Estado Islâmico aproveita ofensiva em Aleppo para retomar Palmira

Palmira é considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco

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AP
Libertação de cidade histórica era considerada ponto alto de operação russa na Síria. Segundo especialistas, vigilância defasada sobre a área e pausas humanitárias constantes contribuíram para reagrupamento e contraofensiva de terroristas.

Militantes do Estado Islâmico (EI) aproveitaram o envolvimento do Exército sírio e da força aérea russa em Aleppo para lançar uma contraofensiva na região central do país e conseguiram retomar a cidade histórica de Palmira. A libertação anterior dessa área era vista por Moscou como um dos maiores sucessos de sua campanha na Síria.

O anúncio foi feito no último domingo (11) pelo governador da província de Homs, Talal Barazi. A ofensiva terrorista havia começado três dias, enquanto as tropas sírias avançavam sobre Aleppo, onde já controlam 96% do território.

A contraofensiva do Estado Islâmico obrigou a aviação russa a mudar urgentemente o foco de sua atenção para Palmira. Nas primeiras horas de  domingo, os ataques aéreos conduzidos pela aviação de longo alcance da Rússia (com bombardeiros Tu-22M3) mataram mais de 300 militantes e destruíram 11 tanques e veículos de combate.

De acordo com os militares russos, há atualmente mais de 4.000 militantes do EI em Palmira, além de artilharia, veículos blindados e carros-bomba.

Golpe contra o prestígio

O EI foi expulso da cidade de Palmira em 27 de março de 2016 graças ao apoio das tropas russas. A operação foi então anunciada como um dos principais sucessos da campanha da Rússia na Síria.

Para marcar a ocasião, a orquestra do Teatro Mariinsky, em São Petersburgo, liderada pelo renomado maestro Valéri Guerguiev, chegou a realizar um concerto no anfiteatro local construído pelos romanos ainda no século 2 a.C.

“A perda de Palmira para os terroristas do EI foi um duro golpe para o prestígio da Rússia”, disse, entrevista à agência de notícias Interfax, o ex-chefe do Estado-Maior da Rússia, general Iúri Baluievski.

No entanto, para Andrêi Suzdaltsev, pesquisador sênior associado na Escola Superior de Economia em Moscou, acredita que, por ser uma derrota tática, e não estratégica, a perda da cidade histórica não terá impacto sobre o andamento geral da guerra civil.

“Os oponentes da Rússia no exterior apresentarão a situação como se Moscou tivesse deixado a peteca cair. Ainda assim, o Ocidente também não tem muito a se orgulhar em sua luta por Mosul. A questão agora é como nossos políticos e os estrangeiros jogarão com suas cartas”, disse Suzdaltsev à Gazeta Russa.

Fuga de terroristas

Segundo Baluievski, Palmira recaiu nas mãos dos terroristas porque a liderança da força aérea russa não estava suficientemente vigilante.

“Os sírios provavelmente não têm as capacidades que temos. Onde estávamos olhando para permitir que Palmira fosse retomada pelo EI?”, questiona o general.

Os especialistas militares entrevistados pela Gazeta Russa argumentam que o Estado Islâmico conseguiu recapturar Palmira, em grande parte, graças às pausas humanitárias impostas durante o conflito para permitir que civis escapassem.

“Eu compreendo que é necessário garantir a segurança para os civis, tirá-los das áreas de fogo cruzado. Mas quando essas pausas humanitárias duram semanas, os militantes terroristas conseguem se recuperar”, acrescenta Baluievski.

“As constantes iniciativas de cessar-fogo permitem que os militantes se reagrupem, restabeleçam os canais de fornecimento e de comunicação e, depois disso, lançem uma contraofensiva”, diz Dmítri Safonov, observador militar do jornal “Izvêstia”.

Durante a última pausa humanitária em Aleppo, mais de 1.500 pessoas deixaram a cidade, segundo Safonov. “Parecia que a maioria deles eram terroristas. Eles não foram para o Iraque ou Turquia, eles permaneceram na Síria”, afirma.

Reconquista sangrenta

O general Iúri Baluievski acredita que os exércitos russos e sírios serão capazes de recuperar o controle sobre Palmira, embora a luta pela cidade possa se transformar em um “mar de sangue”. Isso porque, apesar de os bombardeiros da Rússia focarem nos subúrbios onde o EI está concentrado, os terroristas fugirão para áreas residenciais.

“Os combates voltarão a acontecer dentro dos limites da cidade. Os bairros residenciais de Palmira são formados por prédios baixos que ficam próximos uns dos outros. Cada quilômetro quadrado será reconquistado com o sangue de soldados e civis sírios, que serão usados pelos terroristas como escudo humano”, diz Safonov.

A fase ativa dos confrontos deverá ocorrer de meados de dezembro até o final de janeiro, prevê Anatóli Tsiganok, chefe do Centro de Previsões Militares e membro associado da Academia Russa de Ciências Militares.

“Em seguida, até meados de março, haverá fortes tempestades de areia na Síria, o que retardará as hostilidades na cidade e arredores”, disse Tsiganok à Gazeta Russa.

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