Moscou confirma ausência na próxima Cúpula de Segurança Nuclear

Países com material nuclear utilizável em armas caíram de 32 para 24 em 5 anos

Países com material nuclear utilizável em armas caíram de 32 para 24 em 5 anos

Getty Images / Fotobank
Apesar de diferenças no âmbito do grupo, Rússia ressalta a continuidade de projetos conjuntos destinados a não proliferação nuclear. País investe em tecnologia avançada de reprocessamento que permite reutilizar resíduos em usinas nucleares.

Embora a Rússia tenha optado por não participar da quarta e última Cúpula de Segurança Nuclear, que será realizada na quinta (31) e sexta-feira (1º), em Washington, nos EUA, as autoridades garantem que a ausência da delegação russa não colocará em xeque o compromisso de implantar um regime de não proliferação nuclear.

Segundo fontes não identificadas, o obstáculo para a participação russa existe desde que um grupo de 35 países assinou a Declaração Conjunta sobre o Reforço de Implementação de Segurança Nuclear, na cúpula de 2014, que define a possibilidade de fornecer diretrizes por meio de recomendações à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

A iniciativa, segundo especialistas, é vista por Moscou como uma tentativa de influenciar a agenda não apenas da AIEA, mas também da ONU, da Interpol e da Iniciativa Global de Combate ao Terrorismo Nucelar, citadas no documento em questão.

As autoridades russas suspeitam que um grupo seleto de nações queira alocar estoques de materiais usados para produção de armas nucleares pertencentes a outros países sob a sua jurisdição “internacional”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo já havia detalhado, em novembro de 2015, as razões para a abstenção da Cúpula de Segurança Nuclear em Washington, dando ênfase aos regulamentos processuais que concederam privilégios para os países anfitriões de reuniões anteriores.

“Estes direitos excessivos teriam impedido que opiniões divergentes fossem levadas em conta na formulação das resoluções das cúpulas”, lê-se em um comunicado da pasta.

Apesar do anúncio, um funcionário da Casa Branca confirmou que a Rússia continua a trabalhar “de forma construtiva com os EUA” em projetos que visam a resgatar materiais nucleares provenientes de países terceiros. Uma das parcerias estabelecidas com os EUA é no repatriamento de urânio altamente enriquecido do Cazaquistão e da Polônia.

O governo russo contribuiu para a promoção das resoluções adotadas nas três cúpulas anteriores, realizadas em Washington (2010), Seul (2012) e Haia (2014).

Além da interação com os Estados Unidos, no âmbito da Iniciativa global de Combate ao Terrorismo Nuclear, o Kremlin mantém estreita parceria com a Agência Internacional de Energia Atômica. Em cinco anos, o número de países com material nuclear utilizável em armas caiu de 32 para 24.

Aniquilar ou reprocessar

Em declarações anteriores, as autoridades de Moscou atribuíram prioridade máxima à coordenação de esforços junto à AIEA e elogiaram as atividades de fiscalização da agência, que teriam sido essenciais para a condução do acordo nuclear com o Irã em 2015, após 12 anos de negociações.

Em entrevista ao “The New York Times”, o presidente norte-americano Barack Obama expressou surpresa pela atuação de Moscou nesse contexto, “dadas às fortes diferenças que estamos tendo com a Rússia agora em torno da Ucrânia”.

Obama admitiu ainda que “não teríamos alcançado este acordo [com o Irã], se não fosse pela disponibilidade da Rússia em ficar do nosso lado e dos outros membros do grupo de negociações P5+1, que insistiram em um acordo contundente”.

No âmbito do programa russo para retorno de combustível usado em reatores nucleares, foram realizadas mais de 60 operações de remoção em 14 países. No total, quase 2.160 quilos de urânio altamente enriquecido, fornecidos originalmente pela URSS, foram repatriados à Rússia. Dez dos catorze nações envolvidas no projeto não possuem mais estoques da substância.

A planta da Rosatom na região siberiana de Krasnoiarsk, antes especializada em plutônio para armas, lançou recentemente a produção de um combustível inovador para usinas nucleares com rápidos reatores de nêutrons. A usina usará o urânio e o plutônio regenerados após o reprocessamento do combustível nuclear.

Espera-se que essa tecnologia avançada ajude os russos a cumprir o seu compromisso de aniquilar, ou ainda melhor, reprocessar as 34 toneladas de plutônio classificadas como “excessivas”.

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