Pútin e Erdogan voltam a se reunir em Moscou nesta quinta

Último encontro entre Pútin (esq) e Erdogan aconteceu em outubro passado, em Istambul

Último encontro entre Pútin (esq) e Erdogan aconteceu em outubro passado, em Istambul

Reuters
Presidente turco fará visita oficial de dois dias à Rússia. Negociações vão girar em torno de crise síria, sanções contra Ancara e possível compra de sistemas S-400.

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que chegará a Moscou nesta quinta-feira (9) para uma visita oficial de dois dias, terá uma agenda atribulada. Entre os assuntos serão discutidos a retomada de relações bilaterais, as sanções e o regime de vistos.

Além de se encontrar com o líder russo, Vladímir Pútin (pela primeira vez desde o abate do bombardeiro russo pela avião turca, em 2015), Erdogan participará de uma sessão do Conselho de Cooperação de Alto Nível entre a Rússia e a Turquia.

Os países já deram sinais de aproximação nos últimos meses – ao assinar um acordo relacionado à construção do gasoduto Turkish Stream, e com o levantamento de sanções a produtos agrícolas e da proibição da venda de pacotes turísticos à Turquia.

Porém, o regime de vistos para turcos em visita à Rússia continua em vigor, assim como sanções sobre uma série de produtos do país.

“A Turquia quer a que Rússia cancele todas as medidas econômicas e o regime de vistos para os cidadãos turcos”, diz Kerim Has, especialista em Rússia e Eurásia no USAK, um grupo de reflexão independente com sede em Ancara. “Moscou não tem interesse nisso. É possível que algumas medidas ou, talvez, o regime de vistos seja suspenso, mas a eliminação total das sanções é bastante improvável.”

A crise diplomática entre os países teve início em novembro de 2015, quando um caça russo foi abatido pela Rurquia por suposta violação de espaço aéreo.

Assunto nº 1

A regulação da crise síria também terá destaque nas reuniões, anunciou o assessor de Erdogan, Ilnur Çevik, citado na imprensa russa.

Desde janeiro, os países iniciaram operações conjuntas contra militantes do Estado Islâmico na Síria. Além disso, o governo turco tem papel fundamental no processo russo para regulação pacífica da crise na região.

“O assunto número um será a Síria”, diz Has.

Segundo ele, as discussões sobre o tema serão centradas em quatro pontos: a futura cooperação em Aleppo e entornos; a entrada de novos membros, como Qatar e Arábia Saudita, entre outros, nas negociações; as opções para a cooperação turca-russa na retomada de Raqqa e Manbij, assim que Ancara encerrar sua operação em Al-Bab, e a posição da Rússia sobre as unidades curdas que lutam na Síria.

Outra questão importante é o processo de transição na Síria, diz Anton Madrasov, especialista em Síria no Instituto de Inovação e Desenvolvimento. “O processo para se chegar a um acordo requer concessões e compromissos. É importante que a Rússia e a Turquia acertem como poderão influenciar Damasco e a oposição, para que encontrem pontos de convergência”, diz Madrasov.

Além do terrorismo

O cientista político turco Salih Yilmaz, da Universidade Yildirim Beyazit de Ancara, acredita que as partes também discutirão questões relevantes para Ancara, como a atuação da organização FETO (acusada de ter orquestrado um golpe em 2016) e do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) na Rússia.

Moscou não reconhece a FETO nem o PKK como organizações terroristas.

“A Turquia está muito preocupada com o fato de haver escritório do PKK em Moscou”, diz Yilmaz.

Em 1º de março, o Senado russo ratificou um acordo intergovernamental que pressupõe maior agilidade no processo de extradição de criminosos.

Segundo especialistas, a medida permitirá às autoridades turcas perseguir qualquer pessoa relacionada com a FETO ou o PKK em território russo.

“Assim, confirmamos a intenção de cooperar não só contra o terrorismo, mas também na extradição de pessoas que a Rússia e a Turquia possam considerar politicamente indesejáveis”, analisa Iúri Mavachev, coordenador-chefe do Centro de Pesquisa da Turquia Moderna.

Compra de S-400

Segundo Yilmaz, a visita de Erdogan também será usada para continuar as discussões sobre a possível compra de sistemas russos de mísseis antiaéreos S-400.

O chefe do Serviço Federal de Cooperação Tecnológica e Militar russo, Aleksander Fomin, já havia anunciado, em novembro passado, que o fornecimento de S-400 para a Turquia prosseguiria como um dos temas principais na próxima sessão do comitê intergovernamental. Na ocasião, o ministro da Defesa turco, Fikri Işık, também confirmou que Ancara mantinha negociações sobre a compra do sistema antimíssil.

Embora o comitê intergovernamental tenha se reunido no início de dezembro de 2016, nenhuma decisão concreta sobre os S-400 foi tomada.

Mavachev acredita que as conversas sobre a compra do sistema russo sejam “mera distração”. “Já ouvimos esse tipo de declaração do lado turco em muitas ocasiões”, diz. Segundo ele, Ancara acabará optando por comprar tecnologia militar dos EUA.

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