Resolução da UE equipara propaganda russa à do EI

Dos 691 deputados do Parlamento Europeu, 304 votaram a favor de resolução

Dos 691 deputados do Parlamento Europeu, 304 votaram a favor de resolução

EPA
Documento aprovado no Parlamento Europeu cita veículos russos como ameaça à estabilidade da UE. Porta-voz da chancelaria russa alerta para risco de retaliação.

Moscou espera que não haja medidas concretas após a resolução do Parlamento da UE contra a propaganda de países terceiros, com destaque para a Rússia. “Caso contrário, medidas de retaliação serão tomadas”, declarou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakhárova, nesta quinta-feira (24).

“Lamentamos que as tentativas de demonizar a Rússia não parem na União Europeia, e este documento não pode ser classificado de outra forma senão paranoia”, disse.

As declarações vieram na esteira da resolução aprovada pelo Parlamento Europeu na quarta-feira (23), que menciona, entre as críticas, o canal de TV Russia Today, a agência Sputnik, a Fundação Russkiy Mir (ou Russian World) e a Agência Federal de Assuntos da Comunidade dos Estados Independentes, de Compatriotas no Exterior e Cooperação Internacional Humanitária da Rússia (Rossotrudnitchestvo).

“Este documento compara a ‘guerra de propaganda do Kremlin’ travada contra o Oriente aos meios de propaganda do grupo terrorista Estado Islâmico”, ressaltou a diplomata. Segundo Zakhárova, Moscou “sempre respeitou a mídia estrangeira em atividade na Rússia e jamais a reprimiu”.

“A demonização extrema da Rússia neste documento tem suas razões e origens não na Rússia, mas na Europa, ou melhor, no Ocidente”, publicou em seu blog o presidente da Comissão de Assuntos Internacionais do Conselho da Federação (Senado russo), Konstantin Kosatchev.

“O surgimento de tais resoluções é um reflexo da grave crise no sistema ocidental que, como estamos vendo, atingiu não apenas instituições, mas também valores. (...)

Se eventos como Brexit, a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA, a crescente popularidade de partidos de direita e do sentimento anti-imigração na Europa, a queda da confiança da população nos meios de comunicação e políticos, só podem ser explicados por um esquema de propaganda inimiga, já fala por si só.”

Dos 691 deputados presentes na sessão de quarta-feira, em Estrasburgo, 304 votaram a favor da resolução, 179 foram contra, e 208 se abstiveram.

O documento foi criticado por outros líderes russos, incluindo o presidente Vladímir Pútin, para quem a iniciativa revela “degradação política das ideias de democracia”.

“Se eles tomam essa decisão [ de lutar ‘propaganda russa’], isso significa que estamos testemunhando a degradação política das ideias democráticas na sociedade ocidental", disse Pútin a repórteres.

Rússia contra UE?

Em outubro, a Comissão de Assuntos Externos do Parlamento Europeu já havia aprovado um relatório sobre o combate à propaganda. O documento elaborado pela deputada polonesa Anna Fotyga acusa a Rússia de propagar desinformação para “manter ou aumentar a influência da Rússia para enfraquecer e dividir a UE”.

“Grande parte da propaganda hostil do Kremlin visa a descrever alguns países europeus como pertencentes à tradicional esfera de influência da Rússia, minando, assim, sua soberania e identidade europeia profundamente enraizada que, no passado, foi enfraquecida pelos regimes comunistas”, lê-se no relatório.

O documento cita ainda o “apoio russo de forças anti-UE no bloco europeu, em especial partidos de extrema-direita, forças populistas e movimentos que negam os valores básicos das democracias liberais”.

BBC, CNN e afins

O Parlamento Europeu “ultrapassa todos os limites” ao discutir um projeto de resolução para combater a propaganda de terceiros, criticou a deputada letã Tatjana Zdanoka na noite anterior à votação.

Segundo Zdanoka, embora o Parlamento Europeu já tivesse aprovado resoluções condenando o povo russo e a Rússia no passado, o novo texto é “abusivo” em termos de conteúdo e forma.

A deputada acrescentou que a resolução contraria o princípio da liberdade dos meios de comunicação de massa e que, embora a Rússia utilize uma gama de recursos, como canais multilíngues, diversos países também recorrem a métodos semelhantes.

“É impossível entender o que acontece se você assistir apenas a canais como CNN, BBC, Euronews”, afirmou Zdanoka.

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