Rússia inicia retirada de suas tropas aéreas da Síria

Retirada de tropas é também “sinal” para Assad, diz analista

Retirada de tropas é também “sinal” para Assad, diz analista

AP
Mais de metade dos caças e bombardeiros russos em território sírio estão sendo transportados de volta à Rússia. Especialistas avaliam atuação de Moscou na Síria, onde a guerra civil já se arrasta por cinco anos.

O primeiro grupo de caças e bombardeiros russos começaram a retornar na manhã desta terça-feira (15) a suas bases permanentes, após o presidente Vladímir Pútin anunciar o início de retirada das tropas da Síria.

Segundo um comunicado no site do Ministério da Defesa russo, os voos estão sendo realizados em grupos liderados por aviões militares de transporte Tu-154 ou IL-76, portando técnicos e engenheiros, além de material e equipamento técnico.

“Dos 60 caças e bombardeiros, mais da metade, talvez dois terços, será retirado”, disse à Gazeta Russa Viktor Murakhovski, um dos membros do conselho de especialistas da Comissão Militar-Industrial da Federação Russa.

“Mas, paralelamente, o número de tropas russas na Síria será reduzido apenas de leve, pois é necessário garantir a segurança na base militar russa em Hmeymim [no norte da Síria] e no porto de Tartus”, acrescentou.

Brasil se manifesta

Em nota publicada na segunda (14), o Itamaraty diz ter “acolhido com satisfação o início da nova rodada das conversações intra-sírias”, iniciativa mediada pelo Enviado Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura. A esperança é de que as novas conversações contribuam para o avanço do processo político que resultará na solução do conflito sírio.

Mais cedo, Pútin havia destacado que, antes do processo de retirada, as Forças Armadas russas deveriam organizar a proteção eficaz das bases militares russas permanentes na Síria, “que continuarão a funcionar como de costume”.

“Parte do nosso grupo militar estava tradicionalmente instalado na Síria havia muitos anos e agora terá que executar a importante função de monitorar o cessar-fogo e criar condições para o processo de paz”, disse o presidente.

Segundo os especialistas, deverão permanecer na Síria as unidades de helicóptero, que realizam missões de busca e transporte tático, e conselheiros militares para ajudar a liderança local na luta contra o Estado Islâmico (EI) e a Frente al-Nusra.

“A trégua na Síria não se aplica a grupos que são reconhecidos pela Rússia e pela coalizão liderada pelos EUA como terroristas. As Forças Armadas russas continuam a realizar ataques cirúrgicos sobre as bases de militantes do EI”, disse Murakhovski.

A Rússia também deixará na Síria os seus sistemas de defesa antiaérea S-400, Buk-M3, Tor-M2 e Pantsir S-1, segundo o coronel aposentado e analista militar Viktor Litôvkin. “Além disso, os navios de guerra da Marinha russa vão continuar a operar na parte oriental do Mediterrâneo”, disse Lit|ovkin à Gazeta Russa.

Curso alterado

De acordo com Vladímir Ievseiev, do Instituto de Países da CEI (Comunidade dos Estados Independentes), a iniciativa da Rússia tem por intenção reverter o quadro atual reduzindo o número de jogadores estrangeiros no conflito sírio.

“A Rússia realizou consultas fechadas com os Estados Unidos e começou a retirada depois de ter a promessa de que o envolvimento turco na Síria seria reduzido”, diz. “Nesse caso, a crise pode ser resolvida mais rapidamente. Compromissos semelhantes também podem ser assumidos com a Arábia Saudita”, completa Ievseiev.

Já Fiódor Lukiánov, editor-chefe da revista “Russia in Global Affairs”, acredita que o país cumpriu a sua missão na Síria e não permitiu que o país repetisse o cenário líbio, tornando-se “uma fonte completamente descontrolada de instabilidade na região”.

“O principal objetivo da operação das tropas aéreas russas não foi só lutar contra militantes do EI, mas também virar a maré da guerra civil”, destaca Lukiánov.

“Devido a esses ataques aéreos, o Exército sírio foi capaz de expulsar parte da oposição radical e dos terroristas das maiores cidades do país”, acrescenta.

Durante a campanha russa, porém, Moscou foi alvo de críticas por parte da coalizão liderada pelos EUA, que alegou que a operação contra o EI seria um disfarce para atacar grupos de oposição ao presidente sírio Bashar al-Assad.

“A retirada das peças de ‘combate’ é também um sinal para Assad de que a Rússia não vai sempre resolver os problemas da Síria na arena internacional e que o atual regime é capaz agora de tomar ações políticas independentes”, avalia Lukiánov.

A operação militar das Forças Aeroespaciais russas contra bases do EI na Síria foi iniciada em 30 de setembro de 2015.

O ministro da Defesa russo, Serguêi Choigu, anunciou nesta segunda-feira (14) que as forças russas haviam libertado mais de 400 assentamentos sírios em quase 9.000 missões. Os militares russos também destruíram mais de 200 instalações de produção de petróleo do EI e conseguir cortar completamente o fornecimento dos terroristas.

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