Plano dos EUA é ‘fracassado’, mas Rússia não oferece alternativa

Tillerson (dir.) cumprimenta chanceler russo Serguêi Lavrov antes de reunião no Departamento de Estado dos EUA, em maio passado

Tillerson (dir.) cumprimenta chanceler russo Serguêi Lavrov antes de reunião no Departamento de Estado dos EUA, em maio passado

Reuters
Para especialistas, iniciativa vazada do Departamento de Estado não irá resolver atritos entre países. Washington, porém, não deve ser o único culpado por isso.

O plano do secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, elaborado pelo Departamento de Estado para orientar a abordagem da administração Trump em relação à Rússia, é um esforço para fazer um inventário das relações bilaterais. No entanto, a proposta vazada deixa muitas questões sem resposta, acreditam os especialistas na Rússia.

“Como sempre, o diabo está nos detalhes”, diz Andrêi Kortunov, diretor-geral do Conselho Russo de Assuntos Internacionais e membro do Clube Valdai de Discussões Internacionais.

“Por exemplo, os autores do plano aparentemente fazem referência a casos de assédio de diplomatas americanos [por serviços de segurança russos], quando falam de ‘ações agressivas contra os EUA’, mas os americanos dificilmente têm o direito de dar lição aos russos nesse assunto, considerando os diplomatas russos expulsos, as propriedades russas sancionadas nos EUA e o ambiente geral no qual a embaixada da Rússia em Washington opera hoje”, acrescenta o especialista.

Uma das principais críticas em relação ao plano vazado dos EUA é que ignora temas delicados envolvendo os dois países na Europa Oriental.

“Tópicos como sanções, escalada de tensões no Leste Europeu, sistema de defesa antimíssil na região e expansão da Otan são omitidos”, destaca Boris Mejuev, professor assistente do departamento de Filosofia na Universidade Estatal de Moscou.

O cientista político acredita que o novo programa, em seu formato atual, “não será capaz de gerar grande contribuição para solucionar os problemas existentes nas relações bilaterais EUA-Rússia”.

O ‘plano de Lavrov’

Paralelamente, o Kremlin não ofereceu qualquer alternativa que possa desenvolver uma sólida base para as relações com Washington e não se sabe da existência de um documento que regule a política externa russa em relação, especificamente, aos EUA.

“Apesar do fato de os russos serem arrogantemente críticos quanto ao plano de Tillerson, não temos uma ‘plano de Lavrov’ alternativa”, disse Mejuev. “Essa ausência revela um problema sério de desarmonias conceituais que as elites do país têm em relação à política externa russa e sua identidade nacional.”

Segundo o especialista, as elites políticas do país não possuem uma compreensão unificada do que Moscou quer do Ocidente e, portanto, “a chance de que um projeto semelhante para lidar com os EUA possa ser concebido pelo Kremlin ou pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros russo é mínima”.

A inexistencia de tal documento não significa, no entanto, que Moscou não “catalogue” suas insatisfações em relação a Washington.

“Não estou certo sobre a forma, mas a Rússia, com certeza, tem uma lista de perguntas e reclamações sobre a postura dos EUA”, concluiu Kortunov.

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