6 questões para entender o conflito em Nagorno-Karabakh

Voluntário armênio na cidade de Askeran, que fica próxima aos recentes embates

Voluntário armênio na cidade de Askeran, que fica próxima aos recentes embates

Reuters
Especialistas entrevistados pela Gazeta Russa elucidam razões de atrito entre Azerbaijão e Armênia e avaliam possíveis consequências de escalada para Moscou.

O primeiro fim de semana de abril foi marcado pelo agravamento do conflito em Nagorno-Karabakh, entre o Azerbaijão e a Armênia, que já vitimou dezenas de pessoas. Uma escalada do conflito nessas proporções não ocorria desde o ano de 1994. 

Por meio de especialistas, a Gazeta Russa buscou esclarecer o que está por trás da atual onda de violência na Transcaucásia (Cáucaso do Sul), se os episódios recentes poderiam levar a uma guerra em grande escala e que papel a Rússia pode desempenhar em meio a esse cenário.

Como iniciou o conflito em Nagorno-Karabakh?

O conflito na região montanhosa de Nagorno-Karabakh é um conflito étnico entre o Azerbaijão e a Armênia que teve início na década de 1990. Durante dois anos, as partes travaram combates pelo controle do território que, na época da União Soviética, fazia parte do Azerbaijão, embora fosse majoritariamente habitado por armênios étnicos. Como resultado do confronto armado, que matou mais de 15 mil pessoas, surgiu então a República de Nagorno-Karabakh, não reconhecida oficialmente, porém apoiada pela Armênia.

Quem está por trás da atual escalada?

Especialistas russos acreditam que o Azerbaijão tenha sido o iniciador da escalada do conflito. Em um cenário de crise econômica, as autoridades locais estariam interessadas em desviar a atenção da população e reunir o povo em torno de uma base patriótica, apontando para um inimigo externo. Paralelamente, de acordo com os analistas, o governo de Ierevan, capital da Armênia, não teria quaisquer razões políticas internas para compelir as autoridades armênias em direção à escalada do conflito.

Entre os jogadores externos, Ancara poderia ter interesse de descongelar o conflito em Nagorno-Karabakh. Na opinião de Aleksandr Skakov, do Instituto de Estudos Orientais da Academia Russa de Ciências, a Turquia pode desempenhar o papel de provocador a fim de enfatizar a sua importância na região. O chanceler russo Serguêi Lavrov declarou, no entanto, que a Rússia não está acusando Ancara de fomentar a tensão em Nagorno-Karabakh.

Além do mais, seria difícil chamar de inesperada a presente escalada. A situação estava se tornando tensa há algum tempo e, no final de setembro do ano passado, pela primeira vez em 20 anos, a artilharia entrou em ação e 10 soldados foram mortos pelos disparos. No segundo semestre de 2015, especialistas entrevistados pela Gazeta Russa já haviam alertado para o fato de a região estar “oscilando à beira de uma guerra de verdade”.

Qual é a posição do Kremlin?

A atual escalada do conflito coloca Moscou em uma posição complicada, já que o Kremlin pretende manter boas relações tanto com o Azerbaijão, quanto com a Armênia. A Rússia e a Armênia são aliadas, por isso a expansão do conflito pode forçar Moscou a apoiar abertamente o governo de Ierevan. No entanto, isso imediatamente colocaria em questão as “relações especiais” que, como apontado por Skakov, Moscou vem construindo com Baku, capital e centro do governo do Azerbaijão.

Essas relações se manifestam, entre outras coisas, por meio de contatos ativos entre os dois países no setor do comércio de armas. De acordo com informações disponibilizadas pela mídia, a Rússia forneceu armamentos para o Azerbaijão no valor de 4 bilhões de dólares.

Segundo Skakov, a venda de armas ao Azerbaijão foi um erro que favoreceu os players interessados na escalada atual. No entanto, em entrevista à Gazeta Russa, Vladímir Evseiev, do Instituto dos países da CEI (Comunidade dos Estados Independentes), destacou que a Rússia não foi, em absoluto, o único país a fornecer armas para o Azerbaijão.

Que medidas a Rússia está tomando?

Por enquanto, Moscou está utilizando argumentos diplomáticos para influenciar as partes em conflito. O presidente russo Vladímir Pútin emitiu um apelo aos presidentes dos dois países para que cessem as hostilidades e sentem-se à mesa de negociações.

Além disso, o Ministro da Defesa russo Serguêi Choigu manteve conversações com seus homólogos dos dois países com o objetivo de atenuar a situação.

O conflito representa perigo para Moscou?

Se a escalada tiver continuidade o conflito azerbaijano-armênio poderá ultrapassar as fronteiras da região de Nagorno-Karabakh e evoluir para uma guerra em grande escala entre os dois países. Tendo apostado em uma aliança estratégica com a Armênia, a Rússia poderá ser forçada a por em operação as suas tropas que encontram-se alocadas em território armênio e, dessa forma, ser arrastada para um novo conflito militar. Além disso, o agravamento do conflito de Nagorno-Karabakh pode levar à desestabilização da situação em toda a Transcaucásia e nas repúblicas russas do Cáucaso.

Quais são as previsões para um futuro próximo?

Os especialistas supõem que os fatos não evoluirão ao ponto de uma guerra em grande escala e que os eventos atuais são somente uma estratégia adotada por Baku para sondar as reações de todas as partes envolvidas. No entanto, os analistas advertem que os mediadores do conflito, incluindo Moscou, deveriam insistir para que observadores internacionais sejam levados a Nogorno-Karabakh e que um mecanismo para monitorar o conflito seja criado. Caso contrário, não será possível evitar uma nova escalada.

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