Governo irá recriar órgão semelhante à KGB, diz jornal russo

Prédio do FSB em Moscou que antes era ocupado por oficiais da KGB

Prédio do FSB em Moscou que antes era ocupado por oficiais da KGB

Lori/Legion-Media
Kremlin planeja instituir uma nova agência de inteligência por meio da fusão de três serviços de segurança hoje existentes. Informação não foi confirmada oficialmente.

A Rússia criará uma nova agência de inteligência sob a égide do Serviço de Segurança Federal (na sigla em russo, FSB), ressuscitando o Ministério da Segurança de Estado, ou MGB, segundo o jornal “Kommersant”.

A estrutura, que existiu por vários anos durante a URSS no período pós-guerra e tem sido comparado ao famoso serviço secreto soviético KGB, deve começar a funcionar antes das eleições presidenciais de 2018.

De acordo com o jornal, o novo MGB será formado pela combinação do FSB com o Serviço de Inteligência Estrangeira (SVR) e unidades do Serviço de Proteção Federal (FSO), que supervisiona a proteção dos principais líderes do país.

O órgão também deverá se envolver em casos de maior destaque e, entre suas funções planejadas, está ainda a erradicação da corrupção nos órgãos de aplicação da lei.

Segundo o analista político Arkádi Murachov, que foi chefe da polícia de Moscou no início de 1990, o possível reestabelecimento do MGB retomaria uma “estrutura familiar” que “sempre existiu na Rússia, exceto durante os últimos 25 anos”.

A opinião de Murachov é ecoada por Víktor Netchiporenko, da Academia Presidencial da Economia Nacional e Administração Pública da Rússia.

“Na Rússia soviética e pré-revolução, esses serviços [que serão supostamente unidos agora] estavam nas mesmas mãos”, afirma.

Os rumores de que o governo pretende recriar o ministério não foram, porém, confirmados pelo porta-voz do Kremlin, Dmítri Peskov.

“Não, eu não posso [confirmar]”, disse Peskov quando questionado sobre as alegações feitas pelo “Kommersant”.

Centralização de poder

Não há consenso entre os observadores russos sobre os objetivos das autoridades de unir as agências, mas muitos alegam que a liderança do país estaria tentando apertar o controle sobre o trabalho dos serviços de segurança e evitar conflitos entre as forças.

Nos últimos tempos, surgiram relatos frequentes sobre discordâncias entre os vários órgãos de segurança, entre eles o Comitê Investigativo, o Gabinete do Procurador-Geral, o Ministério do Interior e o FSB.

“A situação pode ser resolvida reforçando o papel de uma das agências, neste caso, o FSB, e com centralização nas tomadas de decisão, fundindo as diversas estruturas”, explica Ruslan Miltchenko, que comanda o grupo de reflexão Análise e Segurança.

Especialistas também acreditam que o Kremlin teria o desejo de delegar a nova estrutura combinada a um oficial da lei de maior confiança do governo, o que poderia melhorar a capacidade de gestão do sistema de aplicação da lei como um todo.

MGB e liberdades civis

Os analistas também guardam ressalvas sobre a ideia de que a ampliação dos serviços de segurança iria aumentar a eficiência de trabalho.

Todas as três estruturas que serão combinadas têm tarefas próprias e específicas, e dificilmente conseguiriam realizá-las de melhor forma só pelo fato de as agências serem fundidas, avalia Miltchenko.

No entanto, embora os críticos vejam a proposta como mais um passo na reconstrução da máquina totalitária da União Soviética, os especialistas consultados pela Gazeta Russa descartam a possibilidade de o novo MGB se tornar uma gigantesca estrutura de poder capaz de restringir as liberdades civis na Rússia.

“O atual sistema ‘vertical’ de poder na Rússia é diferente das estruturas de governo anteriores”, explica Netchiporenko, acrescentando que o Estado está focado, sobretudo, “em manter um controle rigoroso sobre os oficiais de aplicação da lei”.

De volta à USSR

Inicialmente criado em 1946, o MGB era responsável pelos serviços de inteligência, contrainteligência e proteção do governo.

Desde a sua fundação, o órgão entrou em atrito com o Ministério do Interior por ter assumido algumas de suas antigas funções.

Embora tenha sido abolido no dia da morte de Iossef Stálin, em 5 de março de 1953, o MGB foi recriado um ano depois sob o nome de Comitê de Segurança do Estado (KGB).

Apesar de os serviços secretos soviéticos exercerem missões “peculiares” (a KGB lutava, entre outras coisas, contra atividades antissoviéticas), “a inteligência desse período era uma das melhores do mundo”, destaca Netchiporenko.

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