Europa dá primeiros sinais de retorno da Rússia ao G8

Lavrov e Pútin (ao fundo) em reunião com Steinmeier, no Kremlin

Lavrov e Pútin (ao fundo) em reunião com Steinmeier, no Kremlin

Reuters
Às vésperas da próxima cúpula do G7, em maio, o ministro das Relações Exteriores alemão Frank-Walter Steinmeier sugeriu um possível regresso da Rússia à plataforma. Especialistas debatem condições e vantagens para retomada de negociações.

“É evidente que nenhum grande conflito internacional pode ser resolvido sem a participação russa”, declarou o ministro das Relações Exteriores alemão Frank-Walter Steinmeier, no último dia 10, em entrevista à agência DPA na qual enumerou as condições para o regresso do país ao G8.

Segundo Steinmeier, em primeiro lugar, Moscou deveria assumir esforços para obter uma resolução política da crise na Ucrânia, além de mostrar uma atitude construtiva na restauração da paz na Síria.

Muitos especialistas haviam previsto que a Rússia seria novamente convidada para o grupo entre um ano e meio ou dois depois de ser excluída em 2014. Mas pode-se realmente acreditar que o país voltará a ser aceito nessa plataforma de negociações?

Segundo o pesquisador do centro de análise do Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscou, Leonid Gusev, Steinmeier representa o Partido Social-Democrata da Alemanha, em que muitos dirigentes, começando pelo ex-chanceler Gerhard Schröder, sempre mostraram uma opinião bastante positiva em relação à Rússia.

No entanto, os social-democratas não lideram o governo, já que formam uma coalizão com os conservadores. “Portanto, está longe de ser a única opinião existente na Alemanha. A decisão final deve ser feita por Angela Merkel e seu gabinete, e isso tendo em conta apenas a Alemanha.” 

Ainda assim, algumas fontes ressaltam que as declarações de Steinmeier não são aleatórias, mas um sinal para a Rússia que chega em um momento bastante oportuno.

Retomada pós-Ucrânia

Além da Alemanha, formam parte do grupo EUA, França, Itália, Canadá, Reino Unido e Japão. Em 2014, devido à crise ucraniana e a reunificação da Crimeia, os países decidiram não participar da reunião agendada para Sôtchi, pondo fim a uma participação de muitos anos neste formato.

Atualmente, porém, a Alemanha não é o único país que poderia apoiar a ideia do retorno russo.

“Quase todos os países do G7 contemplam, de uma ou outra forma, a cooperação com a Rússia como muito importante. Talvez os EUA se encontrem em uma situação mais difícil, porque o presidente Obama está prestes a concluir seu mandato e prefere evitar quaisquer passos simbólicos em curto prazo”, sugere Serguêi Útkin, diretor do departamento de avaliações estratégicas do Centro de Análise Situacional da Academia Russa de Ciências. 

“Itália e França são os membros que têm mostrado mais interesse pela aproximação com Moscou”, acrescenta o especialista.

O mais provável, porém, segundo os especialistas entrevistados pela Gazeta Russa, é que nenhum desses países se apresse para tomar medidas nessa direção, enquanto não houver um progresso visível nas condições que forçaram a exclusão da Rússia, como a crise ucraniana.

O novo governo de Kiev traz, assim, certa esperança às autoridades russas, já que isso poderia tomar acelerar a resolução do conflito que se estende há dois anos no sudeste do país.

Além disso, o movimento propiciaria uma retomada da Rússia em diferentes formatos de negociações com o Ocidente. “Neste momento, estão em curso negociações concretas para realizar uma assembleia com embaixadores da Rússia e da Otan”, relembra Útkin, sobre a colaboração também congelada desde 2014.

“Embora a reunião em si não traga um progresso muito significativo, a tendência de manter as plataformas de negociação é evidente”, observa.

G8, G20 e outros

Quanto ao Kremlin, não se pode prever sua resposta no caso de o país ser convidado a novamente se juntar ao G7.

“A Europa deve agora nos convencer de que precisamos do G8”, disse à Gazeta Russa o membro da comissão de Assuntos Internacionais da Duma de Estado (câmara baixa do Parlamento russo), Roman Judiakov.

“As sanções contra a Federação Russa nos ensinaram, em primeiro lugar, a pensar no futuro. O nosso país tem sido confrontado com graves problemas devido a sua dependência em relação à Europa. Então, por enquanto, seguiremos refletindo e, possivelmente, desenvolveremos os nossos próprios formatos”, completou o deputado.

No entanto, segundo Gusev, esta opção seria a menos provável de todas. “A Rússia fez parte dessa organização por um longo tempo e nunca foi definitivamente excluída. Na verdade, a questão do prestígio continua a ser importante, apesar de todas essas declarações sobre o G7/G8  serem coisa do passado”, aponta.

Para Útkin, do Centro de Análise Situacional, a ideia de correr atrás do G8 “não é do estilo russo”, e o especialista ressalta que, no momento atual, o país poderia optar por formatos que melhor exprimam seus objetivos.

“Mesmo antes do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, muitos especialistas acreditavam que o G20 acabaria substituindo o G8, porque nele estão incluídos a China, a segunda maior economia, a Índia e outros grandes mercados. Mas, por enquanto, ambas as cúpulas têm sua importância. O G20 não toca em questões como a segurança internacional, que são discutidas no G8”, arremata.

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