Patrimônio da Unesco, Palmira ressurge à sombra da guerra

Concerto organizado em Palmira por orquestra sinfônica do Teatro Mariinsky, de São Petersburgo

Concerto organizado em Palmira por orquestra sinfônica do Teatro Mariinsky, de São Petersburgo

Reuters
Em visita à Síria, correspondente da Gazeta Russa encontra-se com combatentes dos Exércitos russo e sírio que ajudaram a libertar Palmira do Estado Islâmico e busca pistas para antecipar destino de cidade histórica declarada patrimônio mundial pela Unesco.

No início da manhã, nosso comboio parte para uma jornada de 300 quilômetros de Latakia para Palmira. Os veículos que transportam os jornalistas seguem escoltados pelas forças terrestres e aeroespaciais da Rússia.

Em terra, a cobertura dos veículos em movimento é realizada por tanques BTR-82A com canhões de 30 milímetros e por veículos blindados da classe Tigre, que levam combatentes das Forças Especiais russas. Enquanto isso, helicópteros de combate Mi-24 e Ka-52 garantem a proteção a partir do ar.

Postos de controle com soldados do Exército de Libertação Nacional são encontrados constantemente, a distâncias que variam de cinco a dez quilômetros. Ao verem o comboio de blindados russos e os veículos com jornalistas, as pessoas começam a acenar alegremente e, à medida que passamos, vão exclamando palavras de aprovação.

Em alguns lugares, esses postos são constituídos por um pequeno destacamento da infantaria, com fortificações mínimas, mas em certas áreas encontram-se trincheiras escavadas, tanques e peças de artilharia, pois ainda persistem confrontos com terroristas.

Reconstrução de Palmira poderá levar entre cinco e sete anos Foto: Nikolai Litôvkin

Seis horas mais tarde, entramos na cidade de Palmira. Nossa chegada é acompanhada por rajadas de artilharia: armas do Exército sírio disparam contra as posições de militantes do Estado Islâmico. No dia anterior, a 15 quilômetros do local em que estávamos, ocorreram confrontos com terroristas que criaram um reduto na cidade de Sukhna.

Atualmente, uma base temporária das Forças Armadas da Federação Russa está instalada nas proximidades de Palmira. Nela estão dispostos os sistemas autopropulsados de defesa antiaérea de mísseis e canhões Pantsir-S1, que têm como objetivo proteger de ataques aéreos as tropas e os sapadores.

Com uma rápida observação também é possível notar a presença de algumas estações de radar, mas não mais que isso, pois os dados sobre os equipamentos da base militar russa são considerados segredo de Estado e recebem o carimbo de “ultrassecretos”.

Palmira hoje

No lugar da outrora florescente cidade turística com uma população de 5.000 habitantes, restaram apenas casas abandonadas e semidestruídas. Vestígios de projéteis de artilharia e munições de tanques são visíveis por toda parte, e tem-se a impressão de que não há uma parede que não esteja crivada de furos provocados pelos disparos de fuzis e metralhadoras.

Um dos soldados do Exército sírio relatou à Gazeta Russa que os combates mais pesados não ocorreram na parte histórica de Palmira, e sim em áreas urbanas com ruas estreitas e alta densidade de edificações de poucos andares.

Fugas combinadas com militantes do EI geralmente terminavam em execução Foto: Nikolai Litôvkin

“A aviação russa não participou dessas batalhas. Os combates foram travados apenas pela infantaria, houve até mesmo embates com facas”, lembra o soldado sírio.

Segundo ele, a espinha dorsal da milícia do Estado Islâmico é composta por estrangeiros que se converteram ao Islã e chegaram à região para participar da guerra civil.  “Alguns vieram em função de razões ideológicas, alguns em busca de ganho fácil de dinheiro e outros simplesmente porque ansiavam por uma guerra”, relata o soldado.

Apenas 20% dos militantes do Estado Islâmico podem ser considerados combatentes profissionais; já os 80% restantes, foram arrastados para o conflito sem nenhuma experiência.

“Essas pessoas não sabiam o que fazer durante a ofensiva: não conseguiam se orientar no local, nem encontrar um ponto de onde pudessem disparar ou achar um refúgio", conta. 

Parte dos militantes dedicava-se a efetuar “pequenos negócios” com os moradores capturados. Por exemplo, o terrorista se oferecia para retirar da cidade uma pessoa, sozinha ou com toda a sua família, levá-la até o último posto de controle na periferia de Palmira e “libertá-la”.

No entanto, ser libertado significava ficar sem comida e sem água no meio do deserto, a 100 km de caminhada até a cidade de Homs. Além disso, esse tipo de fuga custava à pessoa todo o dinheiro que possuía e, frequentemente, após a libertação, o terrorista fuzilava o fugitivo.

Música pela paz

No último dia 5, a orquestra sinfônica do Teatro Mariinsky, de São Petersburgo, realizou um concerto gratuito na parte histórica de Palmira para os moradores da cidade e soldados que participaram de sua libertação.

Segundo o maestro Valéri Guerguiev, a apresentação foi uma homenagem à memória das pessoas que deram suas vidas em defesa de Palmira. “Nosso concerto é um apelo a todos para que, diante da ameaça terrorista, esqueçam as suas diferenças e unam os seus esforços na reconstrução da cidade”, disse Guerguiev em entrevista à Gazeta Russa.

Reconstrução de cidade histórica será financiada graças a fundo internacional Foto: Nikolai Litôvkin

Mikhail Piotrovski, diretor do museu Hermitage, também em São Petersburgo, disse ainda à Gazeta Russa que a destruição em Palmira revelou-se menor do que o esperado.

“Mais de 50% da cidade foi destruída, mas a maior parte pode ser restaurada. Acredito que serão necessários de cinco a sete anos de trabalho para recuperar parte do aspecto anterior de Palmira”, observou o especialista.

De acordo com Eleanora Mitrofanova, embaixadora da Rússia junto à Unesco, a organização internacional não terá problemas com a obtenção de verbas para restaurar a cidade.

“O dinheiro será disponibilizado pelo Fundo de Apoio ao Patrimônio. É uma contribuição de todos os países membros da organização. Agora é necessário realizar uma perícia, avaliar os custos financeiros e criar um plano de reconstrução da cidade”, explicou a diplomata.

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