Apoio da Otan a Ancara é improvável, diz especialista

Para bloquear estreitos, Turquia  teria antes que declarar guerra.

Para bloquear estreitos, Turquia teria antes que declarar guerra.

Vassíli Batanov / RIA Nôvosti
Tentativas de bloqueio de estreitos no mar Negro preocupam governo russo, mas líderes da Otan já demonstraram que não haverá apoio da aliança. O Ministério da Defesa russo cortou a cooperação com as Forças Armadas da Turquia após o ataque ao Su-24 russo na fronteira com a Síria.

Apesar do clima de hostilidade entre a Rússia a Turquia, não há que temer a possibilidade de as autoridades turcas pedirem ajuda à Otan para implantar sistemas adicionais de defesa aérea ou algum apoio militar, acreditam os especialistas. Acredita-se, porém, que as tensões ainda vão aumentar.

“A última reunião de embaixadores da Otan, convocada por iniciativa da Turquia, negou apoio ao país e não houve sequer uma declaração geral, como é tradicional da aliança”, diz o presidente da Academia de Problemas Geopolíticos, o coronel-general Leonid Ivachov.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, “falou em seu próprio nome – o que significa que os membros europeus da Otan não têm intenção de correr para dar apoio à Turquia”, segundo Ivachov.

As relações entre a Rússia e a Turquia começaram a se deteriorar depois de o caça turco F-16 abater um bombardeiro russo Su-24, que teria supostamente atravessado a fronteira turco-síria.

No mesmo dia, o chefe de Operações do Estado-Maior, o tenente-general Serguêi Rudskoi, anunciou que os contatos com a Turquia no domínio militar seriam cortados.

A Turquia afastou o então representante da Marinha nacional que coordenava as ações da frota do mar Negro e cancelou a linha direta para exclusão de incidentes no ar durante operações antiterroristas.

Risco de bloqueios

Com a ruptura da cooperação com os militares turcos, a navegabilidade no mar Negro, ou mais precisamente nos estreitos de Bósforo e Dardanelos, tornou-se preocupante para a Rússia. Também estaria em risco o cumprimento da Convenção de Montreux, que define o regime desses estreitos.

O documento, assinado em julho de 1936 na cidade suíça de Montreux, teve um prazo inicial de 20 anos, que vem sendo renovado regular e automaticamente. A convenção limita, em tempos de paz, a passagem de embarcações militares de Estados não banhados pelo mar Negro.

A Turquia, que controla o cumprimento da convenção, pode autorizar ou proibir a passagem pelos estreitos de embarcações militares caso encontre-se em estado ou ameaça de guerra. Caso não participe da guerra, os estreitos permanecem fechados para a passagem de navios dos países beligerantes.

“Se a Turquia poderia bloquear o estreito para a Rússia? Em teoria, sim, mas para isso precisa declarar guerra, porque a Convenção de Montreux prevê que apenas em caso de declaração de guerra é que a Turquia pode bloqueá-lo”, afirma o tenente-general Evguêni Bujínski.

“As regras de navegação marítima através dos estreitos são regidas pela lei internacional – pela Convenção de Montreux – e nós aqui, evidentemente, estamos contando com a firmeza das regras de liberdade de navegação através deles”, declarou o porta-voz do presidente russo, Dmítri Peskov.

Cem anos e 100 milhões

A cooperação russo-turca tem uma história de quase um século. Nasceu em 1920, quando o fundador da República da Turquia, Mustafá Kemal Ataturk, pediu à então Rússia soviética para ajudá-lo a estabelecer relações diplomáticas.

Na época, apesar de estar superando as consequências da guerra civil, a Rússia destinou 10 milhões de rublos ouro à liderança turca e enviou armas, técnica e conselheiros militares ao país.

A Rússia pós-soviética reforçou os canais de interação com a Turquia a partir de 1992. O país recebeu armamento russo no valor de US$ 100 milhões, entre eles veículos anfíbios blindados BTR-80, helicópteros polivalentes, metralhadoras e fuzis de assalto Kalashnikov, além de rifles Dragunov e lançadores múltiplos de foguetes.

Desde então, especialistas russos continuam prestando manutenção a esses equipamentos. Os militares de ambos os países também realizavam consultas mútuas e exercícios conjuntos. O grupo naval ‘Blackseafor’, por exemplo, foi criado para conduzir operações de busca e de monitoramento da situação ambiental no mar Negro.

 

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