Documentário de Oliver Stone acusa EUA por revoluções na Ucrânia

Tumultos entre manifestantes e policiais em Kiev, em 2014

Tumultos entre manifestantes e policiais em Kiev, em 2014

Reuters
Filme veiculado em rede nacional na Rússia defende que levantes de 2004 e 2014 na Ucrânia foram influenciados por Washington.

Um novo documentário polêmico produzido pelo diretor norte-americano Oliver Stone e transmitido na televisão russa apresenta as revoluções ucranianas de 2004 e 2014 como revoltas instigadas e planejadas com a participação dos EUA.

Publicado no YouTube e exibido em rede nacional russa no último dia 21, o filme, intitulado “Ukraine on Fire” (Ucrânia em chamas), mostra o ex-presidente da Ucrânia, Víktor Ianukovitch, o presidente russo Vladímir Pútin, e Vitáli Zakhartchenko, que chefiava a pasta do Interior sob o governo de Ianukovitch, debatendo os acontecimentos que antecederam e seguiram a revolução Maidan, em 2014.

Dirigido pelo americano-ucraniano Ígor Lopateniuk, o documentário tem sido criticado por seu retrato unilateral dos eventos em Kiev.

Dois dias antes do lançamento do filme na rede, um cidadão ucraniano chamado Andrêi Nezvani publicou uma petição on-line pedindo a obra fosse banida porque “adultera os fatos” e poderia “provocar protestos em massa na Ucrânia”.

“Ukraine on Fire” é uma realização da Another Way Productions, em Los Angeles, mas não se sabe a fonte de financiamento para sua produção.  

O diretor premiado Oliver Stone, conhecido crítico da política externa de Washington, tem um longa lista de filmes com teor político. Também dirigiu Snowden (2015), uma biografia do ex-agente da NSA que denuncia um esquema de vigilância em massa.

Fonte: YouTube/Fred Johs

CIA infiltrada na URSS

O filme relata que a CIA colaborou estreitamente com as organizações nacionalistas ucranianas contra a URSS em 1946, usando-as como fontes de contrainteligência. A acusação é feito com base em documentos recém-revelados do órgão americano.

Segundo o documentário, “até o final de 1941, os nacionalistas mataram entre 150 mil e 200 mil judeus em um território ucraniano ocupado pela Alemanha”, e a “forte aliança” permitiu que, após a guerra, escapassem para a Europa, onde ficaram escondidos com a ajuda da CIA.

Como exemplo, o filme apresenta história de Mikola Lebed, um ativista e nacionalista ucraniano que foi responsável pela morte de inúmeros poloneses na região de Volin, na Ucrânia durante a ocupação nazista. Lebed foi posteriormente transferido para os Estados Unidos, onde morreu em 1998 sem ser julgado por crimes de guerra.

Mas a colaboração entre os países não para por aí, segundo o longa.

Nos bastidores da Revolução Laranja

Em 2004, a Ucrânia se tornou campo de batalha entre a Rússia e o Ocidente. O candidato pró-Moscou Víktor Ianukovitch venceu a eleição presidencial, embora o processo tenha sido marcado por acusações de intimidação e manipulação maciça de votos, bem como envenenamento do candidato pró-ocidental, Víktor Iuschenko.

No entanto, Iuschenko, cuja esposa havia trabalhado no Departamento de Estado dos EUA durante a administração Reagan, assumiu a presidência após um protesto pacífico – que o filme alega ter sido instigado de fora do país – e nova votação.

Na cenas seguintes, a narração conta que o governo de Iuschenko não conseguiu concretizar as reformas prometidas nem o projeto de “democracia”, atolando-se em atividades ilícitas.

EU-Ucrânia não é problema da Rússia

Víktor Ianukovitch assumiu a presidência no mandato seguinte, mas as conversações com a União Europeia não transcorriam bem.

“Nós tínhamos contado com o Fundo Monetário Internacional (...) mas durante todo o ano nos ofereceram opções inaceitáveis (...) a Rússia foi o último recurso. A Rússia nos disse: ‘Estamos prontos para trabalhar com você como parceiros, se você levar os nossos interesses em consideração”, diz Ianukovitch em uma cena do filme.

Ao comentar sobre a introdução de restrições comerciais em relação à Ucrânia, Pútin justifica que, no caso de integração com a UE, o bloco europeu “estaria basicamente entrando em nosso território com todos os seus bens sem nenhuma negociação”.

“Nós dissemos, claro, se a Ucrânia decidiu fazer isso, é sua escolha e vamos respeitá-la, mas não vamos pagar por isso”, diz Pútin em um dos trechos do documentário.

Revolta de volta: EUA em 2014

No longa, o ex-ministro do Interior ucraniano Vitáli Zakhartchenko diz a Stone que as autoridades de Kiev sabiam que os protestos estavam sendo preparados para 2015.

Porém, a súbita interrupção do processo de integração com a UE (depois que a Rússia fez uma contraoferta à Ucrânia pouco antes de Ianukovitch assinar o acordo) teriam acelerado o processo.

Organizações públicas financiadas pela ONG norte-americana NED (National Endowment for Democracy), jornalistas financiados pelos EUA e os canais de TV criados na véspera do levante desempenharam um papel importante, sugere o filme.

A ordem de expulsar os manifestantes à força foi dada pelo chefe da administração presidencial Serhi Liovotchkin, sob pretexto de instalar uma árvore de Natal na praça.

“É uma coincidência surpreendente, mas Liovotchkin é amigo de muitos políticos americanos”, continua o documentário, mostrando uma foto sua com a vice-secretária de Estado americana para a Europa, Victoria Nuland.

Quando Stone pergunta se Ianukovitch “percebeu o dedo dos EUA” ​​no levante, ele responde que muitas delegações chegaram ao país e tomaram o partido dos manifestantes, o que apenas exacerbou o conflito.

“Quando os manifestantes tomam prédios do governo, isso é aceitável? Seria aceitável se o embaixador ucraniano tivesse se aproximado dos manifestantes em Ferguson [tumultos nos EUA] e entregado biscoitos ou acusado policiais americanos? Por que a Ucrânia foi tratada dessa maneira?”, questiona Ianukovitch.

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