“Fartos”, a manifestação de Khodorkóvski contra o regime russo

Agente do Ministério do Interior mantém a ordem enquanto pessoas esperam em fila para entregar cartas ao presidente em Moscou no sábado (29).

Agente do Ministério do Interior mantém a ordem enquanto pessoas esperam em fila para entregar cartas ao presidente em Moscou no sábado (29).

Reuters
Moscou e em outras cidades foram palco de protestos no último sábado (29) contra a candidatura de Pútin para um novo mandato presidencial.

No último sábado (29) dezenas de cidades da Rússia foram palco de uma série de manifestações intituladas de “Fartos” e organizadas pelo movimento “Rússia Aberta” contra a candidatura de Vladímir Pútin para um novo mandato presidencial.

Em algumas cidades, as manifestações foram previamente aprovadas pelas autoridades, mas na maioria delas, incluindo Moscou, o evento foi realizado sem consentimento.

Assim, os organizadores propuseram uma recepção pública do presidente com a entrega de mensagens pessoais. Na capital, de acordo com o Ministério do Interior, o número de participantes foi de 250 e não houve detenções.

Pelo país afora, as manifestações reuniram de dezenas a centenas de participantes. A organização levou um mês e ocorreu em meio a declarações polêmicas.

Propaganda, nudez e registros da véspera

O evento foi anunciado nas redes sociais após o opositor Aleksêi Naválni levar, em 26 de março, milhares às ruas contra a corrupção do governo.

O presidente do movimento naquele momento ainda era o oligarca russo Mikhail Khodorkóvski, que vive exilado em Londres. O “Rússia Aberta” divulgou ativamente nas redes a hashtag “fartos”, relacionada a um cansaço do povo quanto à “arbitrariedade dos juízes, a polícia, a corrupção, o mau estado das vias e a televisão”, assim como os jornalistas dos canais de TV estatais, os políticos, os ministros e o próprio presidente.

A divulgação dos protestos culminou com a foto de seios femininos cobertos apenas pelo mote da campanha e debates sobre se essa seria a melhor forma de divulgar o evento, além de Khodorkóvski se demitindo da função de presidente do movimento.

Pessoas aguardaram em fila para entregar cartas de insatisfação ao presidente em Moscou no último sábado (29). / ReutersPessoas aguardaram em fila para entregar cartas de insatisfação ao presidente em Moscou no último sábado (29). / Reuters

Dois dias entes da manifestação, o “Rússia Aberta” foi declarado como indesejável pela “Fiscalização Geral da Federação da Rússia”. Assim, qualquer colaboração com a organização poderá geral um processo penal.

Em seguida, o escritório do “Rússia Aberta foi alvo de uma checagem por 22 agentes da polícia que afirmavam ter sido ela alvo de uma denúncia e que teria posse de materiais extremistas.

Ativista entrega panfletos em Moscou para incitar povo a desincentivar Pútin de concorrer à presidência novamente. / ReutersAtivista entrega panfletos em Moscou para incitar povo a desincentivar Pútin de concorrer à presidência novamente. / Reuters

“Levaram quase 100.000 papeis de carta [para o presidente], bandeiras, rascunhos de documentos e pacotes de folhas virgens. E o mais chocante: levaram cinco computadores pessoais, coisa que é absolutamente ilegal, mas aí já que não se tratava de uma inspeção, e sim de uma busca com confisco”, disse à Gazeta Russa o novo líder do movimento, Aleksandr Soloviov.

Cartas ao presidente e a geração livre

Um dos primeiros a chegar com sua carta para o presidente foi Sasha. Em apenas um minuto, ele conseguiu entregar sua carta ao guichê responsável pela correspondência do presidente.

“Sinceramente, não achava que seria tão fácil, disse à Gazeta Russa. Ele afirma que não vê muita diferença em apoiar Naválni ou Khodorkóvski, mas que também não aprova o último.

Manifestante de protestos que pedem a Pútin que não concorra à presidência é detido em São Petersburgo no sábado (29). / ReutersManifestante de protestos que pedem a Pútin que não concorra à presidência é detido em São Petersburgo no sábado (29). / Reuters

“O próprio Khodorkóvski foi um oligarca e roubou sua parte no começo dos anos 1990, quando a propriedade estatal estava sendo dividida”, afirma.

À tarde, porém, chega uma leva de pessoas à sala de recepção – metade dessas, jornalistas. Esses são organizados em uma longa fila e a polícia informa que a entrega de suas cartas pode levar uma hora. Com o aumento da multidão, aumenta o número de agentes da polícia de choque.

Do outro lado da rua, um homem aparentando ter cerca de 40 anos escreve uma carta ao presidente, enquanto outro espera para usar a caneta. O último pergunta o que deve escrever, e o homem lhe diz: “Não copie! Pense sozinho!”, mas começa imediatamente a lhe ditar um texto.

Pergunto a eles quem são, e eles me dizem apenas: “A nova geração. Uma geração livre”.

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