Japão propõe ‘nova abordagem’ em disputa por ilhas Curilas

Último encontro entre líderes havia ocorrido também em Sôtchi, na abertura das Olimpíadas de Inverno

Último encontro entre líderes havia ocorrido também em Sôtchi, na abertura das Olimpíadas de Inverno

Konstantin Zavrájin
Disputa territorial em torno de ilhas no extremo oriente impede evolução de tratado de paz desde a Segunda Guerra Mundial. Plano não revelado pode ser retomada de um acordo sugerido em 1998 e representa avanço das partes, diz analista.

Após conversas com o presidente russo Vladímir Pútin, em Sôtchi, na sexta-feira (6), o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe declarou ter proposto uma “nova abordagem” para resolver a disputa territorial acerca das ilhas Curilas do Sul.

As autoridades russas e japonesas não revelaram, porém, detalhes sobre as sugestões de Abe para solucionar a questão, ainda vista como o principal obstáculo para um tratado de paz da Segunda Guerra Mundial entre os dois países.

Além das perspectivas de assinatura um tratado de paz, a pauta do encontro incluiu a resolução dos conflitos na Síria, na Ucrânia e na península coreana, assim como comércio, cooperação econômica e investimentos bilaterais.

O encontro foi organizado durante as conversações do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguêi Lavrov, com o seu homólogo japonês, Fumio Kishida, realizadas em Tóquio, em meados de abril.

A questão em torno das ilhas Curilas e um possível tratado de paz serão novamente discutidos, em junho deste ano, em uma reunião entre os vice-chanceleres.

Razões para visita

De acordo com o ex-embaixador da Rússia para o Japão Aleksandr Panov, os veículos de comunicação japoneses fizeram insinuaram que a “proposta possa, até certo ponto, ser baseada na ideia apresentada em 1998 pelo então primeiro-ministro japonês, Ryutaro Hashimoto, durante um encontro com Boris Iéltsin”.

“Não se pode excluir que o lado japonês pode ter proposto uma opção pela qual as ilhas de Habomai e Shikotan sejam entregues para o Japão após a assinatura de um tratado de paz, enquanto as outras ilhas [Iturup e Kunashir] por um determinado período de tempo, digamos de 30 a 50 anos, sob o domínio administrativo da Rússia.”

Para Panov, esse tipo de proposta seria considerada, portanto, um compromisso por parte do Japão.

Mas Aleksander Gabuev, chefe do Programa Ásia-Pacífico, do Centro de Carnegie  de Moscou, sugere que a “afirmação ousada” de Abe tenha mais a ver com a situação política interna no Japão.

Antes das eleições parlamentares antecipadas, previstas para julho, “as expectativas de visita de Shinzo Abe para Sôtchi não eram muito elevadas”, afirma Gabuev.

“Abe teve de demonstrar que não se tratava apenas de uma ‘visita vazia’ e que ele estava pronto para procurar novas abordagens para uma das questões-chave na política externa de Tóquio”, acrescenta.

Tom amigável

“O calor desta maravilhosa cidade me lembra da minha reunião com Vladímir [Pútin] em 2014”, disse Abe em um discurso amigável. O último encontro entre os líderes havia acontecido na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno.

“Com a memória dos belos pontos turísticos de Sôtchi, eu estava ansioso para encontrar Vladímir. Estou muito contente em vê-lo”, acrescentou o premiê japonês.

Pútin, por sua vez, cumprimentou o convidado em um tom oficial. “Sr. primeiro-ministro, vemos a sua visita como uma oportunidade de trabalhar em conjunto em questões de interesse mútuo”, disse. “Tendo em vista os desenvolvimentos em curso na política, no comércio e na economia, há outras questões que devem ser dadas atenção prioritária”, completou, referindo-se às tensões existentes.

Texto originalmente publicado pelo jornal Kommersant

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