar Jaafari, representante permanente da Síria nas Nações Unidas e chefe da delegação de Damasco, descreveu os representantes da oposição como “terroristas” e ignorou os esforços ao deixar do hotel onde as conversas eram realizadas.

Paralelamente, os representantes da oposição criticaram a declaração final por não refletir o que veem como o papel negativo do Irã na Síria.

Apesar da falta de consenso entre as partes diretas, os três mediadores reiteraram a necessidade de distinguir a oposição armada dos terroristas e de criar um mecanismo para monitorar o cessar-fogo que entrou em vigor em 30 de dezembro de 2016.

Rússia atenua posição

A abordagem da Rússia, porém, diferiu da mostrada por Damasco e pelo Irã. O país agora tenta adotar a posição de mediador, em vez de manter apoio incondicional ao líder sírio Bashar al-Assad.

“Antes, nos uníamos a Assad e ao Irã rotulando toda a oposição como terroristas, mas agora estamos conversando com eles”, diz Vladímir Akhmedov, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Orientais da Academia Russa de Ciências.

A mudança de postura foi inclusive apontada pela oposição, que reconheceu o papel construtivo da Rússia no processo da paz na Síria.

“A Rússia está evoluindo de ator parcial com papel direto nas operações militares, para assumir o papel de árbitro com influência sobre o Irã e a Síria”, disse Mohammed Alloush, líder da delegação da oposição, durante a coletiva de imprensa que seguiu as conversações em Astana.

Alloush expressou a esperança de que Moscou continue desempenhando um papel positivo na obtenção de uma solução duradoura para o conflito.

“Depois de ter apoiado incondicionalmente a oposição, a Turquia também está mudando para uma posição mais moderada”, afirma Akhmedov, destacando que a Turquia retirou oficialmente a demanda de Assad deixar a presidência da Síria.

Segundo o pesquisador, a Rússia e a Turquia estão conseguindo influenciar o Irã, que possui uma posição mais radical, e “é por isso que a troika está tendo sucesso”.

Oposição aos militantes

Embora não tenham sido assinados novos acordos ou garantias de um plano de paz mais abrangente, em Astana, isso era “altamente improvável desde o início”, afirma Anton Mardasov, chefe do departamento de conflitos do Oriente Médio no Instituto de Desenvolvimento Inovador, em Moscou.

“O ponto da reunião era justamente fazer um registro oficial do cessar-fogo que está em vigor”, diz Mardasov.

Segundo o especialista, o cessar-fogo entre o governo e a chamada oposição moderada permitiu cessar as hostilidades, deixar certos territórios sob o controle dos opositores e dar a eles a chance de combater o Estado Islâmico e a Jabhat al-Nusra.

Anteriormente, o processo para distinguir os grupos de oposição armada da Jabhat al-Nusra, que agora se chama Jabhat Fateh al-Sham, havia causado grandes problemas.

“Desta vez, ao contrário dos processos de cessar-fogo alcançados pela Rússia com os EUA, essa separação está realmente acontecendo, e novos destacamentos do Exército Livre da Síria estão sendo formados para lutar contra a al-Nusra”, diz Mardasov.

Nesse contexto, a Turquia, que também tem influência direta sobre a oposição, vem desempenhando um papel importante no cessar-fogo, segundo o pesquisador.

A caminho de Genebra

Apesar do progresso tímido alcançado com a ajuda da troika, o caminho para a paz duradoura na Síria ainda será longo, dizem os observadores, uma vez que a oposição continuará insistindo na queda de Assad.

“O cessar-fogo é bem-vindo, mas sem um acordo político, a situação poderia novamente degringolar para conflitos entre Assad e a oposição”, sugere Leonid Issaiev, professor sênior de ciência política na Escola Superior de Economia.

“No conflito sírio, houve períodos de trégua graças às negociações em Genebra, mas a situação permaneceu assim até que a tentativa de chegar a um novo acordo fracassasse e, em seguida, a guerra fosse retomada novamente”, diz Issaiev.

A próxima fase de negociações de paz em Genebra está prevista para 8 de fevereiro. O objetivo da futura reunião, de acordo com um representante da oposição, será “concluir e complementar” o que foi obtido em Astana.

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