Crise geopolítica reaproxima Rússia e América Latina

Em videoconferência, Pútin e Kirchner deram pontapé inicial à transmissão do canal Russia Today em espanhol na Argentina

Em videoconferência, Pútin e Kirchner deram pontapé inicial à transmissão do canal Russia Today em espanhol na Argentina

Aleskêi Nikolski/TASS
Acordos e contatos diplomáticos ao longo do ano revelam os interesses do Kremlin na região e estabelecem nova dinâmica nas relações entre Rússia e América Latina.

Em um ano marcado por conflitos políticos e sanções envolvendo a Rússia, uma exposição no Ministério dos Negócios Estrangeiros russo dedicada ao estabelecimento de relações diplomáticas entre Moscou e diversos países da América Latina, como Argentina e Bolívia, por exemplo, evidencia a importância da região nas relações internacionais do Kremlin.

“No cenário internacional turbulento, o nosso compromisso comum com princípios de multilateralismo, respeito do direito internacional e coordenação central da ONU têm importância especial”, declarou o chanceler russo, Serguêi Lavrov, durante a abertura da mostra.

“A Rússia quer aprofundar as relações com os países da América Latina para aumentar ainda mais a estabilidade global e regional”, acrescentou Lavrov, antes de afirmar que a “distância não é uma barreira para uma cooperação com tamanho potencial”.

Brasil

Em julho de 2015, a presidente Dilma Rousseff participou da sétima cúpula do Brics, em Ufá, na encosta dos Urais. As relações entre os dois países são caracterizadas por analistas políticos como estratégicas e privilegiadas.

Além do comércio bilateral, Rússia e Brasil começaram a criar joint ventures e a desenvolver parcerias no setor industrial – construção de aviões, carros, mineração, metalurgia, produtos químicos e farmacêuticos. No entanto, os economistas russos garantem que os investimentos brasileiros no país continuam a ser muito específicos e quase não influenciam a economia local.

Dilma e Pútin Foto: Aleksêi Fillipov/RIA Nóvosti
Dilma e Pútin se reuniram durante cúpula do Brics, em Ufá Foto: Aleksêi Fillipov/RIA Nôvosti

Em novembro passado, a presidente do Conselho da Federação (Senado russo), Valentina Matvienko, visitou o Brasil para discutir a possibilidade de aumentar o volume de investimentos mútuos em meio às sanções econômicas dos EUA e da União Europeia contra a Rússia.

“A intensificação dos contatos entre a Rússia e os países latino-americanos mostra que essa região tem uma importância especial para o governo russo”, diz o diretor do Instituto da América Latina da Academia Russa de Ciências, Vladímir Davidov.

“Em 2015, a Rússia conseguiu assinar novos acordos com a região na área de energia e infraestrutura e aumentar a importação dos produtos latino-americanos no âmbito do programa de substituição de importações dos EUA e da UE”, acrescenta.

Argentina

Este ano, a Rússia celebrou o 130º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas com a Argentina. Em abril, durante a visita da ex-presidente argentina Cristina Kirchner a Moscou, os líderes do dois países assinaram mais de 20 acordos bilaterais, incluindo a Declaração Conjunta de Estabelecimento de Parceria Estratégica.

Entre as áreas de destaque estão tecnologias para usina hidrelétrica, extração de petróleo, transporte ferroviário, exploração da Antártica, espaço e uso pacífico de energia atômica.

Pútin e Kirchner Foto: RIA Novosti
Pútin e Kirchner fecharam mais de 20 acordos durante encontro em abril Foto: RIA Nôvosti

A segunda maior petrolífera russa, a Gazprom, por exemplo, assinou um memorando de cooperação com a argentina YPF, enquanto a empresa de energia atômica Rosatom fechou um acordo preliminar para o fornecimento do sexto reator nuclear Atucha, que permitirá atrair bilhões de dólares em investimentos.

Em outubro, durante uma videoconferência com Kirchner, Pútin ressaltou ainda que a base das relações com a Argentina permite desenvolver não só uma parceria estratégica, como reforçar os laços empresariais, culturais e humanistárias.

Bolívia

Pútin também se reuniu este ano com o presidente boliviano Evo Morales para discutir as relações no setor de gás. Durante o encontro, foi assinado um acordo para a participação da Gazprom da extração de gás natural nas jazidas Azero, Ipati e Aquio.

	Bolivian President Evo Morales, Venezuelan President Nicolas Maduro, Russia's President Vladimir Putin, Iranian President Mahmoud Ahmadinejad, Iraqi Prime Minister Nouri al-Maliki and other officials at the GECF in Moscow. Source: Reuters 
Da dir. à esq.: Evo Morales (Bolívia), Nicolás Maduro (Venezuela), Vladímir Pútin (Rússia), Mahmoud Ahmadinejad (Irã), Nouri al-Maliki (Iraque) e outros oficiais no Fórum de Países Exportadores de Gás, em Moscou Foto: Reuters

“A Gazprom não é a única empresa interessada em trabalhar na Bolívia”, declarou Pútin na ocasião. “Estamos interessados no aumento da cooperação também nos setores de alta tecnologia, eletricidade e engenharia mecânica, além da área técnico-militar.”

Morales apoiou a participação da Rosatom na construção de um centro de pesquisa nuclear na cidade El Alto, que participará do desenvolvimento da agricultura e recursos hídricos locais.

Peru

Durante a recente Conferência do Clima, realizada em Paris, Pútin e seu homólogo peruano, Ollanta Humala, concordaram em estabelecer uma parceria estratégica entre os dois países. “Queremos aumentar a qualidade das relações russo-peruanas ainda mais”, disse Pútin, ao declarar que o volume de negócios bilateral havia crescido duas vezes em 2015.

O presidente peruano Ollanta Humala e o presidente ruso Vladímir Pútin. Foto: ITAR-TASSEm reunião bilateral com líder peruano Ollanta Humala (esq.), Pútin demonstrou desejo de incrementar parceria Foto: ITAR-TASS

 

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