Escalada de conflito no Donbass ameaça acordos de Minsk

Templo nos arredores do aeroporto de Donetsk ficou seriamente danificada durante hostilidades no sudeste da Ucrânia

Templo nos arredores do aeroporto de Donetsk ficou seriamente danificada durante hostilidades no sudeste da Ucrânia

Ria Nôvosti/Vera Kostamo
Aumento de ataques no leste da Ucrânia sugere ineficácia das negociações de paz. Embora seja cedo para enterrar os acordos de Minsk, especialistas reconhecem a complexidade da atual situação no Donbass.

Relatos de tensão e novos focos de combate no leste da Ucrânia inundaram os noticiários nos últimos dias. Ambas as partes do conflito se acusam mutuamente de violação do cessar fogo e de ataque a zonas residenciais.

Na noite de segunda-feira (10), houve confronto na linha de demarcação no povoado de Starognatovka. Três dias antes, o líder da autoproclamada República Popular de Donetsk (RPD), Aleksandr Zakhartchenko, anunciara a existência de “sinais de novos embates”.

Os representantes da RPD e da RPL (República Popular de Lugansk) alegam que os acordos de Minsk não estão sendo cumpridos e apelam para uma nova reunião dos países no formato do “quarteto da Normandia” (Alemanha, França, Rússia e Ucrânia).

Já as autoridades ucranianas acusam as milícias e Moscou de tentar interromper o processo de negociação, enquanto o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia instiga Kiev ao diálogo direto com Donetsk e Lugansk.

Apesar das queixas apresentadas pelas partes, ainda é cedo para se falar no abandono dos acordos de paz celebrados em Minsk, capital da Bielorrússia, em fevereiro passado.

“Os acordos de Minsk estão absolutamente vivos. Quando eles dizem que os acordos de Minsk não estão sendo cumpridos ou não são executáveis, esquecem de dizer o mais importante: que eles implicam, acima de tudo, em um cessar fogo”, disse à Gazeta Russa o presidente do conselho da fundação Centro de Tecnologias Políticas, Boris Makarenko.

“Apesar de os lados continuarem os disparos de tempos em tempos, [...] desde janeiro que não há notícias de operações de combate nem baixas humanas em grande escala. E isso é sinal que os acordos de Minsk estão funcionando.”

Os acordos de Minsk preveem a consolidação legislativa do estatuto especial de algumas regiões do leste da Ucrânia, a anistia por parte das autoridades ucranianas, a organização de eleições nas áreas não controladas por Kiev e a implementação de uma reforma constitucional para descentralizar o poder.

Jogo de interesses

Os observadores russos se dividem quanto às falhas do processo de paz. Para Makarenko, a falta de confiança entre as partes é o principal fator que impede a aplicação de todos os termos do acordo de Minsk.

“Cada uma das partes dos acordos de Minsk tem o que censurar, e com razão [no que diz respeito ao não cumprimento], a outra parte”, explicou o especialista.

Porém, Serguêi Mikheiev, cientista político e diretor-geral do Centro de Conjuntura Política, acredita que o governo de Kiev é culpado por bloquear a parte política dos acordos.

“Se [os acordos de Minsk] forem cumpridos à risca, o Donbass terá mesmo que ser integrado, só que não sob as condições dos radicais, mas nas condições de um compromisso sério e de reforma constitucional”, afirma o politólogo.

“Mas isso eles não querem, já que implicaria se deparar, no futuro, com uma outra Ucrânia”, acrescenta Mikheiev, ao destacar a suposta falta de comprometimento das autoridades locais.

Segundo Andrêi Suzdaltsev, vice-decano da faculdade de Economia e Política Globais da Escola Superior de Economia, Kiev simula um cumprimento político dos acordos para ter o que apresentar ao Ocidente.

“No entendimento de Kiev, o processo de Minsk é a capitulação do sudeste [da Ucrânia]. Eles se opõem à aplicação do último ponto dos acordos – a colocação de tropas ucranianas na fronteira ucraniano-russa”, diz.

O cientista político Vladímir Fessenko, que dirige o Centro Penta de Estudos Políticos, sugere que “a Rússia recorre a uma espécie de comutador, que ela gira para diminuir a tensão, como aconteceu em junho, ou que volta a aumentar o grau de instabilidade”.

“A tensão controlada é um dos fatores-chave que a Rússia utiliza para influenciar o processo de Minsk e, especialmente, os parceiros ocidentais”, afirma o especialista.

 

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