Após vídeo do EI, especialistas alertam para riscos

Pilotos russos em base aérea de Hmeymim, na Síria

Pilotos russos em base aérea de Hmeymim, na Síria

Dmítri Vinogradov/RIA Nôvosti
Serviço de segurança examina autenticidade de material divulgado na quinta-feira (12). Apesar de preparo das forças, especialistas apelam para reforço de medidas antiterror.

Após a divulgação de um vídeo dos terroristas do Estado Islâmico (EI) ameaçando ataques na Rússia para “muito em breve”, na quinta-feira (12), as autoridades russas anunciaram que o material está sendo examinado pelos serviços de segurança do país. “Ainda será investigada a autenticidade do vídeo atribuído ao EI”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmítri Peskov.

“Não sei o grau de autenticidade do vídeo nem de fiabilidade das fontes. Mas não tenho dúvidas de que se trata de um material a ser analisado pelos serviços especiais”, acrescentou Peskov.

O vídeo do centro de mídia Al-Hayat, divisão de língua estrangeira do EI, tem como título “Em breve, muito em breve” e é falado em russo. Ao longo de cinco minutos, os terroristas fazem ameaças à Rússia e afirmam que, “muito em breve, o sangue será derramado como um oceano”.

Além de trechos de execuções brutais de reféns do grupo e de operações de combate, o vídeo mostra paisagens de Moscou, e da mesquita central de Kazan, Kul Sharif. A canção repete ininterruptamente a frase “em breve, muito em breve”, à qual  militantes do EI vão completando com promessas.

O Estado Islâmico já havia professado ameaças contra a Rússia e os EUA, que, embora mantenham posições distintas sobre o futuro do presidente sírio Bashar al-Assad, têm o Estado Islâmico como inimigo comum e bombardeiam posições do grupo terrorista no país árabe.

Para o veterano das forças especiais “Alfa”, Serguêi Gontcharov, a Rússia se tornou, porém, refém da situação política. “A mídia ocidental expõe de modo definido e claro uma posição: a Rússia é o principal inimigo do EI”, disse à Gazeta Russa. “Deve se levar muito a sério as ameaças feitas pelo EI, e acho que as agências de inteligência compreendem isso.”

Os constantes bombardeios a posições do grupo na Síria intensificam as ameaças contra a Rússia, concorda Gueórgui Mírski, pesquisador sênior do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais da Academia Russa de Ciências.

“O EI criou o seu próprio Estado um ano atrás, e agora eles já controlam metade do Iraque e quase metade da Síria”, diz. “Enquanto lutava e consolidava o seu território, o grupo não tinha tempo para pensar na Rússia. Mas isso mudou após o início dos bombardeios. Agora eles têm mais raiva dirigida contra nós do que contra os norte-americanos ou britânicos”, conclui Mírski.

Russos temem ataques

Uma pesquisa realizada pelo instituto independente Centro Levada, no final de outubro, 48% dos russos temem a ocorrência de atentados no país em um futuro próximo. O último estudo sobre o assunto foi divulgado poucos dias antes da queda do avião russo no Egito, cujas investigações também apontam para um possível ataque terrorista.

Os especialistas garantem, no entanto, que as agências de segurança russas têm preparo e qualificação, inclusive com militares israelenses, para combater as ameaças terroristas. “Eles já lidam com ataques terroristas há muitos anos”, diz Mírski.

“Mas, fora disso, são necessárias pessoas que se dediquem à luta contra o terrorismo, que penetrem em organizações como o EI, para descobrir onde é que eles estão e como funcionam. A principal questão que se coloca é se os nossos líderes serão capazes disso”, alerta.

Nova cortina de ferro

Gontcharov, veterano da “Alfa”, aposta no serviço de inteligência russo, mas aponta para dificuldades de controle no exterior. Segundo ele, a Rússia deve garantir a segurança nos voos charter que transportam apenas cidadãos nacionais.

“Os serviços de segurança têm que fazer suas próprias inspeções”, destacou. “Os fundamentalistas têm influências em qualquer país europeu, por isso, ninguém poderá garantir que não haja entre o pessoal do aeroporto alguém disposto a virar ‘mártir’.”

Apesar de recomendar cautela, Gontcharov considera um erro que, após proibir os voos para o Egito, a Duma (câmara dos deputados na Rússia) tente agora introduzir restrições às viagens de russos para Turquia e Tunísia. “Com isso, corremos o risco de nos tornar desterrados, de voltar, de fato, a levantar uma nova cortina de ferro. Essa é uma atitude errada”, arrematou.

 

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