Presença russa traz esperança moderada a sírios

Diferentemente de 2011, ruas de Latakia deixaram de ser palco de confrontos

Diferentemente de 2011, ruas de Latakia deixaram de ser palco de confrontos

AP
Na tentativa de paz, ofensiva russa contra fundamentalistas islâmicos redefine rumos do conflito, mas reforça divisões internas na Síria.

A presença da aviação russa na Síria embaralhou a situação no país do Oriente Médio e ofereceu esperança aos moradores locais – se não do fim da guerra em curto prazo, ao menos de salvação pessoal.

“A intervenção da Rússia nos deu esperança. Desejamos que a guerra acabe para, enfim, regressarmos às nossas casas”, diz Amir Suliman, 25, de Aleppo, considerada a capital econômica da Síria. A cidade permanece dividida há alguns anos entre o Exército sírio e vários agrupamentos, entre eles o Estado Islâmico e a Jabhat al-Nusra.

Já no aeroporto de Latakia, no noroeste sírio, Amir aguarda um avião do Ministério para Situações de Emergência que o levará à Rússia. “Minha mãe é russa, e meu pai, sírio. Rebeldes tomaram nossa casa, em Aleppo, e tivemos que fugir para Latakia”, conta.

“Agora vou para São Petersburgo, onde vou continuar o curso de arquitetura no Instituto de Mineração. Espero que, depois de concluir os estudos, a guerra tenha acabado na Síria e os arquitetos voltem a ser necessários aqui”, continua.

Em Latakia, a guerra já não é mais evidente, como em agosto de 2011, quando os combates nas ruas eram frequentes. À noite, os moradores frequentam hoje cafés e restaurantes; aos fins de semana vão a discotecas e, de dia, à praia.

A apenas 30 km dali, porém, o Exército sírio perpetua esforços para controlar a fronteira com a Turquia, através da qual a oposição recebe reforços e munições.

“Temos muito a contestar a política de Assad, mas isso não é nada em comparação ao perigo que representa o Estado Islâmico e a Jabhat al-Nusra. Durante os anos da crise, a oposição síria foi incapaz de propor qualquer alternativa a Bashar, não vislumbramos uma só região que ela tenha ‘libertado’ e conseguido uma vida normal ‘sem Assad’”, afirma o professor de história Gadir Uassuf.

Contrastes de Latakia

Os jornalistas e militares que trabalham em Latakia, onde está situada a base aérea russa, são avisados desde o início para evitar os bairros sunitas e palestinos, onde o apoio a Assad e à operação de Moscou é muito mais fraco que entre os alauitas.

Em agosto de 2011, os bairros palestinos se converteram em arenas de luta armada contra o governo. Para repreender os manifestantes, as autoridades deslocaram canhoneiras para as águas costeiras abrindo fogo contra os oposicionistas.

Atualmente, a situação é mais calma, embora os postos de controle fortificados e os buracos de balas nos edifícios tragam à memória os acontecimentos de quatro anos atrás. A percepção ao atravessar esses postos também é bem diferente da Latakia pré-guerra: ruas largadas, mercearias vazias e mulheres de rodeadas de inúmeros filhos.

“Estamos destinados à pobreza, a maioria de nós não vislumbra nem um bom trabalho, nem um salário decente”, diz um morador local que prefere não ser identificado. “Foi isso que resultou dos protestos. Claro que nenhum dos que estimularam os motins desejava a guerra, foram os radicais estrangeiros que se aproveitaram da desordem. Agora, porém, pensamos que se Assad vencer, tudo voltará a ser como era.”

Síria dividida

A guerra também ressaltou as diferenças e a divisão interna na sociedade síria. Antes de 2011, era considerado impróprio perguntar a uma pessoa, por mera curiosidade, que religião professava, pois se tratava de um assunto particular. Hoje, porém, fiéis evitam entrar em bairros “alheios” com receio de represálias.

Enquanto no seio da minoria alauita o apoio a Bashar al-Assad permanece forte, o cenário é o oposto entre outros grupos religiosos e étnicos. Como consequência, a relação com os russos também é divergente.

Dos territórios não controlados por Damasco chegam constantemente acusações de ataques aéreos russos e sírios a estruturas civis, com supostas fotografias e vídeos que aumentam a tensão. Se para os apoiantes de Assad não passam de mentiras, os opositores os veem como provas de que o regime sírio é criminoso. 

 

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