Antigo aliado de Pútin é demitido e deixa cúpula do Kremlin

Ivanov (esq.) e Pútin em reunião no Kremlin, em 2014

Ivanov (esq.) e Pútin em reunião no Kremlin, em 2014

Reuters
Conheça a trajetória política de Serguêi Ivanov, que conhece Vladímir Pútin desde a época da KGB e o acompanhou durante sua ascensão à presidência da Rússia.

Depois de realizar uma “limpeza relâmpago” na cúpula do governo russo, no final de julho, o presidente russo Vladímir Pútin voltou a surpreender na última sexta-feira (12) ao demitir o chefe de sua administração, Serguêi Ivanov, e, em seguida, nomeá-lo (a pedido do próprio, segundo destacou Pútin) para o cargo de representante especial da presidência para proteção do meio ambiente, ecologia e transporte.

A surpresa maior, no entanto, foi que, na hierarquia do Kremlin, Ivanov era a terceira autoridade mais graduada do país: membro do círculo íntimo de Pútin, é descrito como “um intelectual refinado com inglês impecável”, que, ao longo de sua carreira, passou de espião a chefe da administração.

Entre os seu colegas de trabalho no governo e pessoas que o conhecem, Ivanov é visto sobretudo como uma pessoa “cautelosa”, que sempre conseguiu realizar manobras diante de problemas delicados, sem, paralelamente, ceder a sua posição.

James Bond soviético

A ascensão meteórica de Ivanov se deve, em grande parte, a sua amizade de longa data com Pútin, com quem se encontrou primeira vez no final dos anos 1970. Assim como outros oficiais da KGB (serviço de inteligência da URSS), ambos serviram como espiões: Pútin na Alemanha Oriental, e Ivanov na Finlândia e no Quênia.

“Ele era um espião soviético ideal. Não é um tipo que se escolhe na multidão, ele é como o agente Smith de Matrix [filme cult dos irmãos Wachowski], tanto seu nome como sua aparência”, descreve o jornalista Mikhail Zigar em seu livro “Todos os Homens do Kremlin”. “Na década de 1990, os dois principais serviços secretos da Rússia – o FSB [Serviço Federal de Segurança] e o SVR [Serviço de Inteligência Estrangeiro] brigavam por ele”, continua Zigar.

Já no SVR, Ivanov atuou como primeiro vice-diretor do departamento europeu e, aos 40 e poucos anos, tornou-se um dos generais mais jovens. No entanto, acabou sendo transferido para o FSB quando Pútin assumiu a diretoria deste órgão, no final dos anos 1990, e o nomeou como seu vice. Em 1999, quando Pútin se tornou premiê da Rússia, Ivanov novamente o seguiu, assumindo a chefia do Conselho de Segurança.

Ordem na casa

Depois de fazer nome no cenário político nacional, Ivanov foi nomeado em 2001 para o comando do Ministério da Defesa russo. Na época, porém, a pasta apresentava um dos piores desempenhos no governo, e tanto o Exército como a Marinha estavam em condições precárias. O país também ainda não tinha se recuperado do desastre com o submarino nuclear Kursk, em 2000. Ivanov, então, enfrentou a missão de elevar o prestígio das Forças Armadas russas, sobretudo aos olhos dos próprios cidadãos.

Absteve-se, porém, de medidas drásticas envolvendo militares e deu início à prática de serviço militar por contrato. Sob sua administração, os soldados tiveram aumento salarial de até 100% e havia financiamento estável para pesquisa e rearmamento, embora na época estivesse em curso a Segunda Guerra Tchetchena.

Como ministro da Defesa, Ivanov não se acanhava em dar declarações polêmicas e dizia que contra terroristas se podia “usar tudo, exceto armas nucleares, desde que sejam recursos eficazes”. De 2005 em diante, Ivanov passou a combinar a chefia da pasta da Defesa com a função de vice-primeiro ministro e, em 2007, trocou os dois cargos pela posição de primeiro vice-premiê.

Sucessor sem sucesso

Durante seu primeiro mandato como primeiro vice-premiê, Ivanov supervisionou o complexo militar-industrial, com o qual estava familiarizado. Começou a desenvolver o setor da defesa por meio de holdings estatais, sendo a United Aircraft Corporation sua principal criação e onde serviu como presidente do conselho desde 2006. Entre os projetos de grande importância que supervisionou figuram o Superjet 100, da Sukhôi, e o sistema russo de navegação global por satélite Glonass.

No cargo, Ivanov também teve desempenho fundamental na manutenção de contatos com Washington, sendo enviado especial de Pútin para relações junto à administração do ex-presidente republicano George W. Bush. E, devido às duras declarações sobre política externa, tornou-se a segunda figura mais importante do país na arena internacional após Pútin.

Foi nesse momento que, nos corredores do Kremlin, falava-se em Ivanov como um possível sucessor de Pútin, já que o segundo mandato do então presidente estava chegando ao fim. Outro provável sucessor era Dmítri Medvedev, que permanecia no comando dos projetos nacionais, mas possuía menos influência no exterior. Apesar das probabilidades, a indicação acabou sendo repassada ao segundo.

“Ivanov é leal e muito próximo de Pútin, no entanto, ele foi visto com uma certa desconfiança por ser um profissional bem estabelecido e todo mundo lembra disso. Suponhamos que ele começasse a se distrair com certas ambições?”, disse uma fonte do círculo político que preferiu não ser identificada.

Quando Pútin retornou ao Kremlin em 2012, Ivanov tornou-se chefe da administração presidencial, mas, de acordo com informações divulgadas na imprensa russa, ele teria sido progressivamente marginalizado à medida que outros funcionários do governo assumiam a arquitetura da política interna do país. Até então, os analistas russos se dividem sobre as razões para a demissão inesperada de Ivanov.

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