Aumentam chances de acordo com Japão sobre as ilhas Curilas

Tanque japonês da época da invasão soviética às ilhas Curilas

Tanque japonês da época da invasão soviética às ilhas Curilas

Phil DeFer/Flickr.com
Em fóruns recentes, Pútin deu a entender que processo já teria iniciado. Disputa por território já se estende há 70 anos e tem vários cenários possíveis de resolução.

Em declarações durante o Fórum Econômico Oriental, em Vladivostok, e a cúpula do G20, em Hangzhou (China), o presidente russo Vladímir Pútin deu a entender que a decisão de assinar um tratado de paz com o Japão já teria sido tomada e as respectivas negociações estariam em curso.

Uma das alternativas é, aparentemente, a declaração conjunta assinada por URSS e Japão em 1956, que estipula a transferência de duas Ilhas Curilas do Sul para Tóquio.

“O acordo, no entanto, tinha muitas brechas. Por exemplo, não deixa claro quais as condições necessárias para a transferência, e quem tem soberania sobre essas ilhas”, disse Pútin à margens dos eventos econômicos na semana passada.

Essas questões são os principais obstáculos na disputa territorial mantida por Moscou e Tóquio desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Também durante o Fórum Econômico Oriental, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, pediu a Pútin para que os países resolvam essa questão bilateral.

“Vamos colocar um ponto final nessa situação anormal que já existe há 70 anos e, juntos, começar a construir uma nova era nas relações russo-japonesas para os próximos 70 anos”, disse Abe.

Trato sem tratado

Com a rendição do Japão em setembro de 1945, as ilhas que pertenciam ao país desde o Tratado Russo-Japonês de 1855 – Iturup, Kunashir, Shikotan e o grupo Habomai – passaram a fazer parte da URSS. O Japão, porém, recusou-se a reconhecer a jurisdição do lado soviético, e os países jamais assinaram um tratado de paz.

Quando, em 1956, Moscou e Tóquio restabeleceram relações diplomáticas, estipulou-se o preparo de tratado de paz.

O texto da declaração que restabelece as relações sugere que a URSS conceda Habomai e Shikotan ao Japão após a conclusão do processo.

Embora as duas câmaras do Parlamento japonês tenham ratificado o documento, o lado japonês, como destacado recentemente por Pútin, recusou-se a implementá-lo.

Na esteira de um novo escândalo diplomático em 1960, o Japão desistiu dos acordos anteriores e declarou que iria “implacavelmente perseguir” a retomada de todas as ilhas. Desde então, o diálogo acerca da questão foi interrompido.

Não é à toa que a resolução do problema é difícil, segundo o ex-vice-ministro dos Negócios Estrangeiros na URSS e na Rússia Gueórgui Kunadze, que esteve envolvido nas negociações com os japoneses durante a década de 1990.

“Nenhum dos lados mostra disposição para mudar de posição”, afirma.

Soluções possíveis

Rússia e Japão marcam este ano o 60º aniversário da declaração de 1956, o que aumentam as especulações de uma grande mudança na questão das ilhas Curilas.

Se essa guinada ocorrer, há diversos cenários possíveis, segundo os especialistas. Entre as opções, as ilhas poderiam ficar sob a jurisdição do Japão durante 50 ou 100 anos, ou o Japão receberia terras sem o domínio sobre as águas circundantes.

Além disso, as também poderiam concordar em restringir a navegação no mar de Okhotsk para navios russos e japoneses. Nesse caso, contudo, a Rússia exigiria que nenhuma infraestrutura militar fosse construída ali.

Obrigar os japoneses a fechar a base militar dos EUA em Okinawa é, no entanto, quase impossível, de acordo com o analista militar do “Asia Times”, Grant Newsham.

“Okinawa é um local perfeito para implantar e realizar uma série de operações militares de combate”, escreveu Newsham em uma coluna.

Publicado originalmente pelo portal Gazeta.ru

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