Kremlin minimiza novas ameaças divulgadas pelo EI

Desfile em 2014 na cidade de Raqqa, que foi autodenominada capital do EI

Desfile em 2014 na cidade de Raqqa, que foi autodenominada capital do EI

Reuters
Após derrotas na Síria, grupo tenta conquistar apoio externo, dizem analistas. Paralelamente, há consenso de que a ameaça de ataques no país é bastante real.

Depois de o Estado Islâmico (EI) divulgar um vídeo no último domingo (31) pedindo que militantes islâmicos lancem uma jihad contra a Rússia, o Kremlin reiterou que esse tipo de ameaça não influenciará a política nacional contra o terrorismo.

“Ameaças como essas não podem influenciar a política da Rússia na luta contra o terrorismo”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmítri Peskov, acrescentando que não se deve dar atenção a intimidações de terroristas cuja ‘cauda está assando’.

No recente vídeo, um homem com o rosto coberto envia uma mensagem direta para o presidente russo Vladímir Pútin. “Pútin, você pode ouvir? Nós vamos à Rússia também e vamos matá-lo aí, inshallah”, diz o militante, antes de apelar aos militantes islâmicos que iniciem uma jihad no país.

Segundo a agência Reuters, o link para o vídeo publicado no YouTube foi postado por um usuário do aplicativo Telegram ligado aos militantes.

Por que agora?

O Estado Islâmico decidiu convocar seus seguidores para lançar uma jihad contra a Rússia porque a operação que está sendo realizada pelas Forças Aeroespaciais russas na Síria está causando sérios danos ao grupo, segundo Vladímir Akhmedov, pesquisador sênior no Instituto de Estudos Orientais da Academia Russa de Ciências.

“O EI tem sido seriamente atingido. Segundo as várias estimativas, o grupo perdeu de 30 a 50% do território que tinha na Síria”, diz Akhmedov.

Opinião semelhante é compartilhada pelo presidente da associação internacional de veteranos da unidade antiterror Alfa, Serguêi Gontcharov, que relaciona as ameaças à onda de ataques terroristas que conduzidos recentemente nos países europeus.

“Ao sofrer derrotas, o EI tenta mover suas atividades terroristas para fora da Síria. Isso cria uma ameaça para Europa, EUA e, possivelmente, também a Rússia”, diz.

Rússia sob alerta

Apesar das ameaças, o Estado Islâmico não realizou, até o momento, nenhum grande ato de terrorismo em solo russo. O maior ataque perpetrado contra Moscou foi a explosão do avião de passageiros Airbus А321 russo, que sobrevoava a Península do Sinai em outubro de 2015, causando a morte de 224 pessoas. No entanto, os especialistas alertam que a ameaça terrorista deve ser tratada com seriedade.

“Existem de 2.000 a 4.000 cidadãos russos que militam nas fileiras do EI, em sua maioria tchetchenos e representantes de outras repúblicas do Cáucaso do Norte”, destaca Akhmedov. “Com as derrotas militares na Síria e no Iraque, é muito provável que os militantes retornem à Rússia para realizar ataques aqui”, acrescenta.

Paralelamente, Gontcharov acredita que a Rússia estaria menos suscetível à ameaça terrorista que a Europa. “Os países europeus foram inundados de refugiados e migrantes, incluindo militares infiltrados do EI que podem entrar em ação a qualquer momento. Este não é o caso da Rússia”, afirma o especialista.

Luta até o fim

Os especialistas entrevistados pela Gazeta Russa acreditam que, diante das ameaças, os serviços especiais russos não só têm capacidade de lidar com a questão, mas também são capazes de impedir que os militantes retornem à Rússia. “Nossas fronteiras estão sob controle. Agentes em campo dispõem de vários dados sobre esses criminosos e mercenários que estão lutando na Síria”, diz Gontcharov.

Pouco antes da publicação do vídeo com ameaças, o diretor do Serviço Federal de Segurança (FSB, órgão que substituiu a KGB), Aleksandr Bortnikov, declarou que seu departamento estava conduzindo um trabalho sistêmico para prevenir ataques.

“O número de potenciais homens e mulheres-bomba sob controle operacional é atualmente superior a 220 pessoas”, disse então Bortnikov, alegando que o FSB vem cooperando com serviços secretos estrangeiros, incluindo dos EUA.

Entre os acadêmicos há também o consenso de que a operação na Síria deve ser mantida, por ser a única forma de derrotar o grupo e prevenir novas ameaças. “É importante não só vencer, mas é também despojá-lo de sua base social”, diz Akhmedov, uma vez que “a perda de território na Síria influencia no apoio ao grupo”.

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