Por trás da operação em Aleppo

Crianças sírias recebem ajuda humanitária da Rússia no assentamento de Alkin

Crianças sírias recebem ajuda humanitária da Rússia no assentamento de Alkin

Serguêi Bobilev/TASS
Para especialistas, abertura de corredor humanitário é pretexto para ofensiva russo-síria.

No final de julho, o ministro da Defesa russo, Serguêi Choigu, anunciou o início de uma operação de grande escala em Aleppo, uma das maiores cidades da Síria.

Em 28 de julho, foram abertos corredores humanitários para permitir que civis e milícias deixem a cidade. No mesmo dia, Assad garantiu anistia para todos os combatentes que estivessem dispostos a baixar as armas.

Durante a última semana, a Rússia enviou mais de 18 toneladas de alimentos e medicamentos para Aleppo. A ajuda humanitária é distribuída entre os moradores em pontos especiais dentro da cidade e é fornecida por helicópteros.

Possível ofensiva

Aleppo se tornou um dos principais pontos de combate na Síria em 2012.

Representantes do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia negam a possibilidade de lançar ofensiva junto ao exército de Assad após o final da operação humanitária.

No entanto, especialistas russos estão convencidos de que um novo ataque seja inevitável.

"Os corredores humanitários devem ajudar a reduzir a concentração de civis e rebeldes dentro da cidade", diz o professor do departamento das Ciências Políticas da Escola Superior de Economia de Moscou, Leonid Issaev.

Segundo ele, é muito complicado realizar missões militares no território da cidade, por isso Assad quer evacuar todos os civis antes do início da ofensiva.

Para o editor-chefe da revista Russia in Global Affairs, Fiódor Lukianov, os diplomatas russos estão negando a possibilidade de uma ofensiva apenas devido à situação política.

“Não devemos nos enganar. Obviamente, a operação humanitária é apenas parte de uma ofensiva de Assad com o apoio das Forças Armadas russas ", disse Lukianov.

Já o pesquisador do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia, Vladímir Akhmedov, acredita que não se deva subestimar o efeito mais óbvio da operação humanitária: prestar apoio e evacuar os civis.

“A decisão de iniciar a operação humanitária é ótima. É necessário ganhar a simpatia dos sírios que vivem em áreas controladas pelos rebeldes”, diz Akhmetov.

Descontentamento dos EUA

A Rússia e as forças leais a Assad iniciaram a operação sem discussão prévia com a ONU ou com os EUA.

Enquanto o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, apoiou a iniciativa humanitária, a reação dos Estados Unidoos foi negativa.  

O Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, declarou que se a operação humanitária em Aleppo se tornar a preparação para a ofensiva, há o risco da “destruição completa da cooperação" entre Moscou e Washington na questão síria.

“A Rússia e os Estados Unidos têm pontos de vista completamente diferentes. É por isso que a Rússia muitas vezes age de forma unilateral”, diz Lukianov.

Segundo ele, a Rússia poderia se beneficiar da vitória na batalha por Aleppo, uma das principais cidades da Síria.

“Os Estados Unidos, pelo contrário, pretendem evitar a captura de Aleppo por tropas de Assad e são extremamente cautelosos com iniciativas russas”, diz.

Além disso, a possível ofensiva em Aleppo pode afetar a próxima rodada de conversações sobre a Síria em Genebra, no final de agosto.

“Se a ofensiva começar, o processo de Genebra pode ser congelado mais uma vez”, completa Lukianov.

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