Inimigo comum pode aproximar

Em meados de novembro, presidente russo incumbiu forças aéreas de estabelecer contato com porta-aviões francês no país do Oriente Médio.

Em meados de novembro, presidente russo incumbiu forças aéreas de estabelecer contato com porta-aviões francês no país do Oriente Médio.

EPA/vostock-photo
País já concordou em se aliar à França na Síria, e há esperança de que discurso amaciado por parte dos Estados Unidos gere parceria.

O horror causado pelos ataques terroristas que deixaram 129 mortos em Paris em 13 de novembro, somado às explosões suicidas em Beirute e à queda de um avião comercial russo no Egito, jogou luz à necessidade de se estabelecer uma cooperação internacional para combater o terrorismo.

As relações entre a Rússia e os Estados Unidos e seus aliados têm se enfraquecido desde meados de 2014, quando a guerra civil se intensificou no leste da Ucrânia e a Rússia integrou a Crimeia a seu território, levando a sanções e embargos.

Ainda no mês passado, políticos russos e norte-americanos trocavam farpas sobre a luta contra o EI (Estado Islâmico) na Síria, com Moscou acusada de piorar a situação com seus bombardeios e afirmando que os grupos rebeldes eram terroristas.

Empatia

Mas o tom começou a mudar após a queda do voo russo que caiu no Sinai, matando todas as 224 pessoas a bordo.

O presidente norte-americano Barack Obama demonstrou empatia com o povo russo, e a Rússia pediu ao FBI que participasse das investigações sobre a queda.

Além disso, após os ataques em Paris, diplomatas norte-americanos e russos lideraram as 17 nações que se encontraram em Viena em 14 de novembro para acordar um plano de transição sírio.

“Os EUA e a Rússia poderão ampliar a cooperação se superarem diferenças na Síria”, disse Obama

Em uma clara indicação de que as coisas mudaram, Obama sentou-se com o presidente russo Vladímir Pútin em reunião paralela à cúpula do G20, na Turquia.

“Disse-lhe então que com a mudança estratégica sendo feita por eles - focando o processo de Viena, onde eles têm sido construtivos ao tentar unir todas as partes, tentando executar uma transição política com a qual todas as partes concordem, e focando novamente a atenção em enfrentar o EI - então há uma possibilidade enorme de cooperarmos”, declarou Obama na terça-feira (24).

Abertura russa

O próprio ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguêi Lavrov, disse diversas vezes que a Rússia está aberta a trabalhar com o Ocidente na luta contra o terrorismo.

“Para toda a comunidade internacional, o objetivo é aumentar a eficiência da luta contra o terrorismo e, ao mesmo tempo, buscar uma solução política para os problemas na Síria, no Iêmen e em outros países da região”, declarou em meados do mês.

Para o chefe do Centro de Estudos Estratégicos Leste-Oeste, Vladímir Sônikov, a possibilidade de se encontrar um ponto de convergência existe, principalmente porque a enxurrada de ataques recentes afetou uma ampla gama de pessoas.

“Sempre que há brechas na segurança, o perigo do terrorismo cresce. A resposta de muitos governos estrangeiros quando do ocorrido no Egito mostra que eles entendem isso. E esse tipo de coisa precisa ser tratada sem dar atenção a qualquer assunto espinhoso, como as diferenças entre Rússia e Estados Unidos ou Reino Unido em relação à crise ucraniana”, diz.

O pesquisador-chefe do instituto britânico Chatham House, Jane Kinninmon, concorda. “A cooperação é impulsionada a todo tempo pela percepção de que se tem um inimigo em comum. Foi assim quando o Ocidente se aliou aos islamistas contra a Rússia no Afeganistão na década de 1980, em um tempo em que o comunismo era visto como a principal ameaça”, explica.

Sem discórdia?

Mas criar uma aliança para derrotar o EI pode parecer mais fácil no papel que na realidade. Principalmente porque Rússia e Estados Unidos ainda discordam em muitos pontos sobre o futuro da Síria.

Na comunidade internacional, muitos veem a saída do presidente sírio Bashar al-Assad como condição primordial para seguir adiante.

A Rússia, pelo contrário, acredita que o governo de Assad seja o único elemento que pode evitar o fracasso da Síria como Estado.

Mesmo com as divergências, a Rússia já concordou em se aliar à França na luta contra o EI. Além disso, o presidente francês François Hollande esteve em Moscou na quinta-feira (26) para negociações com seu homólogo russo.

Os norte-americanos ainda não demonstram tanta força de vontade, mas estão chegando lá. “Acredito que haja a possibilidade de cooperação [com a Rússia]. Quanto antes acordarmos esse processo político, mais improvável será que ocorram eventos como os que aconteceram hoje”, disse Obama em encontro com Hollande na terça (24), quando um caça russo foi abatido na fronteira turco-síria.

 

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